Marina Silva talvez dispute mesmo a presidência em 2010 pelo Partido Verde (PV).
Marina é realmente uma mulher preocupada com a causa ambiental. Desse modo, pensam alguns, talvez ela acerte em trocar o PT pelos verdes. Bastante coerente.
É coerente, mas não é tão simples.
No alto de minha humildade, se pudesse, sugeriria a ela que, antes de ingressar no partido de Gabeira, procurasse fazer visitas aos diretórios regionais da agremiação nalgumas cidades. Seria bacana ver com quem eles estão aliados, de que forma atuam nas câmaras municipais, como agem seus militantes, qual é o nível de preocupação ecológica de seus filiados.
Ela poderia iniciar suas pesquisas em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, por exemplo. O ideal seria visitar alguns “verdes” da cidade, procurar ver os cuidados que eles pessoalmente tomam com o meio ambiente, como se comportaram nas últimas eleições, se trabalharam na administração pública, quais as suas relações com os políticos locais, qual o seu grau de comprometimento com o partido e com as causas que abraça.
Como forma de saber o que pode esperar, talvez fosse recomendável para Marina ver também qual é o comportamento dos militantes de outros partidos igualmente menores daquela cidade. Seria importante visitar algumas pessoas que integravam, por exemplo, o PSB em 2002. Naquele ano, o Partido Socialista Brasileiro contava com o ex-governador fluminense Garotinho como candidato à presidência da República. O partido, que era do vice-prefeito de São Bernardo, via muitos de seus integrantes trabalharem na administração municipal. Seria interessante que Marina verificasse se eles realmente, no dia-a-dia, demonstravam entusiasmo pelo candidato de seu partido, ou se, por acaso, não faziam pregação diuturna para o então candidato José Serra, do PSDB. O comportamento deles decerto que daria uma boa pista de como as bases do PV tenderiam a trabalhar em algumas cidades, nas eleições de 2010.
Pelo menos duas das revistas semanais oferecem capa a Marina Silva, dando a entender que ela pode mexer na sucessão e que isto seria, inclusive, benfazejo por trazer algum arejamento a um tipo de disputa que vem sendo monopolizada por petistas e tucanos desde 1994.
Entendemos, porém, que a pendenga centrada em dois partidos não é, em princípio, algo tão deplorável assim, vide os Estados Unidos. Ademais, seja lá como for, o PT e o PSDB até que são, aos trancos e barrancos, partidos que comportam alguma unidade. Imagino que não se verá, em 2010, o PT de qualquer rincão do país não apoiando a candidata Dilma – e isso mesmo que tal diretório prefira a própria Marina Silva; de igual modo, o PSDB, mesmo um diretoriozinho de alguma cidade mineira, não deixaria de apoiar o candidato Serra, ainda que houvesse alguma decepção por ter sonhado com a candidatura Aécio.
Em resumo, este blog não confia na coesão partidária do PV. Acreditamos que em diversas cidades (citamos São Bernardo, mas poderia ser qualquer outra do estado de São Paulo), o partido, mesmo com candidatura própria, por debaixo dos panos, trabalhará por Serra. É assim que funciona a política hodierna no Brasil: no fundo, agremiações menores se sentem mais à vontade quando estão à sombra de um partido com características mais hegemônicas. As pessoas que a elas estão filiadas, sobretudo quando não nas grandes capitais (às vezes mesmo nelas), estão mais preocupadas com projetos pessoais, normalmente desligados de eventuais ideologias partidárias.
No que se refere à supracitada subserviência, uma exceção importante foi o caso de Kassab em São Paulo. O que se viu foi justamente o PSDB, nos seus subterrâneos, rendendo-se ao aliado mais fraco, o DEM. O cristianizado Geraldo Alckmin sabe muito bem do que estamos falando. Embora excepcional, esse episódio ajuda, de algum modo, a reforçar o temor que temos com o que poderia ocorrer com Marina: se um partido forte e grande como o PSDB, de forma pragmática, teve coragem de impingir tal humilhação a um ex-governador de São Paulo, por que o PV não exporia a tal ridículo uma ex-ministra petista, oportunistamente filiada na última hora?
E tem mais, há o efeito imprensa, problema que a ecologista poderia enfrentar se - assim como acreditam alguns analistas – conseguir tirar alguns votinhos do candidato tucano. Fica para um próximo post.
Não é sobre liberdade (e eles sabem disso)
Há 5 semanas
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