O filósofo australiano Peter Singer, no outrora aqui mencionado Ética prática (São Paulo: Martins Fontes, 2002, 3ª ed.), evoca colegas como John Rawls (1921-2002), que viam a base da ética na abstenção de se fazer coisas más aos outros, desde que também não nos façam nada de mau, não se justificando, pois, que eu observe tal tipo de conduta em relação àqueles que são incapazes de apreciar minha atitude. Segundo Singer, é o que se usa para tentar justificar a matança de animais com fins gastronômicos, pois tais seres não teriam condições de nos responder com reciprocidade, caso os respeitássemos a ponto de não lhes tirar a vida meramente para o nosso prazer à mesa. Mas este está longe de ser o único problema presente no fato de se enxergar na ética um modelo do tipo contratual.
Entre inúmeros exemplos de falhas no modelo contratual de ética - os quais bem podemos tratar noutras postagens -, o filósofo australiano destaca o seu impacto sobre a nossa atitude diante das futuras gerações. “Por que devo fazer alguma coisa para a posteridade? O que a posteridade fez para mim?”, são indagações imaginadas por Singer, que ainda expõe outra crítica ao modelo:
Os que vão estar vivos no ano 2100 não têm como tornar as nossas vidas melhores ou piores. Portanto, se as obrigações só existem onde pode haver reciprocidade, não precisamos nos preocupar com os problemas como o manejo do lixo nuclear. É verdade que uma parte do lixo nuclear continuará sendo mortal durante duzentos e cinquenta mil anos, mas deste que o coloquemos em contêineres que o mantenham longe de nós por cem anos, teremos feito tudo o que a ética exige de nós. (p. 91)
Eis como se resume o drama. Por mais que se fale e se discuta sobre o meio ambiente, não se encontrarão pessoas realmente dispostas a fazer sacrifícios hoje, pensando no amanhã dos filhos e netos. Ainda mais que vivemos numa época do mais radical individualismo e imediatismo. O pior de tudo ainda reside no fato de que a questão ecológica está fortemente ligada à crise estrutural do capitalismo, sendo necessário, para enfrentá-la de verdade, abdicar do consumo irrefreado, de suposto conforto, das maravilhas da modernidade etc. Caiamos na real: muitos poucos querem pagar esse preço agora; quase ninguém teria coragem de firmar acordos nesse sentido hoje. “Que se dane o clima!”.
Políticos vivem de resultados no curto prazo; e as pessoas comuns raramente se importam com o “dia de amanhã”. Dessa perspectiva, as cartas de intenções apresentadas em conferências internacionais são meras palavras ao vento. O futuro nos julgará. Ora, mas quem liga para o futuro?!
Um comentário:
Caro iendiS,
Desejo a você um Natal repleto de alegria, saúde, paz e, sobretudo, muito jazz.
Um Feliz 2010, cheio de felicidade, sucesso e realizações!
Postar um comentário