terça-feira, 15 de julho de 2014

A Copa do Mundo de 2014 (em 2007!)

Encerrada a Copa do Mundo de 2014 com grande sucesso, reproduzimos texto nosso publicado em novembro de 2007 no inativo blog Veritas. Além de registro histórico, o texto de sete anos atrás serve também para mostrar que, a bem da verdade, o grande êxito na realização do famoso evento esportivo no Brasil está longe de ser surpreendente, ao menos para aqueles que o analisaram de forma desapaixonada. Segue abaixo: 

 04.11.07
 Brasil: país do futebol? 

O Brasil foi anunciado como sede da Copa do Mundo de 2014. Para o “país do futebol” não poderia haver notícia melhor, poderia? Pois é. Por incrível que pareça, a repercussão da decisão da FIFA foi marcada por grande apatia de uma boa parcela dos torcedores, e por uma saraivada de críticas aliada de mau agouro de outra. Dentre os que comemoraram, somente apareceram aqueles que já começam a vislumbrar uma maneira de se dar bem (entenda-se ganhar dinheiro) com o evento.
 É provável que a apatia tenha sido em decorrência do fato de o Brasil não ter tido concorrentes para sediar o primeiro mundial da década de 10 (será que é necessário lembrar que as décadas começam no ano 1?), o que a torna de certa forma compreensível. Mas e quanto aos que já saem por aí dizendo que vai dar tudo errado ou que o Brasil não tem condições nem capacidade de sediar encontro tão grandioso, o que dizer? É no mínimo estranho que os brasileiros gostem tanto de futebol a ponto de torcer por selecionados que pouco ou nada representam o país, a ponto de aceitar calendários extremamente mal planejados, a ponto de aceitar horários de jogos impostos por uma certa emissora de televisão, a ponto de vibrar com inexpressivos campeonatos regionais, mas que, ao mesmo tempo, se mostrem tão antipáticos ao anúncio de que, daqui a sete anos, o país vai sediar o maior encontro do futebol mundial. 
 É simplesmente inaceitável a alegação de que o país não tem estrutura, afinal essa pode ser justamente a grande oportunidade para se avançar nesse campo, pois a organização do evento exigirá o cumprimento de tarefas a que o país certamente se obrigou. É absurda também a tese de que a República Federativa do Brasil não poderia acolher o mundial de futebol porque tem sérios problemas sociais a resolver. Em primeiro lugar, o Brasil até que tem melhorado um pouco nesse campo, e há muita gente mundo afora (não no Brasil, bem entendido) que vê o país como “a bola da vez”, uma nação preparada a dar um salto de qualidade, desde que aproveite as oportunidades que lhe aparecem. Ademais, se algum tipo de problema social for fator impeditivo de se realizar uma Copa do Mundo, a festa teria muita dificuldade de encontrar um anfitrião, e se o encontrasse, enfrentaria o drama de ter sempre que se realizar em países de pouca tradição no – e/ou de pouco entusiasmo pelo – futebol. 
 A outra preocupação – e essa é a mais razoável – é com a questão da corrupção dos responsáveis pela organização. É bem provável que o simples fato de tal hipótese já vir sendo aventada pelos quatro cantos deva fazer as autoridades ficarem "de olho" e os responsáveis redobrarem seus cuidados; além disso, o argumento contrário à objeção anterior também vale aqui: se a FIFA começar a levar tal assunto a sério, certamente terá que acabar com a realização de tal tipo de encontro! 
 Mas a grande verdade é que a questão não é meramente esportiva, mas também – senão principalmente – política. Muitos vêem no anúncio da FIFA uma espécie de vitória do governo Lula ou mais uma demonstração de um respeito internacional de que o país jamais gozou em administrações anteriores, e, obviamente, isso desagrada aqueles que lhe fazem oposição ou que, na melhor tradição futebolística, torcem para que o país seja um eterno derrotado. Desnecessário dizer que isso é uma grande bobagem: o Brasil indo bem, todo povo, evidentemente, vai bem; e se há alguma coisa positiva no ar, algo benfazejo para a auto-estima da nação, por que não aproveitar? 
 Pois que venha a Copa de 2014 e, com ela, medidas que tragam, de uma forma ou outra, melhorias permanentes para toda a população. E que na abertura, ao contrário da do PAN do Rio, a platéia não receba com vaias a presidente Dilma. Ou o presidente Ciro. Ou o presidente Aécio. Ou...!

Nenhum comentário: