Em comentários no mês de agosto e setembro de 2011, Lucia Hippolito, colunista da CBN, qualificou a cidade de São Paulo como uma fortaleza antipetista. Decerto que ela não é original ao pensá-lo e, ainda pior, há inúmeros petistas que pensam igual, talvez até o ex-presidente Lula. Aliás, a constrangedora movimentação em busca da aliança com Kassab parece advir dessa suposição.
A análise histórica, no entanto, parece indicar situação muito diversa. Ao contrário do que sustentam os conservadores - com tanta firmeza que até conseguem engambelar petistas históricos -, o Partido dos Trabalhadores é talvez a única força política realmente coesa na complexa cidade de São Paulo após a redemocratização do País. Vamos aos fatos.
Na última eleição em turno único, em 1988, Luiza Erundina surpreendentemente bate Paulo Maluf e ganha para o PT a prefeitura da maior cidade do Brasil. Em seguida, os pleitos passariam a ser disputados com a possibilidade de realização em dois turnos. Na capital paulista, desde então, todas as disputas iriam para o segundo turno. O Partido dos Trabalhadores, se nossa memória não nos trai, foi o único partido que esteve presente em todas as pendengas finais.
Em 1992, apesar de todas as dificuldades enfrentadas por Luiza Erundina, o PT conseguiu, com Eduardo Suplicy, ir para o segundo turno contra Paulo Maluf, que, depois de diversas tentativas, finalmente vence uma eleição - era talvez o auge do paulistíssimo fenômeno do malufismo.
Em 1996, Maluf aposta todas as suas fichas em seu secretário Celso Pitta, que, no segundo turno, enfrenta e vence a ex-prefeita Luiza Erundina, na época ainda no PT. Era o Partido dos Trabalhadores mais uma vez no segundo escrutínio na cidade de São Paulo, e novamente enfrentando o malufismo.
Em 2000, para variar um pouco, o PT mais uma vez chega ao segundo turno na disputa pela prefeitura de São Paulo, naquela feita com Marta Suplicy, que vence Paulo Maluf. A briga acirrada talvez tenha sido dos últimos suspiros do malufismo.
Administrando uma verdadeira herança maldita deixada por Pitta, a petista Marta enfrentou uma série de problemas, mas mesmo assim conseguiu, em 2004, ir para o segundo turno, sendo derrotada por José Serra, à época beneficiado pelo chamado recall, eis que candidato à presidência da República dois anos antes.
Gilberto Kassab herda a prefeitura de Serra, que renuncia para candidatar-se a governador em 2006, e, após uso eficiente da máquina (atenção: não é necessariamente uma crítica), vai para o segundo turno do pleito de 2008, mais uma vez com o PT na disputa, novamente com Marta, derrotada outra vez.
Como se vê, precisava avisar os eleitores paulistanos que a cidade é fortaleza antipetista e pedir para eles pararem de levar os candidatos do Partido dos Trabalhadores para as cabeças das disputas municipais!
De se destacar que o principal antípoda do PT em nível nacional, o PSDB, apesar da hegemonia no estado, somente chegou ao segundo turno na capital paulista uma única vez, justamente quando Serra bateu Marta em 2004. Importante lembrar que Kassab em 2008 elegeu-se pelo DEM, inclusive superando, na reta final do primeiro turno, o candidato peessedebista - reparo fundamental, pois erroneamente alguns tentam creditar aos tucanos a vitória do então demista, o que não é verdade, noves fora a cristianização de Alckmin.
Frise-se, ademais, que, nesses anos todos, o PSDB não tem enfrentado as disputas municipais com "galinhas mortas". Serra e Alckmin, a exemplo do que fazem em nível estadual - e mesmo federal - são os tucanos que nas últimas corridas municipais representaram o partido. Mesmo assim, excetuando 2004, encontram dificuldades de, diretamente, superar o PT em São Paulo.
Outro importante registro histórico: em 1985, na primeira eleição direta pós-redemocratização, o PT alcançou apenas o terceiro lugar, com Eduardo Suplicy. A vitória foi de Jânio Quadros, num surpreendente arranque final contra Fernando Henrique Cardoso, na época ainda do PMDB. Cuidado, leitor, pois não falta quem tente dizer que aquele segundo lugar de FHC é feito do PSDB. Como dito, não é: o homem ainda não tinha, naquela época, motivos para cair fora do PMDB.
Soa estranho, portanto, o tão bem articulado discurso que tenta provar que a cidade de São Paulo tem ojeriza contra o PT. Assim como parece incompreensível que o próprio partido já se apresente com a ideia de que realmente acredita não ter a cara da nossa maior metrópole.
O eleitor paulistano talvez seja mesmo antipetista. Entretanto, ele decerto ainda não sabe!
Não é sobre liberdade (e eles sabem disso)
Há 5 semanas
2 comentários:
Muito lúcida a sua análise, meu caro Iendis!
Vou recomendar seu texto. Após essa constrangedora "novela" Kassab, como é que vai ficar a campanha - o PT vai ficar com receio de criticar a administração do cidadão?
E o Serra, vai ter coragem de entrar em uma disputa, podendo estar em evidência (negativamente) por conta da CPI da Privataria?
Grande abraço - vc está no Twitter?
Obrigado, Érico, pelas observações.
Em texto anterior, até considerava Serra carta fora do baralho. Mas como dizia Tancredo Neves, política é como as nuvens: você olha agora está de um jeito; daqui cinco minutos tudo já mudou.
Vamos ver como é que fica.
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Dá para acessar pela página do blog mesmo.
Abraço!
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