No primeiro texto voltado às eleições municipais de 2012 em São Paulo, comemoramos o fato de José Serra ter decidido não participar do embate. Tratava-se de um claro avanço, haja vista a necessidade de a cidade ser administrada por alguém realmente interessado e disposto a enfrentar seus problemas, não por alguém que pretenda usá-la como trampolim ou, quiçá, a enxergue como mero prêmio de consolação, ante as derrotas em nível nacional.
A história todos conhecem: após ter afirmado que não disputaria a eleição municipal de 2012, José Serra voltou atrás, participou das prévias do PSDB que já estavam marcadas, venceu-as de forma um tanto decepcionante e acabou por trazer nova cara ao pleito deste ano.
José Serra não é novo nas disputas municipais na capital paulista, delas participando em 1988 e 1996, com resultados não muito estimulantes. Em 2004, todavia, conseguiu levar seu partido pela primeira vez ao comando da maior cidade do País. Parece ter sido resultado de processo que já vinha se construindo de forma gradativa, como veremos.
Ao contrário do que a mídia e o burburinho do dia-a-dia nos querem fazer acreditar, o Partido da Social Democracia Brasileira não chega a ter uma história marcante no município, em linhas gerais. Desde a fundação do partido - o que se confunde com o período da pós-redemocratização do País -, o PSDB somente chegou ao segundo turno em eleições na cidade de São Paulo no ano de 2004, justamente com Serra, que se saiu vitorioso naquele pleito. Como já tivemos a oportunidade de mostrar, o PT é o único partido que sempre esteve na briga final.
Entre 1988 e 2000, a disputa foi clara, numa franca polarização ente o PT e a corrente conhecida como malufismo. Era a peleja entre esquerda e direita. Em 1988, bem na reta final, Luiza Erundina (então do PT) atropela Paulo Maluf; em 1992, Maluf dá o troco, batendo Eduardo Suplicy (PT), no segundo turno; em 1996, sem o instituto da reeleição, Maluf lança seu secretário Celso Pitta como candidato, que consegue vencer a ex-prefeita Erundina (ainda no PT); finalmente, no ano 2000, apesar do fracasso retumbante da administração Pitta, o malufismo ainda demonstrou algum resquício de força, com seu patrono conseguindo abocanhar mais de 40% dos votos no segundo turno contra a vitoriosa Marta Suplicy, do PT.
O insistente Maluf, em 2002, na disputa pelo governo do estado de São Paulo, foi ultrapassado por José Genoíno, do PT, não conseguindo, pela primeira vez desde a instituição da eleição em dois escrutínios, chegar ao segundo turno da disputa estadual - sinal de que havia mesmo algo de estranho com o fenômeno do malufismo, cujo patrono só ficara de fora de um segundo turno em 1994 (não disputou o cargo naquele ano). Em 2004, na disputa municipal, Maluf consegue apenas um terceiro lugar, deixando o segundo turno ser disputado por Marta e Serra. Com tal resultado, não restava dúvidas de que o malufismo já não era mais o representante hegemônico do conservadorismo paulista e paulistano.
O PSDB, talvez sem querer, talvez sem o perceber, começa a ocupar o espectro mais à direita da política paulistana. Em 2008, embora disputando a corrida municipal com um nome de peso - nada menos que Geraldo Alckmin -, o partido, repetindo o aspecto mais comum de sua saga na cidade de São Paulo, ficou apenas no terceiro lugar. Não se pode olvidar, entretanto, que a reeleição de Kassab naquele ano se deu com o apoio explícito do PSDB no segundo turno e velado no primeiro - caso clássico de cristianização, sofrido por Alckmin. Dê-se um desconto, portanto, aos que consideram o feito de Kassab quase como uma vitória tucana.
Muitos entendem ser o conservadorismo a principal característica do que se pode chamar de "eleitor médio" paulistano. Eleição após eleição, foi-se vendo o malufismo perder força e o PSDB ocupar os espaços mais à direita no campo político paulistano. O partido de FHC, Covas e Serra não surgiu com tal proposta ou vocação. Talvez tenha sido empurrado para este lado por representar, em nível nacional e em diversos lugares também na seara estadual, o antipetismo, posição que ostenta por normalmente enfrentar o Partido dos Trabalhadores nas principais eleições pelo País.
A ocupação dos flancos à direita pelo PSDB, como dito, deu-se de forma bastante paulatina, talvez imperceptível e - ousaria dizer - surpreendente até para muitos de seus membros. Aos poucos, seus integrantes e correligionários foram aceitando essa nova cara do partido. Verdade seja dita, quem parece hoje melhor entender que ao PSDB pouco sobra senão tentar correr por essa vereda é mesmo José Serra, o que por si só já basta para classificá-lo como fortíssimo candidato na disputa deste ano.
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Não é sobre liberdade (e eles sabem disso)
Há 5 semanas
Um comentário:
Convido os amigos para participar das comemorações do terceiro aniversário do blog Jazz + Bossa.
Como já faz parte da tradição, tem um desafio bacanudo por lá, valendo um dvd do Milt Jackson com Ray Brown, gravado em Montreux.
Conto com as presenças de vocês, ok? Um fraterno abraço a todos!
http://ericocordeiro.blogspot.com.br/
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