quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Eu só quero é ser feliz

Não é raro se associar o capitalismo com a ideia de felicidade. Nenhum outro sistema político-econômico, dizem seus apologetas, seria capaz de permitir que fôssemos tão felizes.

Afirma-se que mais feliz se é quanto mais se pode consumir, sem preocupações e sem culpa, os mais variados produtos e serviços oferecidos por nosso maravilhoso mundo capitalista.

Com efeito, parece mesmo que o caráter aparentemente inabalável do sistema capitalista - do ponto de vista ideológico, que fique bem claro -, deve-se em grande medida ao atributo da felicidade.

Por outro lado, causa espanto que, numa cultura dessas, vejam-se grandes corporações, evidentemente fiéis escudeiras do modelo capitalista, pouco ou nada se empenharem para assegurar que o consumo dos bens e serviços que oferecem sejam de fato uma indiscutível fonte de felicidade para as pessoas.

O caríssimo leitor, se ainda não passou, certamente já viu algum amigo ou parente enfrentar maus bocados com produtos novinhos em folha que simplesmente param de funcionar, ficando horas pendurado no telefone aguardando atendimento, tendo que se sujeitar a esperar às vezes por meses pelos reparos a que estão obrigados os serviços de garantia.

Ora, sob o capitalismo praticamente tudo se transforma em mercadoria, tanto que não por acaso o velho Marx inicia o seu O Capital justamente com a análise da mercadoria. Desse modo, como explicar tanto descaso com os consumidores, deixando que eles, pelo menos por alguns instantes, sejam menos felizes, por culpa das mercadorias que adquirem, as quais, aliás, seriam o motivo maior de sua felicidade?

A resposta só pode vir do trabalho para lá de bem feito da chamada ideologia burguesa. As empresas estão certas de que muitos poucos - número insignificante na verdade - veem alguma saída fora do sistema. Falando de forma bem simples e direta, a lavagem cerebral é tão perfeita, que ninguém se indispõe com o sistema a ponto de recusar consumir seus produtos - ou pelo menos passar a adquiri-los com menos sofreguidão -, mesmo após sofrer humilhações e curtir horas de nervosismo que lhe são (desnecessariamente) impostas por obra justamente da aquisição de bens e serviços que aqueles mesmos caras lhe oferecem. Fazer o que, se o sistema é eterno e indestrutível?

O serviço sujo da ideologia seria deveras mais simples se o cuidado com a nossa felicidade - que só pode ser fornecida pelo capitalismo, como afirmam seus cultores - fosse praticado de forma quase obsessiva pelos "donos" do sistema e seus prepostos. É ou não é?

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