Alguém que tenha enfrentado o coma durante pouco mais de um mês no período do primeiro turno, ao ver Fernando Haddad, do PT, e José Serra, do PSDB, enfrentando-se no segundo turno da cidade de São Paulo, não imaginaria que Celso Russomanno foi invariavelmente considerado um fenômeno eleitoral na maior parte desse tempo.
A "finalíssima" paulistana, portanto, nada mais representa do que o quadro mais óbvio do embate: de um lado Serra e seu fortíssimo recall, típico dos que não se cansam de se candidatar, de outro Haddad, o representante do partido que desde 1988 é no mínimo segundo lugar na metrópole, o PT.
O resultado, inesperado para alguns até no último dia da primeira fase do pleito, fez aumentar as dúvidas sobre a lisura das pesquisas. Por esse motivo, muitos entusiastas do Partido dos Trabalhadores e de Fernando Haddad estão com um pé atrás com pesquisas que lhe vêm dando, nos votos válidos, vantagem de 20 pontos percentuais sobre seu oponente. É teoria da conspiração que não acaba mais.
A nós, tal resultado não surpreende.
É saudabilíssima a desconfiança para com os institutos de pesquisa. Para sermos radicais, são indignos de crédito. Com mais moderação, digamos que no mínimo devem ter suas sondagens tomadas com cautela. Entretanto, não há, de outro lado, porque não acreditar nos números oficiais do TRE. E os resultados oficiais do primeiro turno já, no mínimo, apontavam para a possibilidade do quadro que as pesquisas dizem vir captando.
Como boa parte dos leitores deve ter visto, mapas (que abdicaremos de reproduzir aqui) mostram como o voto se dividiu em São Paulo: aparece pintado de azul no chamado centro expandido, e veio de vermelho nas regiões periféricas. Ou seja, vitória tucana no primeiro e petista no segundo. Neste quadro, em vista dos números excelentes do terceiro colocado, não havia muita dúvida de que o fiel da balança seria o eleitor de Celso Russomanno.
O aspecto mais claro dos resultados do primeiro turno era a fraca votação de Russomanno (cerca de 8%, na média) na região central, aquela que foi a mais generosa com Serra. Ora, já era de se supor que o tucano não se beneficiaria tanto com a possível transferência do grosso dos eleitores russomannistas da região, que por óbvio acrescentariam quase nada à sua votação total do primeiro turno, a qual ademais foi muito pouco acima da do petista.
Por outro lado, no chamado cinturão vermelho, o fenomenal Russomanno ainda não havia desidratado o suficiente, tendo terminado o primeiro turno acima de 20%. Entendendo que o candidato do PRB havia crescido justamente no eleitorado tipicamente petista, hegemônico naquela faixa da cidade, já se previa uma transferência maior para Fernando Haddad. Para piorar as coisas para Serra, o peso proporcional dos eleitores da periferia ainda ajudava a entender - da forma mais dolorosa - a tal de ponderação de que os estatísticos tanto falam.
A tendência pró-Haddad já era tão forte apenas com os números de Russomanno, que nem precisaria, lá, ao fim do primeiro turno, apostar que o também bem votado Gabriel Chalita e seu "capilarizado" PMDB fechariam apoio ao petista.
Entendendo, pois, não ser surpresa nenhuma a liderança extraordinária de Fernando Haddad nessa corrida do segundo turno de São Paulo, ainda assim, é válido aquele velho clichê do mundo político que diz "mineração e eleição, só depois da apuração".
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