Ao contrário do que sugere o senso comum, o pior problema dos políticos não está nas inúmeras mentiras que dizem, mas nas poucas verdades que de quando em vez deixam escapar. Foi o que se viu em São Paulo nos últimos dias. Por conta da chuva que castigou a maior cidade do país no dia 08-09-2009, paralisando toda a capital, o prefeito Gilberto Kassab correu a culpar o povo "mal-educado" pela sujeira das ruas, a qual inexoravelmente entope os bueiros e acaba indo parar no leito dos rios; além disso, Kassab não facilitou para os seus antecessores, denunciando os 50 anos de erros no planejamento da metrópole.
Ao menos em parte, não dá para dizer que o alcaide não tenha seu quinhão de razão. Porém, como prefeito há mais de três anos, Kassab já deveria ter aprendido que deve administrar a cidade de forma incondicional, mesmo que o povo não tenha a educação e a civilidade dos sonhos dele. Afora isso, parece que a prefeitura não vinha, nos últimos tempos, fazendo a sua parte nos cuidados com a limpeza urbana. Descuidando do serviço público de coleta de lixo e de varrição, a tendência é enfrentar revezes na hora em que a natureza dá as suas costumeiras rebeladas, e, nesse caso, sem a devida contrapartida do setor público, nada adiantaria o paulistano ser o cidadão mais consciente, educado e "limpinho" do mundo.
No que se refere aos erros políticos dos prefeitos paulistanos das últimas cinco décadas, acreditamos que o atual mandatário modestamente esteja incluindo a si mesmo - e também ao seu padrinho José Serra - pelos descalabros cometidos. Além de verdade, haveria também um pouco de nobreza na atitude. Pena que o seu partido, o DEM (ex-PFL), e o seu aliado PSDB, aliados à mídia paulistana, nunca tenham sido igualmente generosos e tolerantes com a administração de Marta Suplicy, que a cada chuva que caía era prontamente considerada culpada pelos estragos provocados, sem direito de evocar qualquer tipo de "herança maldita". E, é evidente, a ex-prefeita, se acusasse os que lhe antecederam, não estaria se apoiando em nenhuma inverdade. De qualquer forma, de nada valeria chorar.
Ainda que seja somente da boca para fora, de maneira geral há um respeito tão obsequioso pela verdade, que ela acaba sendo tomada como um valor universal, mais ou menos nos moldes do imperativo categórico kantiano. Dessa forma, nossa tendência seria a de logo simpatizar com o prefeito que fala duras verdades na hora em que é pego numa situação tensa e difícil. Nada a se opor ao compromisso de Kassab com as verdades indigestas. Todavia, elas não podem servir como desculpa para esquivar-se das responsabilidades. Bem resumidamente, o descuido e desrespeito do cidadão para com o espaço público contribuem, sim, para as enchentes e, consequentemente, para as desgraças que lhe vêm a reboque; e, com efeito, também pagamos caríssimo hoje por uma concepção de cidade que apenas se preocupava (preocupa) com o hoje, sem plano de futuro ou de longo prazo. Pontos pacíficos, pois.
Porém - paciência -, Kassab é o atual prefeito. Em vez de reclamar do povo e dos que o antecederam, poderia no mínimo fazer sua parte, cuidando da questão do lixo nas ruas, e trabalhar com planejamento para deixar um legado melhor para o seu sucessor. Já deveria ter começado, mas, de todo modo, Até 2012 há bastante tempo para fazer alguma coisa. Isto é, se ele não sair como candidato a governador no ano que vem. Há boatos rolando...
Não é sobre liberdade (e eles sabem disso)
Há 5 semanas
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