Na quarta-feira, 17 de março de 2010, Morreu em Nova Orleans o cantor, compositor, guitarrista e tecladista Alex Chilton. Ele tinha 59 anos e a causa da morte não foi confirmada - especula-se ataque cardíaco.
No final da adolescência, integrou o grupo Box Tops, de relativo sucesso internacional, lembrado pelo hit "The Letter", de 1967. A banda até hoje é admirada, sendo considerada um dos maiores expoentes do blue-eyed soul e do mod, gêneros que destacam garotos brancos arriscando-se a atuar como artistas do soul e do rhythm'n'blues. Como praxe da época, o grupo se metia a fazer releituras de temas de Bobby Womack, Burt Bacharach, B.B. King etc.
Com o fim dos Box Tops, Chilton, em 1971, passa a integrar o Big Star. Na década de 1970, a banda lançaria três ábuns, não raro incluídos entre os melhores discos de rock de todos os tempos. Nos dois primeiros, #1 Record e Radio City, respectivamente de 1972 e 1974, é latente a influência do rock sessentista, notadamente Beatles, Kinks, Byrds e Who, todavia com cara própria, sem, em nenhum momento, soar como mera cópia dessas fundamentais bandas. Em 3rd, também conhecido como Sister Lovers, lançado em 1978, ainda que estivessem presentes as mesmas influências, há, em sua concepção, um toque mais sombrio, depressivo e melancólico (características que, de resto, já estavam timidamente presentes no primeiro álbum). Não é de se estranhar a tristeza de 3rd/Sister Lovers, pois a forma como o disco veio ao mundo e a maneira como foi lançado são reflexos da sujeira do show business e, especialmente, da indústria fonográfica, o que se refletiu, por óbvio, na maneira de compor e de gravar do grupo. Na opinião do crítico Rick Clark, nas notas da reedição de 3rd, em 1992, a forma como os dramas pessoais e profissionais influenciaram a produção do disco, faz dele irmão de Tonight's the Night, de Neil Young, gravado em 1975 também sob situação de contratempos artísticos e de dificuldades na vida pessoal. Não por acaso, os dois álbuns entraram na famosa lista da New Musical Express dedicada aos trinta discos mais tristes da história - o do Big Star está em primeiro lugar e o de Neil Young, em 14º.
Quem hoje escuta os extraordinários três discos de Big Star supracitados têm dificuldade de entender como uma banda dessas pode ter sido relegada ao ostracismo e não ter conseguido o apoio e empenho das suas distribuidoras. Todavia, como não poderia deixar de ser, graças à inexorabilidade do tempo, o Big Star acabaria sendo motivo de culto mundo afora, principalmente por parte de bandas das décadas de 1980 e 1990.
É longa a lista de grupos que fizeram uma nova geração querer conhecer a saga de Alex Chilton e de seu Big Star: Replacements, R.E.M., Mercury Rev, Teenage Fanclub etc. Em 1993, o esquecido Big Star viria a comer um prato frio, voltando a se reunir, sob a liderança de Chilton, é claro, lançando discos ao vivo e de estúdio. Desnecessário dizer que sem o mesmo punch e sem a mesma mística.
Uma boa homenagem a Alex Chilton tem que vir com música de sua lavra. Ouviremos Big Star em dois momentos: primeiramente, do álbum Radio City (1974), a faixa "O My Soul"; em seguida, de 3rd (1978), o clássico "Kangaroo". A música vem acompanhada de imagens: as duas capas de Radio City e a capa da reedição em CD de 3rd/Sister Lovers, lançada em 1992; destaque também para foto do grupo Big Star, em 1971, sendo Chilton o único que está de pé, e foto do nosso homenageado sozinho, em estúdio no ano de 1973. As imagens são cortesia do engenheiro de som John Fry, figura importante na elaboração dos magníficos discos lançados pelo Big Star na década de 1970. Divirta-se!
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