Não são raros os casos de artistas musicais que ostentam o mesmo nome. Raros, porém, são os casos em que isso chega a provocar muita confusão. Os bons ouvintes dificilmente se confundem, pois, a despeito do nome idêntico, um vem dos anos 1960, enquanto o outro pertence à década de 1980; se um provém da Nova Zelândia, o outro, da Argentina; se um é muito famoso, o outro é quase desconhecido. Um exemplo: no boom do rock nacional dos anos 1980, o crítico Kid Vinil liderou, no Brasil, um grupo chamado Magazine, o mesmo nome de uma banda inglesa importante da cena pós-punk. É difícil imaginar que algum incauto tenha levado para casa um disco do grupo paulistano quando queria, em realidade, ter adquirido uma bolacha da banda de Manchester.
Por outro lado, pode haver certo problema quando artistas homônimos pertencem ao mesmo gênero, são igualmente cantores e compositores e, ainda por cima, tocam, de maneira exímia, o mesmo instrumento. Foi o que ocorreu no mundo do blues com o(s) gaitista(s) Sonny Boy Williamson. Qual deles? Ora, os dois.
Os iniciados dão números a ambos, de modo a diferenciá-los: há o Sonny Boy Williamson I e o Sonny Boy Williamson II. O primeiro deles era mais jovem e morreu mais cedo. Seu nome verdadeiro é John Lee Williamson, nasceu em 1914 e faleceu em 1948. Apesar de ser o primeiro, é provavelmente o menos famoso. Quando você ouvir alguém falar de Sonny Boy Williamson, pura e simplesmente, é bem possível que esteja se referindo ao Sonny Boy II.
Alex Ford "Rice" Miller, o Sonny Boy Williamson II, nasceu em 1899 e morreu em 1965. Entrou no mundo da música já depois dos 40 anos, após, portanto, do seu homônimo mais jovem. Diferentemente do estilo folk do primeiro, este Sonny Boy é adepto do blues mais moderno, elétrico e urbano.
O primeiro dos gaitistas, como toda boa lenda do blues, teve suas músicas gravadas por blueseiros também legendários, como Junior Wells, Muddy Waters, Johnny Winter e outros; o segundo, até pelo seu punch mais roqueiro, foi homenageado por New York Dolls e Alman Brothers Band e chegou a gravar com os Animals e os Yardbirds.
No Brasil, há uma ótima coletânea de Sonny Boy Williamson I, lançada pela Sony-BMG, com o título Blue Bird Blues, destacando 24 gravações cometidas entre 1937 e 1947, além de belo encarte com texto, fotos e curiosidades.
Já de Sonny Boy Williamson II, com um pouco de sorte talvez ainda se encontre em sebos uma coletânea lançada na década de 1990 pela Movieplay chamada Don’t Start Me To Talkin’, com 20 faixas para o selo Chess no período 1955-1961. Vale a procura.
Ouçamos abaixo os dois Sonny Boy Williamson. Primeiramente, o John Lee Williamson, o "I", com “Good Morning, School Girl”, gravada no Leland Hotel, em Aurora, Illinois, no dia 5 de maio de 1937.
Em seguida, o Alex "Rice" Miller, o "II", com “Don’t Start Me To Talkin’”, gravação realizada em Chicago, no dia 12 de agosto de 1955.
As fotos que ilustram os clipes pertencem a Showtime Archives e a Michael Occhs Archives, respectivamente.
Não é sobre liberdade (e eles sabem disso)
Há 5 semanas
2 comentários:
Parabens pela materia! Muito boa... e eu prefiro o II!
Obrigado, Nicolas. Eu gosto muitíssimo dos dois, mas acho que prefiro o II também.
Abraço!
Postar um comentário