sábado, 4 de agosto de 2012

"Mensalãodependentes"

O leitor decerto deve estar de saco cheio da cobertura, dos comentários e das análises sobre a ação penal 470 do STF, dito "mensalão". Por isso, este blog procurará ser bem breve sobre o assunto.

Vê-se na imprensa e ouve-se da boca dos luminares da oposição um discurso que pretende transformar o famoso caso que marcou o primeiro mandato de Lula no maior escândalo político da história do Brasil, no principal caso de corrupção do País, numa espécie de paradigma da devassidão petista.

Análises mais frias, no entanto, inclusive de gente que está longe de ser simpatizante do Partido dos Trabalhadores, dão conta de que um julgamento eminentemente técnico da causa - como deve ser - tem tudo para afastar os principais pontos da denúncia da Procuradoria-Geral da República.

Com efeito, paga mensal de parlamentares para votar com o governo, a justificar o nome "mensalão", é acusação que não se sustenta, por motivos já expostos em blogs "sujos" e mesmo em órgãos da imprensa "limpinha". O próprio Roberto Jefferson, aliás, numa de suas inúmeras intervenções recentes já admitiu ter simplesmente apelado para um recurso retórico, com o uso do famigerado vocábulo.

O uso de dinheiro público é outro aspecto grave e fundamental da denúncia que parece, também, não estar devidamente comprovado no procedimento instrutório da ação, embora a grande imprensa, fingindo-se de desentendida, omita esse e outros detalhes.

Por que oposição e mídia, a despeito da aparente fragilidade do processo, deposita tantas esperanças no julgamento?

Em primeiro lugar, acreditam na politização pura da decisão do STF, afinal aquela é uma Corte política, como dizem. Só há um problema com tal esperança: a ação penal 470 é um processo originário do STF, estando o Supremo, neste caso, agindo como uma corte criminal, portanto sem todo aquele peso político de que, principalmente em tempos recentes, se revestem as principais decisões da Corte.

Em segundo lugar, e mais importante, mídia e oposição são o que chamaremos de "mensalãodependentes", isto basicamente por dois motivos: o principal deles é a falta de projeto alternativo para o País seguido de  clara sensação de perda do bonde da história; o segundo porque, a despeito do massacre contra o governo do PT no campo ético - a única seara que restou à oposição -, a realidade é que, com a publicação do livro "Privataria Tucana" e o surgimento dos escândalos envolvendo Demóstenes e Perillo, o jogo começou a virar, deixando-os sem bandeira nas fileiras moralistas.

A esperança da oposição é que o risco de minguar ainda mais nas eleições municipais deste 2012 seja obstado pelo bombardeio em cima do superjulgamento do mensalão no STF, fazendo que sua superexposição traga prejuízos imediatos ao PT e a seus planos nas cidades em que concorre.

A mídia e a oposição não param por aí. Com um pouco mais de pretensão, a obsessão com o mensalão traz um sonho mais de longo prazo: a de que um resultado desfavorável ao PT e aliados, no julgamento, seja "comprado" pela opinião pública como um escândalo capaz de macular toda a era Lula.

Coisas como o vício, a mania e a dependência química, física e psicológica, como não poderia deixar de ser, são vistas como doença e, evidentemente, como algo bastante negativo. Mas a "mensalãodependência" não deve, a princípio, ser entendida como um quadro patológico a inspirar cuidados. De forma solidária e compreensiva, devemos pensar apenas o que seria da oposição e de sua mídia não fosse o apego ao mensalão como tábua de salvação.

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