Desde 1994, quando da primeira candidatura de Fernando Henrique Cardoso a presidente, o DEM (ex-PFL) é o parceiro preferencial do PSDB. Estiveram juntos nos dois mandatos de FHC e, até hoje em dia, caminham afinados na oposição ao governo Lula, além de permanecerem aliados em diversos estados e municípios.
Para as eleições presidenciais de 2010, a união entre os dois partidos já vinha sendo tomada como certa. O DEM se apresentava como a noiva controladora e que gosta de impor limites. Nem se discutia quanto ao líder da relação, que é, indubitavelmente, o PSDB. Todavia, importantes quadros democratas, dentre eles o deputado Rodrigo Maia e o senador José Agripino Maia, cobravam uma definição urgente por parte dos tucanos, indecisos quanto à candidatura do governador de São Paulo, José Serra, ou de Aécio Neves, governador de Minas Gerais.
Aécio defendia publicamente que o partido lançasse logo o candidato; José Serra não queria que a escolha ocorresse antes de março de 2010. É, portanto, difícil acreditar que o posicionamento dos democratas, firmes na exigência pela definição tucana, não fosse um aceno aos propósitos do governador mineiro, que claramente colocava sua candidatura à disposição, com sinalização mais forte de que estava preparado a assumir a briga. De sua parte, José Serra, mais “tucanamente”, vem, esse tempo todo, passando a imagem de que pode, na hora “h”, desistir da empreitada.
Eis que a noiva, toda certinha, é pega aprontando das suas. Nessa hora, o noivo, que até então vivia acabrunhado, sente que é a hora de dar o troco, deixando claro que o casamento só sai se – ou na hora em - que ele quiser. As cenas de corrupção explícita do DEM fizeram o partido baixar a bola, e Serra passou a dar as cartas. Já Aécio, cujo maior trunfo era a sua oferta de garantia da solidez da aliança demotucana, preocupado que está com seu futuro político, resolveu largar o barco, informando que disputará uma cadeira no Senado Federal por seu estado. Ou seja, Arruda e sua gangue deixaram o governador de Minas sem a claque para reverberar, na mídia, seu posicionamento, o qual era desafiador ao todo-poderoso governador de São Paulo.
A saída de Aécio obriga o governador Serra a tomar logo uma decisão, até porque a principal adversária, a ministra Dilma Rousseff, do PT, não esconde de ninguém o jeitão de candidata em 2010; o mineiro, esperto, deixou uma porta aberta para voltar atrás, caso o partido precise, na última hora, de um candidato a presidente; não se descarta, por fim, a possibilidade – ainda que remota - de uma chapa puro-sangue, com os dois governadores tucanos. São muitas as conjeturas do para lá de indefinido quadro tucano.
Num primeiro momento, a maior vítima do chamado DEMsalão é, sem dúvida, Aécio Neves, que vinha ganhando musculatura na sua briga interna com Serra, justamente por conta de sua capacidade agregadora, em clara oposição ao estilo truculento e concentrador de seu oponente e de resto de todo o grupo paulista que comanda o PSDB. Havia até mesmo, nos bastidores da disputa interna, um pouco da luta contra o chamado paulicentrismo, fantasma que ronda, silenciosamente, a política brasileira. A posição do mineiro ficou tão complicada que chega a ser suspeita toda essa exposição das entranhas do DEM.
Reconhecer o segundo plano a que já estava relegada a candidatura de Aécio Neves, mesmo antes de sua desistência, não é o mesmo que acreditar que ele estaria obrigado a aceitar qualquer imposição de seu partido - se é que o partido, principalmente por parte de seus caciques de São Paulo, está em condições de lhe impor alguma coisa. Noutras palavras, a pequena derrota do governador mineiro não seria suficiente para deixá-lo de joelhos, a ponto de aceitar ser vice do governador de São Paulo, ainda mais depois de ter feito amiúde discursos contra a centralidade da política paulista em nível nacional. Ao contrário, há quem veja em sua desistência um golpe contra o grupo de Serra, que terá que ir, de uma vez por todas, para o tudo ou nada.
Não é sobre liberdade (e eles sabem disso)
Há 5 semanas
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