Chouveu indignação na mídia, tanto por parte de suas matérias editorializadas, como nos "achismos" de seus colunistas e na participação de leitores em fóruns na internet ou nas seções de cartas dos periódicos: como assim, as imagens não falam por si?, vociferavam. Afinal, diziam todos, elas eram muito reveladoras, contundentes; cenas de corrupção explícitas, do tipo que não deixavam dúvidas a quem tivesse olhos. Completavam: é o Lula fazendo pouco caso da corrupção, passando a mão na cabeça, falando em causa própria etc. etc. etc.
A resposta completa do presidente, no entanto, foi, por assim dizer, um pouco mais elaborada, como se pode ver em matéria do Blog do Planalto, na qual, aliás, há até o vídeo da entrevista. Para quem não consegue acessar, transcrevemos parte dela abaixo:
Jornalista: Presidente, como é que o senhor está acompanhando o escândalo envolvendo o governador Arruda, no Distrito Federal?
Presidente: Eu não estou acompanhando, eu não estou acompanhando, porque está na esfera da Polícia Federal. Se está na esfera da Polícia Federal, o Presidente da República não dá palpite. Espera a apuração, para depois falar alguma coisa. Vamos aguardar…
Jornalista: As imagens não falam por si ali, Presidente?
Presidente: Não, mas vamos aguardar. Imagem não fala por si. O que fala por si é todo o processo de apuração, todo o processo de investigação. Quando tiver toda a apuração, toda a investigação terminada, a Polícia Federal vai ter que apresentar um resultado final, um processo, aí anuncia. Aí você pode fazer juízo de valor. Mesmo assim, quem vai fazer juízo de valor final é a Justiça. O Presidente da República não pode ficar dando palpite, se é bom, se é ruim. Vamos aguardar a apuração.
Como se vê, a fala do presidente apenas defendeu o devido processo legal e o respeito às instituições encarregadas de cuidar do caso. Em resumo, o presidente nada mais disse do que o mínimo que se poderia esperar de um presidente da República no Estado Democrático de Direito. Aliás, tivesse Lula, assegurado pelas fortes imagens de corrupção da turminha do DEM, tripudiado sobre a sorte do velho José Roberto Arruda e provavelmente teríamos visto editoriais preocupados com o Estado petista repressor e juristas seriam chamados para dar pito no presidente falastrão, atropelador da harmonia dos poderes.
Já quando da prisão de Arruda, o presidente teria dito para assessores que considerara o evento "lamentável". Mais uma vez, a imprensa tentou descontextualizar a fala presidencial, como quem quisesse dizer que Lula estaria contemporizando com a situação que levou à prisão do governador do Distrito Federal. O jornalista Ricardo Noblat chegou a falar que o presidente estaria passando a mão na cabeça de corruptos.
É muito fácil perceber o que o presidente quis dizer ao lamentar a prisão de José Roberto Arruda. Diria até que todos deveríamos nos solidarizar com a desolação presidencial. Com efeito, é lamentável saber que, no Brasil, um governador de estado, até pouco tempo atrás a "estrela" de um dos principais partidos da oposição - pois era talvez a principal figura do DEM, ao lado do prefeito de São Paulo Gilberto Kassab - acaba atrás das grades. É de se lamentar que um homem cotado para ser vice de José Serra, virtual candidato da oposição para 2010, vá parar no xilindró. Ora, é impossível não lamentar a prisão de um político que, reiteradas vezes, apareceu em reportagens e colunas da grande imprensa como exemplo de homem público, grande administrador sério e austero. Digam-me: como não lamentar o fato de que um cara desses vá parar na prisão? Por falar nisso, onde está a lealdade dos antigos companheiros do DEM, do governador de São Paulo, dos editores da revista Veja? Pelo jeito, não são solidários nem no câncer...!
Um dado fundamental, esquecido por muitos de nós e, especialmente, por jornalistas como o já citado Noblat: Arruda não foi preso por conta da corrupção em si, mas porque poderia, em liberdade, atrapalhar as investigações.
Antes de atacar Lula por aquilo que ele não disse e não fez, talvez valesse mais a pena informar melhor os leitores.
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