Os que passeiam pela Avenida Paulista já devem ter parado por alguns segundos na calçada, enquanto aguardam veículos entrarem em estacionamentos ou saírem deles. Isso mesmo: os transeuntes param, com toda a boa vontade do mundo, para que os carros transitem, sem qualquer cerimônia, naquele que deveria ser, por excelência, espaço exclusivo do pedestre. É a típica experiência que os que lá caminham certamente já vivenciaram.
Os mais atentos talvez já tenham observado, na mesma Paulista, outra excrescência, só possível mesmo em São Paulo: os veículos saem dos estacionamentos, quase atropelando os pedestres na calçada, para, finalmente, pegar o leito carroçável; para tanto, é necessário que os motoristas tenham a mesma solicitude que os pedestres têm na saída dos estacionamentos, certo? E não é que os motoristas dos carros "de passeio" simplesmente não dão vez? Pode observar, caro leitor: em geral, quem dá a oportunidade para que o veículo atinja o asfalto são os motoristas de ônibus. Isso mesmo, meu caro integrante do MSC (movimento dos sem-carro)! Aquele mesmo motorista de ônibus que às vezes não para quando você dá sinal, ou que se recusa a parar meio metro fora do ponto, ou que não para onde vossa senhoria deseja descer... Este mesmo motorista, quando se trata de dar a vez para automóveis egressos de estacionamentos na Avenida Paulista, é o primeiro a demonstrar-se generoso, solícito e simpático.
Nada a estranhar, infelizmente. Mais uma vez, forçoso é repetir, é típico de São Paulo. Em dose cavalar, o que se tem nestes casos é a priorização do individual sobre o coletivo. A calçada - de algum modo democrática -, em vez de espaço do cidadão, que não pode se atrever a tomar o asfalto, vira ponto de passagem de automóveis que carregam, não raro, um único indivíduo dentro. E os ônibus - o "transporte coletivo" por definição -, certamente por decisão unilateral de seu motorista, faz pouco caso das dezenas de pessoas que carregam, para beneficiar o solitário ocupante de carros de todos os tipos, modelos, anos e preços.
Ah, antes que me perguntem, vou avisando que já vi alguns pouquíssimos motoristas dos carros particulares agradecendo aos condutores de ônibus pela cordialidade; aos pedestres, nunca.
Não é sobre liberdade (e eles sabem disso)
Há 5 semanas
2 comentários:
A educação dos motoristas de ônibus tem uma razão bem simples (ecônomica, claro): num acidente, por mais banal que seja, é a carreira (e o emprego) deles fica em jogo. Uma batidinha, por mais idiota que seja, tem que fazer BO, atrasa a viagem e ainda abre precedente na "firma". Melhor dar passagem, porque tem carro de passeio que não tá nem aí e entra mesmo.
Agora, eu acho elogiável a educação dos pedestres! E INDESCULPÁVEL a dos motoristas que não agradecem!
Pois é, Vivi. Só que não se vê nenhum motorista preocupado com sua carreira e com seus antecedentes, quando desrespeita e maltrata o seu principal cliente, a saber, justamente o passageiro. Não nos esqueçamos de que existe o 156, número no qual o usuário pode denunciar eventuais descasos, nem olvidemos o fato de que há na Justiça inúmeras ações contra as empresas de ônibus e seus motoristas por acidentes sofridos dentro dos veículos, não raro, pelo fato de os condutores mostrarem menos apreço por seus passageiros do que aquele que mostra pelos motoristas que querem adentrar a Av. Paulista.
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