Colamos abaixo texto originalmente publicado no site Rate Your Music. Trata-se de resenha do álbum Eu e a Brisa, de 1967, que é praticamente uma reedição do disco homônimo de dois anos, produzido por José Briamonte.
Eu e a Brisa
Há historiadores que afirmam que o carioca Johnny Alf é o verdadeiro pai da Bossa Nova: na primeira metade da década de 1950, no Rio de Janeiro, ele gravara um compacto para o selo Odeon, que antecipava em pelo menos três anos a suavidade sincopada que seria a marca registrada de João Gilberto.
Eu e a Brisa tem algo mais do que aquilo que chamamos de Bossa Nova: há os seus desdobramentos conhecidos por ‘samba jazz’ ou ‘bossa jazz’; há ainda algo muito sutil de samba-canção, algo de um jazz mais puro, além de canções que poderíamos chamar genericamente de ‘românticas’.
O melhor do romantismo puro fica por conta das interpretações apaixonadas da faixa-título (composição dele), “Imenso do Amor” (Durval Ferreira e Humberto Pires) e “Eu Quis Fugir dos Teus Olhos” (dele e Laércio Vieira); a pura bossa se faz presente no recorte do solo instrumental de “Se Eu te Disser” (também dele), em “Canção pra Disfarçar” e “Gismi” (ambas dele em parceria com José Briamonte, arranjador do disco) e ainda em “Tudo que é Preciso” (Durval Ferreira e Pedro Camargo); “Céu Alegre” (dele), “Quase Tudo Igual” (dele e Ari Francisco) e “Eu Só Sei” (de Armando Cavalcanti e Victor Freire) servem de veículo para Alf dar uma de crooner de jazz, soltando a voz como se fosse um, digamos, Mel Tormé, guardadas as devidas proporções, até porque a voz de Alf é um tanto pequena; mas o melhor mesmo está no samba jazz “Bossa Só”, composição de Alf que é praticamente um manifesto em defesa do gênero em oposição ao ‘esnobismo’ da música erudita, o que é bastante curioso, tendo em vista o alentado caráter elitista de que a bossa e os gêneros correlatos eram acusados.
Há uma história, que ainda não pude checar a contento, que dá conta de que este álbum em verdade foi lançado em 1965, como um lançamento sem título, sem a presença da música “Eu e a Brisa”. Posteriormente, o disco foi reeditado com a inclusão desta faixa, a qual intitulou o relançamento e, de quebra, provocou a alteração da capa, a qual anteriormente não ostentava nada escrito, tendo apenas a magnífica foto tirada por Roberto Corte Real na famosa Rua Cardeal Arco Verde, na boêmia Vila Madalena, logradouro paulistano que hoje está muito, mas muito modificado!
Johnny Alf ainda se apresenta na noite, sobretudo em São Paulo, e dizem que ele é por demais simpático e acessível. Quem sabe qualquer hora dessas não dá para perguntar diretamente a ele sobre a verdade deste maravilhoso Eu e a Brisa!
P.S. A voz se calou em 04.03.2010. Se você teve tempo de confirmar a história com ele, por favor, conte-nos.
Ouça abaixo a faixa "Bossa Só", composição do próprio Johnny Alf, do álbum resenhado.
2 comentários:
Calou-se a voz macia e tranqüila do Rapaz de Bem.
Silenciou o piano elegante e cheio de dissonâncias.
Pouca gente parou para ouvir esse silêncio e para quase ninguém o vazio de sua ausência tem algum significado.
O Brasil não está merecendo Genialf, meu caro Sidney!
Grande perda e, conforme você apontou, tristes as condições que se foi o injustamente esquecido "Genialf". Belo trocadilho!
Grande abraço!
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