domingo, 19 de março de 2017

Chuck Berry (1926-2017)

"Se você tentasse dar outro nome ao rock'n'roll, poderia chamá-lo de Chuck Berry" (John Lennon)
Desnecessário falar muito sobre essa lenda das artes do século XX, uma vez que basta ir aos sítios das principais publicações e lá encontrar inúmeros obituários, alguns enxutos, outros bem completos, dando a real dimensão dessa fera falecida no dia 18/3/2017 aos 90 anos de idade.
Vou pedir permissão apenas para juntar pequena resenha escrita, há alguns bons anos, para o sítio RateYourMusic.com acerca da excelente coletânea "The Great Twenty-Eight", desculpando-nos antecipadamente pelo mau inglês. Ao final, vídeo de Berry interpretando "Johnny B. Goode" no ano em que começava sua longa história, 1958.













Chuck Berry - The Great Twenty-Eight (1982)

I’ve recently watched a pop music documentary on TV, in which singer/songwriter Neil Sedaka talked about his method of writing songs in the fifties. He said he listened to hits of many countries, he tried to capture something common in them, put a name of a girl, a romantic lyric and the result would be a success!
I believe Chuck Berry also walked a similar way. Besides suggestions of Sedaka, the guitarist added names of cities, lyrics about cars and adult themes. 
Okay, okay! Charles Edward Berry was many steps beyond Neil, we must agree. This is because the urban blues influenced him; people as Willie DixonLafayette Leake and Otis Spann accompanied him; he recorded at “magic” Chess Records Studios that time: it would be impossible something’s gone wrong.
The Great Twenty-Eight: while you listening to it, each song that is rolling seems the best of all; changed the song, this is better; next song? You will consider it the best.
According to John Lennon“if we tried rename rock’ n’ roll, we could call it Chuck Berry. Who am I to disagree with him?



sábado, 14 de maio de 2016

Faustus Sapienza: Memórias do golpe

Mais um texto de Faustus "Mestre" Sapienza. Um curioso exercício de futurologia. O que se falará do golpe de 2016 daqui a alguns anos? Pistas na pequena ficção (ficção?) a seguir.

Lembram-se do golpe de 2016? Entrevista em 2038
Faustus "Mestre" Sapienza
Gravando. Ok. De novo. Gravando. Ok.
22 de outubro de 2038.
Curso de História. Universidade digital. Doutorado. Título: "2012-2016: um golpe nem tão suave num Brasil que se acreditava solidamente democrático". Vamos entrevistar o ex-deputado federal Pitombo Macieira, mais conhecido como Bobrinha. Ele foi um dos deputados que votaram a favor do prosseguimento do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016.
- Boa tarde, deputado. Obrigado pela entrevista. Vai ser muito útil para o trabalho que estamos desenvolvendo. Posso chamar o senhor de deputado mesmo?
- Rapaz, já larguei a política, como você sabe, mas todo mundo que fala comigo me chama de deputado. Até estranho quando me dão outra qualificação. 
- Muito bem. O senhor estava naquele famoso 17 de abril de 2016...
- 18 de abril. Era um domingo... Quente...
- Desculpa, deputado. Certeza que era 17.
- Bem, já faz mais de vinte anos e o historiador aqui é você. Mas que era 18, era!
- 17, deputado! Mas, enfim, naquela famosa tarde/noite de abril de 2016 o senhor votou a favor da abertura do processo contra a então presidente Dilma. Não tem sido incomum declarações de deputados e outras pessoas envolvidas demonstrando arrependimento ou tentando até renegar a participação em tudo aquilo. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
- Olha, filho, apesar de moço experiente e tudo mais, você é jovem e merece uma lição, até na sua qualidade de estudioso da história, da política e coisa e tal. A noção de importância histórica só se tem com o tempo. A gente às vezes até faz uma coisa que sabe que é errada mas não tem a dimensão do erro que está cometendo. Do tamanho que aquilo vai ganhar depois de uns anos. É muito o aqui agora...
- Por sua fala posso presumir que o senhor reconhece que foi um erro. E mais - se eu estiver errado, me corrija -, o senhor parece estar querendo dizer que já sabia que estava errando quando proferiu o voto, mas resolveu arriscar.
- Com certeza. E posso lhe garantir que muitos de meus colegas sabiam do erro que estavam cometendo.
- Mas, deputado...
- Por favor, não pense que eu estou acusando alguém de ter feito qualquer coisa errada... É... Assim do tipo... Você sabe. Tem muita história que rolou, que rola até hoje, mas eu não gosto de ficar especulando. Na verdade muito deputado só foi pela onda mesmo. E vou te falar, até em coisas que pareciam bobagem na época já havia sinais de pressões de diversas ordens.
- Como assim?
- Lembra que os votos eram dedicados a familiares, eram em nome de Deus...
- O senhor, por exemplo, além de Deus, dedicou para sua mulher, sua filha... Melhor, eu vou acionar o index eletrônico aqui e em menos de dois segundos eu encontro sua fala. Vamos ver?
- Não, filho, por favor, eu lembro muito bem de meu voto. Não gosto mais de ver. De fato dediquei à minha mulher daquela época. Era minha segunda mulher. A gente estava enfrentando uns probleminhas, por culpa minha. A verdade é que... Bem, não quero falar muito sobre isso, mas eu vinha já de umas atitudes não muito... Mas não adiantou muito. Ela continuou com a cara virada comigo, tanto que ainda naquela legislatura a gente se divorciou. E a minha filha era filha do meu primeiro casamento, hoje é deputada estadual, bastante conhecida. Também quis com aquilo fazer um agrado pra ela, já que ela não falava comigo tinha um tempo. Soube depois que ela nem ficou sabendo de nada porque não assistiu nem se interessava por nada daquilo naquele tempo. Ela era daqueles jovens que odiavam a política e que jamais perderiam um domingo vendo um monte de figura excêntrica - meus pares que me perdoem - fazendo um espetáculo grotesco daqueles. Mas, vem cá, o mais importante veio depois.
- Sim?
- No meu voto, depois de mulher e filha, meu tom de voz até aumenta para eu dedicar aquele ato também ao povo de meu estado e aos meus eleitores. Deixei bem claro que aquele voto era por eles.
- Não somente o senhor. Muitos repetiram o gesto, afirmando que o voto era pelas pessoas de suas cidades, estados.
- Exatamente. Isso não era trivial. Entende por quê?
- Se o senhor quiser explicar.
- No meu caso e de muitos outros que me confessaram, aquilo era uma forma de dizer que cometíamos aquele ato injusto por pressão da sociedade. Era para dizer que não estávamos fazendo de acordo com nossa consciência. Estava-se cometendo uma injustiça por absoluta culpa do povo. Era uma insinuação de que havia pressão externa.
- Mas, deputado, o senhor era de um estado que tinha dado maioria absoluta para Dilma, no qual não havia uma oposição orgânica a ela e a seu partido. Entidades representativas da sociedade civil em sua maioria eram contra o golpe, desculpa, impeachment...
- Pode chamar de golpe, filho. Eu sei que você acha que foi golpe mesmo. Todo mundo fala que foi golpe. Então é golpe, ora!
- Pois, então, já havia uma clara articulação contra o golpe; o apoio popular, segundo as pesquisas, vinha diminuindo...
- É que era um movimento de ricos e classe média alta. Quando eu dizia povo do meu estado, eu estava falando do sujeito que frequentava o mesmo restaurante que eu, que usava a primeira classe do mesmo voo que eu... Até havia uma coisa que chamavam de redes sociais, não sei se você chegou a conhecer. Pois bem, naquelas tais redes havia uma articulação poderosa, que pressionava, até ameaçava... Tudo alimentado pela mídia.
- E qual o papel da mídia nisso tudo?
- Filho meu, vou resumir. O deputado mais honesto teria sido aquele que, em vez de mulher, filho, Deus, povo etc, tivesse dedicado o seu 'sim' para a mídia. Em nome da mídia, eu voto sim. Seria o deputado que resumiria bem aquele fato histórico.
- A mídia foi a cabeça daquela articulação?
- Sim. A mídia e, como todos sabem, o Poder Judiciário de então. A judicialização da política, a criminalização da atividade política... Essas coisas todas facilitaram nossa vida naquela empreitada. É... Mas deixa eu te perguntar...
- Pois não.
- Eu estou proibido de fumar, filho. Não deixam cigarro chegar perto de mim. Será que você não tem um cigarro para me dar aí, não?
- Não fumo, deputado.
- Tudo bem.

domingo, 13 de setembro de 2015

E se a eleição fosse hoje? Por Faustus "Mestre" Sapienza

Abaixo, mais um texto ficcional de Faustus "Mestre" Sapienza. Desta feita, o ficcionista (pero no mucho) satiriza as pesquisas eleitorais para presidente da República em... 2018! 

Boa leitura:

Se as eleições fossem hoje
Faustus "Mestre" Sapienza 
- Boa tarde, senhora! Meu nome é Paulino Montenegro e estou fazendo uma pesquisa. A senhora poderia responder? É rapidinho. Se as eleições fossem hoje, em qual nome desta lista a senhora votaria para presidente da República? 
- Mas, meu filho, ainda estamos em 2015. A eleição pra presidente é só em 2018. Tá longe pra chuchu...
- Sem dúvida. Por isso é que a pergunta é: "SE. SE as eleições fossem hoje. SE".
- Eu entendi. Só que se as eleições fossem hoje, hoje seria o primeiro domingo de outubro de 2018. E não dá para eu responder agora sobre uma coisa que só vai acontecer daqui a três anos. Sabe como é, muita água ainda pode...
- Passar por debaixo da ponte. Sim, entendo. Mas será que a senhora não poderia usar a imaginação?
- Esse negócio de eleição com imaginação não dá muito certo. Só dava pra usar imaginação quando era cédula de papel. Um irmão meu, já falecido, corintiano fanático, numa eleição nos tempos do papel votou no Dr. Sócrates, no Biro-Biro e acho que no Casagrande. Ele sempre usava a imaginação. Aí com a urna eletrônica num dá mais...
- Interessante. Só que eu preciso saber, senhora, se a eleição fosse hoje, hoje, hoje, em qual desses nomes da minha lista a senhora votaria para presidente. SE A E-LEI-ÇAO FOS-SE HO-JE!
- Se hoje fosse mesmo a eleição, como saber se esses caras aí vão tá vivo...
- Ora, senhora, até nisso a senhora tá pensando?! Por favor...
- Em 2014 teve um que morreu, num teve?
- Tem razão. Pra dizer a verdade, nem tava lembrando disso...
- E tem outra: duvido que esse senador aqui vai sair pra presidente. Os paulistas não vão deixar ele sair de novo. Pode apostar. Duvi-de-o-dó que ele sai... Vai ser um paulista no lugar dele, num sei quem, mas vai ser.
- Vamos fazer o seguinte: os candidatos da minha lista estão vivos e eles são os candidatos escolhidos por seus partidos. Acredite em mim: chegou o dia da eleição e os candidatos são rigorosamente eles. Vamos lá, senhora, eu preciso fechar minha cota: Se as eleições fossem hoje, em qual nome desta lista a senhora votaria para presidente da República?
- Tudo bem, tudo bem. Só me diz uma coisa: a eleição é hoje, os candidatos são esses, certo? Mas quem teve mais tempo de televisão? Quem se saiu melhor nos debates? Quem fez a melhor campanha? De quem a Globo puxou mais o saco e em quem ela deu mais rasteiras? Quais escândalos estouraram na mídia e quais foram jogados pra debaixo do tapete? 
-Obrigado, senhora, desisto. Só uma perguntinha pessoal pra encerrar. Como é que era esse negócio de cédula de papel?

sábado, 25 de julho de 2015

É a pedra no lago, estúpido

A política vive de coisas sérias e de coisas banais; de conceitos filosóficos e sabedoria popular; teorias rebuscadas e frases feitas. Duas delas (não sei classificar se “lendas”, “teorias” ou seja lá o que for) são relevantes para entender o Brasil contemporâneo.

Do Brasil se dizia há algum tempo que havia um chamado efeito “pedra no lago”: algumas pequenas ondas se formavam no "centro", por meio de formadores de opinião e de gente bem informada e articulada, tipicamente de classe média para cima, e iam aos poucos atingindo as "margens", ou seja, um público supostamente mais desinformado, pouco politizado, menos instruído, invariavelmente formado pelos mais pobres.

No Brasil ganhou corpo também o famoso bordão “é a economia, estúpido”. Sacado pelo marqueteiro James Carville, da equipe do então candidato Bill Clinton, quer dizer que, no fundo, o cidadão vai sempre se deixar guiar, em suas decisões e avaliações políticas, pelo quadro econômico, pelo bolso.

Da “pedra no lago” se chegou a decretar o fim. A reeleição de Lula, em 2006, parecia mostrar que grandes movimentos de classe média urbana e escolarizada, com apoio ostensivo da mídia, já não detinham mais a capacidade de levar o povão na lábia.

E as ondas não chegavam às margens justamente porque “é a economia, estúpido”! O bem-estar econômico era, por assim dizer, um dique que segurava as ondas.

Como bem demonstrado por André Singer em “Os sentidos do lulismo”, Lula foi reeleito em 2006 praticamente com a mesma votação de quatro anos antes, contudo graças a eleitores de perfil extremamente divergente daquele que votara nele no pleito anterior. O motivo era simples: conservador, o (muito) pobre brasileiro quer segurança, nada de aventuras, e se possível uma melhorazinha de vida. Passado o primeiro mandato, Lula, que historicamente assustava os muito pobres e conservadores, mostrou-se perfeito: não promoveu mudanças de fundo na sociedade nem na economia, mas implementou e incrementou políticas que melhoraram significativamente a vida de um segmento historicamente abandonado. Um "reformismo fraco", diz o eminente cientista político e ex-porta-voz do governo Lula, garantiu ao metalúrgico o apoio massivo dos mais pobres.

A direita brasileira entendeu - mas não aceitou - as duas coisas: apresentava dificuldades de acreditar que o povo insolentemente não se deixasse levar pela ilustrada pregação antipetista diuturna, geralmente de caráter moralista, com o tema da corrupção à frente; e consciente de que a situação econômica era o que garantia a fidelidade ao petismo, os simpatizantes da direita lamentavam, cínica e preconceituosamente, o fato de as pessoas, segundo elas, votarem com o estômago e com tamanha mesquinhez!

A avassaladora crise internacional e um possível esgotamento do modelo baseado no mercado interno e inclusão social tenderiam já a trazer adversidades para a economia brasileira, revelando, assim, dificuldades para o segundo mandato de Dilma Rousseff. A coisa, porém, foi ganhando azedume com a operação Lava Jato.

A direita brasileira, como dissemos, entendeu muito bem o que vinha acontecendo no País. O moralismo hipócrita e seletivo típico da UDN está presente nos estratos médios, de modo que, dele, não se abre mão. Mas martelar histórias de corrupção, com economia bombando, renda crescendo e emprego em alta, não tem apelo popular. E mais: independentemente da situação, seria como se o tema tivesse que ser explorado - contra os adversários, claro - nem que fosse por uma questão de honra.

A operação Lava Jato, porém, não mexe só com os ódios e medos da corrupção. Ela também afeta a economia, pois no escândalo estão envolvidos a maior de nossas empresas de economia mista e grande parte do PIB nacional, trazendo um inexorável relaxamento dos espíritos empreendedores do País.

A Lava Jato, portanto, vem com grande força moralizadora (e de forma seletiva, como tem ocorrido em outros escândalos do País), ao mesmo tempo que mina forças da economia brasileira. Convenhamos: não parece haver coisa melhor para quem apostava no discurso da corrupção como arma política, mas sempre via ele ser barrado pela sensação de bem-estar do povão.

Com a economia mais devagar, estúpido, não tem jeito: as ondas no lago acabam inevitavelmente chegando até os que estão à margem!

Se eu acreditasse em teorias da conspiração, diria que a Lava Jato foi realmente pensada para fazer a ligação das duas coisas. E se estamos no campo das comparações e metáforas, ela é a tempestade perfeita que a direita tanto esperava.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Ornette Coleman (1930-2015)

O mundo ficou menos criativo em junho de 2015. A frase, lugar-comum e piegas, decerto não seria aprovada pelo saxofonista (também trompetista e violinista) Ornette Coleman, morto por parada cardíaca no último dia 11 em Nova Iorque. O texano, nascido em 9-3-1930, era um símbolo da improvisação, da inquietude, das buscas e experiências. O subgênero chamado de Free Jazz, do qual ele sempre foi o maior expoente, adveio do título de um de seus mais importantes discos, gravado e lançado em 1960.

Duas curiosidades pessoais:

- Tive a oportunidade de cumprimentar Coleman pessoalmente em São Paulo, no ano de 2010. Na oportunidade, o gênio, já octogenário, após belíssima apresentação, autografou a capa do CD The Shape of Jazz to Come, um dos grandes discos de sempre. Como vocês veem na ilustração, ele errou a grafia do meu nome - mas... E daí?! Escrevemos sobre o assunto na época, conforme link: Ornette Coleman no Sesc Pinheiros.

- A postagem mais popular deste blog, com talvez três vezes mais visualizações do que a segunda colocada, foi um texto que escrevemos em 2009 para, então, comemorar os 50 anos do gênero Free Jazz. Lá, também pode-se ouvir uma faixa do supramencionado The Shape of Jazz to Come. Se quiser engrossar as estatísticas da postagem, segue o link: Free Jazz, 50 anos.

domingo, 31 de maio de 2015

Comunicação, comunicação, comunicação!


Não raramente se ouve que Dilma, seus principais auxiliares e conselheiros, além de seu partido, não têm muita noção da importância capital da comunicação para travar o debate político. Há até quem sugira haver um quê de ingenuidade em Dilma e seu staff, que acreditariam demasiadamente no espírito democrático de seus opositores e na boa intenção por trás do bombardeio midiático contra o governo e o PT, além de confundirem republicanismo com passividade extrema.

Pois não tenhamos dúvida que Dilma, seu partido e o grupo que a cerca sabem muito bem da importância da batalha da comunicação e que têm plena consciência da desproporcionalidade da cobertura midiática. Não há ingenuidade nem republicanismo pueril aí: há boa dose de cálculo político, ainda que possivelmente errado.

Por que, por exemplo, Dilma, na campanha de 2014, aceitou concorrer por coligação tão ampla? Decerto não foi pensando na tal da governabilidade, tampouco se curvando à inexorabilidade do nosso presidencialismo de coalizão. E caso tenha sido, convenhamos, foi uma estratégia por demais furada, haja vista o banho que o governo vem tomando no Congresso, com o auxílio para lá de luxuoso da base dita aliada.

A amplíssima coligação a que Dilma se submeteu se fazia necessária, isso sim, para conseguir tempo de rádio e TV no horário eleitoral gratuito. Os responsáveis pela campanha certamente sabiam que a presidenta precisaria de muita lábia no tempo de TV para fazer frente ao massacre que sofria em todas as mídias “independentes”. Tal estratégia, sim, se revelou correta, pois durante a campanha a popularidade do governo e da presidenta deu uma significativa melhorada, o que teria sido impossível se o tempo de exposição dela fosse menor do que o de seus principais adversários.

Tivemos, em decorrência dessa condição, uma situação paradoxal. Dada a virulência da campanha, e considerando a indisfarçada guinada à direita da principal oposição ao petismo,  a campanha de Dilma não teve alternativas senão radicalizar à esquerda. Por outro lado, justamente a amplitude da coligação, como dito necessária para fazer frente ao bombardeio midiático, não permitiu que Dilma assumisse, de forma programática, compromisso com mecanismos de democratização da mídia. O discurso esquerdista não passou de discurso mesmo, não tendo seus postulados encampados como parte de um programa de governo.

O resumo da ópera é um tanto desalentador: em razão de não radicalizar a discussão política e em virtude da falta de debates sobre a democratização dos meios de comunicação, o petismo, vítima diuturna da violência midiática, fica refém, em tempos de campanha, da benção – e dos minutos de TV – de grupos de direita, justamente para, esquizofrenicamente, fazer frente aos ataques da mesma direita com que supostamente se alia! E por se compor com tais grupos de tendência mais conservadora, fica obrigado a ter uma postura superpassiva em relação à questão da comunicação social no País, aceitando, em nome de uma suposta boa vontade republicana, os abusos que contra si são cometidos.


Alguma figura importante da política internacional (Tony Blair?), em campanha, certa feita disse que suas prioridades eram três: educação, educação e educação. Para Dilma e o PT elas deveriam ser, pelo menos num primeiro momento, comunicação, comunicação e comunicação.

domingo, 17 de maio de 2015

B.B. King (1925-2015)

Mais um pouco de século XX se vai com a morte de Riley Ben King. Vamos homenagear o grande artista com uma pequena resenha do disco Live in Cook County Jail, de 1970, escrita originalmente para o site RateYourMusic, no ano de 2007, agora com pequenas correções.

B.B. KING - LIVE IN COOK COUNTY JAIL (1971)

Tive a oportunidade de assistir a uma apresentação de B.B. King no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, no final do ano de 1996. Ele ainda estava fantástico: carismático, simpático, perfeito com sua Lucille, tanto nos slow blues quanto nos temas mais agitados. 

Vi a performance de B.B. King, portanto, 25 anos depois deste fantástico álbum ao vivo: foi o deparar-se com um mito; imagino quão emocionante deve ter sido acompanhar uma apresentação dele no auge, no início dos anos 1970. 

Perdoem-me pela pilhéria de absoluto mau gosto, mas as pessoas recolhidas nessa importante prisão americana foram privilegiadas em assistir a essa fantástica exibição! Incluo Live In Cook County Jail na minha lista de melhores álbuns ao vivo de todos os tempos - ressalvando, porém, que não sou grande entusiasta dos live albums, de maneira geral. 

Sei que B.B. King lançou outros discos ao vivo memoráveis, especialmente Live at the Regal, de 1965. Mas como não o possuo na minha coleção, o maioral mesmo é, para mim, este petardo de 1971. Até porque ele talvez seja o único disco que se inicie com uma sonora vaia. Mas acalmemo-nos, não é para o "Rei do Blues", não! É para o diretor do famoso presídio de Chicago!

Os presidiários deliciaram-se naquela data com "Everyday I Have the Blues", "Sweet Sixteen", "How Blue Can You Get", "The Thrill Is Gone", entre outras. 

36 anos depois, continuemos deliciando-nos com este maravilhoso disco, só que no recôndito de nossos lares. Ainda bem!

sábado, 21 de março de 2015

O "novo partido" da ficção de 'Mestre' Sapienza

O blog publica mais um texto de Faustus 'Mestre' Sapienza. Dessa vez, o misterioso autor brinca com situação que a maioria dos leitores decerto já presenciou. Divirtam-se

O PC - Partido da Corrupção
Faustus 'Mestre' Sapienza

-Mas o que tá acontecendo com você, Fabinho? Te vi chorar em 1989, com a derrota do Lula. Agora, você não pode nem ouvir falar em PT?
-Chorar, chorar, eu não chorei. Mas confesso que fiquei triste, como um monte de gente ficou. Mas meu ódio... Quer dizer, ódio não porque eu não odeio ninguém, mas minha bronca em relação ao PT é porque eles me traíram, com essa sujeirada toda.
-Ora, mas muita coisa nem provada é, você sabe.  E tem mais: você andou votando nuns caras aí que não chegam a ser um "papa francisco"...
-Ok, ninguém presta. Mas é que o PT quando era oposição só sabia falar de ética. Era ética pra cá, ética pra lá... E agora me apronta essas coisas todas. Se tem uma coisa que eu não aceito é traição.
-Cara, que bom que você falou nisso. Eu tava sem jeito de falar com você. É que eu tô colhendo umas assinaturas aí prum partido que eu tô pretendendo fundar.
-Você?
-Eu mesmo. Bom, você manja mais do que eu, sabe das formalidades, não é fácil. Vou precisar colher muitas assinaturas. Você conhece bastante gente...
-Cara, não sei se você tá falando sério ou não, mas chega de tanto partido. Pensa noutra coisa.
-Mas esse partido vai ser a salvação, principalmente para pessoas como você.
-Ah, tá bom! Pra começar, como é o nome do partido?
-PC.
-PC? Bem, com certeza não é partido comunista! PC? Partido da...?
-PC: Partido da Corrupção.
-Sabia que era zoeira!
-Não. Tô falando sério. Já tenho pronta a declaração de princípios. É menor do que a declaração de princípios do jornal do "Cidadão Kane".
-Cidadão Kane, o filme?
-Não vi nem tenho vontade de ver. Mas me fale da declaração do seu partido.
-Ótimo filme. Tomara que mude de ideia. Mas a declaração de princípios de nosso partido se resume a: total despreocupação com a ética. Nosso partido não quer nem ouvir falar de ética. Ou melhor: nosso partido não quer mesmo é falar de ética na política, essa coisa estúpida, udenista, pequeno-burguesa.
-Vai, vai! Aonde você quer chegar?
-A lugar nenhum, por enquanto. Quero apenas sua assinatura e seu empenho para nos ajudar a fundar o partido. Afinal, temos o que você e outros milhões de pessoas querem: somos diferentes e originais na forma de encarar a política e, melhor, nunca, jamais o decepcionaremos.
-Não sei por que te dou ouvidos, mas tudo bem: explique-se.
-Somos diferentes porque, ao contrário do que você e outros milhões de pessoas dizem, o discurso político amparado nessa coisa abstrata chamada de ética nunca foi exclusividade do PT. Não saio por aí lendo estatutos de partido, mas desconfio que a maioria deles fala em compromisso com a ética, ainda que não de forma expressa, mas que dá a entender que a ética é alicerce de seu comportamento. Até porque o senso comum diz que não pode ser diferente...
-Cara, apesar de ser tudo bobagem, até que cê tá falando bonito...
-Mas o mais importante: nosso partido nunca vai decepcionar você...
-Rapaz, agora imaginei aquele magnífico locutor das propagandas do PSDB falando isso!
-E não vamos decepcioná-lo porque, ao deixar claro que não temos compromisso nenhum com a ética, quando metermos o pé na jaca, ou quando vier a imprensa fazendo seu denuncismo seletivo, seja justo ou injusto, não importa, todos vão poder dizer: bem que eles falaram que não tavam nem aí pra ética mesmo. Ou seja, meu querido Fábio, ao recusarmos a ética, de acordo com o seu modo de enxergar o mundo, estamos desobrigados de observá-la, não é isso? Consequentemente, jamais o decepcionaremos.
-Desnecessário dizer que isso é um sofisma, certo?
-Hum. Agora você é que falou bonito! Sofisma? Não diria não. Se quiser chamar de uma fábula política bem vagabunda e singela.
-Ok. Bem vagabunda, pode ser?
-Pode.
-Mas, voltando... Você falou uma coisa lá atrás que é verdade e eu não devia ter vergonha de admitir: eu chorei mesmo, de soluçar, quando o Lula perdeu pro Collor...

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Ficcão de Faustus 'Mestre' Sapienza: A jornalista, o roqueiro e o advogado

sábado, 7 de março de 2015

Ficcão de Faustus 'Mestre' Sapienza: A jornalista, o roqueiro e o advogado

Colamos abaixo um texto do misterioso Faustus 'Mestre' Sapienza. O autor diz ser a mais absoluta ficção. Mas... Qualquer semelhança com a realidade...

A jornalista, o roqueiro e o advogado
Por Faustus 'Mestre' Sapienza 

A Jornalista
Passeio no shopping, sábado à tarde.Encontro a Priscila. Moça bacana tava ali. O bobão do meu filho deixou escapar. Ela não se dava bem com minha mulher. Mas e daí? Tinha que se dar bem é com o garoto, oras!
-E aí? Quanto tempo!
-Eu vou bem. E o senhor? E o Marquinho?
-Senhor tá no céu! Ih, aquele ali, só batendo cabeça, pra variar um pouco. E você?
-Bem, não sei se o senhor... se você se recorda, mas eu tava na faculdade de jornalismo. Me formei e estou participando de um treinamento num grande órgão de comunicação aqui de São Paulo, com chance de efetivação.
-Que beleza! Parabéns!
-Obrigada, seu Marco! Mas vou te falar, é jogo duro. Inventaram uma gincana.
-Gincana?
-Eles dão outro nome, mas eu chamo de gincana. Tamo brincando de“jornalista investigativo”. Nossa tarefa é descobrir alguma coisa contra o Lula ou algum familiar dele. Não precisa ser muito sério ou muito grave, não. Tem que ser algo só pra render umas matérias. Não importa os métodos que a gente usa. Só não pode ser esses boatos bestas de internet. Tô quase desistindo.
-Desiste não, querida. Até porque não deve ser muito difícil encontrar alguma falcatrua daquele bandido e daquela quadrilha que ele chama de família...
-Ah, seu Marco.
-Para com isso. Me chama só de Marco ou Marcão.
-Então, Marco, se houvesse alguma coisa contra Lula estaria todo mundo publicando, martelando 24 horas por dia. E os figurões é que estariam assinando as matérias. Não iam ficar pedindo pras foquinhas bobocas como nós.
-Olha... Nunca tinha pensado nisso...
-Vou nessa, seu... Desculpa, Marco. Beijão pro Marquinho!
-Dou sim. Não vai mandar pra Matilde, não? Brincadeira!

O Roqueiro
Vocês não vão acreditar. Mal me despeço da Pri e sabe quem eu encontro? O Lupinão! Como assim, que Lupinão? Roqueirão dos maravilhosos anos 80. Não lembra do velho sucesso“Me estupra”? Eu canto um trecho pra você. Mas a que eu mais gostava mesmo era de “Triste não rima com alpiste”: não é muito conhecida, mas tem uma letra linda. É que vocês são novinhos... Não vão lembrar do Lupinão. Mas ele se lembrou de mim. Me viu e me chamou:
-Marcão!
-Sim.
-Não se lembra de mim?
-Desculpa, mas...
-E sem os óculos?
-Lupinão?
-Falaí, meu! Que prazer!
-Fazendo o que, cara?
-Fazendo uns showzinhos, fraquinhos. Gravar disco não rola mais, você sabe.
-A moça ali acho que te reconheceu, hein? Ficou te olhando...
-Moça? É daquelas vovozinhas que vêm trazer os netinhos pra passear no shopping! Mas tá valendo.
-E os shows, tão legais?
-Pouca coisa. Tô tramando uma coisa grande aí, com um amigo jornalista. Acho que você não conhece. Crítico, produtor. Ele anda meio sumido. Não tenho falado muito sobre o assunto. Você é o primeiro a ficar sabendo. A gente precisa urgentemente voltar pra mídia.
-Mas que tipo de negócio que é? Se é que você quer mesmo falar.
-Vou falar pra você, até pra você depois não pensar que eu tô louco!
-Mas louco você é, carambola!
-Eu vou começar a parecer um cara superpolitizado, cheio de ódio ao PT e defensor de ideias conservadoras...
-Pode parar. Eu também odeio o PT e sou cheio de ideias conservadoras. E daí?
-Esse meu amigo jornalista tem velhos amigos no meio. Ele vai entrar na mesma onda que eu. Pelos cálculos dele, isso vai me abrir espaço pra dar entrevista. E sabe como é? Entrevista repercute, os caras te chamam pra fazer show, por causa do show eu volto a dar mais entrevistas bombásticas. Meu amigo vai me empresariar e vai também escrever um ou outro texto elogiando minha coragem...
-É, mas cê sabe que vai receber saraivada de tudo quanto é lado também, né? Esses petistas bandidos são organizados...
-Então, cara, essa é a melhor parte: vou ser vítima da censura petista, chavista, politicamente correta e outro nome que eu não lembro. Meu amigo é que é bom pra esses rótulos.
-Cara, muito louco mesmo o que cê tá falando. Mas será que vai dar certo?
-Tô esperançoso. Meu amigo jornalista falou que se bombar mesmo, eu posso até sonhar em ser figura cativa de um talk show que tá pra começar aí. Vamo aguardar. Se você já tiver de saída, eu vou aceitar uma carona...
-Não, Lupinão. Ainda preciso ver umas coisas. Foi um prazerzaço, cara!

O Advogado
Que dia incrível. Agora é o Pestana, advogado, pachorrento, todo cheio de querer ser olhando vitrines de loja cara.
-Se não é o Dr. Pestana!
-Marcão? É vivo ainda, seu filho da mãe?! Você não engorda, não, desgraçado?
-Que é isso? Tô gordo, pô! E do que cê tá falando? Tá bem também.
-Que nada. É que o terno aqui disfarça o barrigão!
-Por falar nisso, só você mesmo pra tá de terno num sabadão desses.
-É que fui ver um caso bom. Um belo potencial de escândalo. Coisa pesada. O sujeito tá preso. Fui conversar com a família. Eles tão querendo ver se ele entra nesse negócio de delação premiada.
-Já ouvi falar. Parece que é bom isso, né?
-Depende. No caso dele não parece muito bom, não, pelo menos por enquanto. Os caras delatam pra sair numa boa e ainda ficar como herói. Expliquei pra família que não é tudo tão simples.
-Mas do jeito que a gente vê na mídia, parece que é simples sim.
-Depende do que e de quem você vai delatar. No caso do meu cliente ele tem uns caras e uns esquemas grandes do PSDB...
-Esses são outros, viu. Esses caras podem dar as mãos pro PT e sair por aí. Tudo farinha do...
-Sério? Lá no seu facebook tava cheio de propaganda dos candidatos deles.
-Sim, mas é que isso... Bem, e por que não entrega logo a corja do PSDB?
-Sabe como é família, né? Acha que o homem é um santo, um injustiçado, que foi vítima dos peixes grandes tanto da política quanto de grandes empresas e quer ver a barra dele limpa, dando entrevista em jornal como um herói. Na hora que eles me mostraram os nomes, descartei.
-Conta aí.
-Cê tá é louco! Se eu me meter com os caras que ele tem pra delatar até minha carreira entra em perigo. Mas dei uma missão pra eles: tentar ver se não descola pelo menos um nome que dê pra associar com PT, Lula ou Dilma. Pode ser uma associaçãozinha de longe; qualquer forçada de barra serve.
-Não deve ser difícil...
-Também penso que não. Tá cheio de cara que opera pros dois lados. E pra mídia, pra polícia, pra parte da Justiça, pruns caras do MP, se puder envolver, mesmo que indiretamente, um petista, o negócio ganha uma dimensão fora de série, mesmo que sem provas.
-Mas pelo que cê tá falando, é uma sujeira...
-É a vida! Se a família me der um nome que dê pra ligar com o PT, um nomezinho que seja, eu consigo um escarcéu bom. Vou precisar de ajuda pra isso, claro. Por falar nisso, será que você não conhece alguma jornalista iniciante ou algum roqueiro decadente pra me ajudar nesse serviço?

sábado, 8 de novembro de 2014

Choro do PSDB: tudo normal!

A choradeira do PSDB quanto à lisura das eleições presidenciais de 2014 não deve ser motivo para surpresas. Primeiramente porque o modelo brasileiro de urna eletrônica predispõe mesmo a fraudes, não devendo causar espécie alguém dela desconfiar, nem que seja por princípio. Em segundo lugar, porque resultados apertados existem mesmo para a parte perdedora espernear, já que resolvida nos detalhes - ressalte-se que mesmo sob um eventual resultado mais elástico, bastaria um quadro de grande radicalização e exacerbamento da polarização (como havido neste ano) para abrir campo para berreiros dessa espécie.

Em mensagens particulares enviadas a amigos, este blogueiro já havia antecipado a suspeita de que nos depararíamos com esse quadro. Vou colar trechos. A primeira foi em comentário de 07.10.2014 acerca de possível relação entre as chamadas jornadas de junho de 2013 e os resultados mais pró-direita do primeiro turno:
"(...) Tudo isso só para dizer que os resultados das urnas, sobretudo a escolha para os parlamentos, em nada me surpreendem. Eles são o resultado da guinada conservadora que ficou clara nos movimentos de junho de 2013. A cereja do bolo seria a derrota de Dilma, que, acho, não ocorrerá. Mas a vitória macérrima que ela terá provavelmente vai convocar novas manifestações, as quais deixarão novamente a esquerda perplexa e – de novo – com medo de dizer que não gostou do que viu."
Na mesma data, comentei especificamente sobre o segundo turno entre Dilma Rousseff e Aécio Neves, com resultado fantástico para o segundo, o que me fazia relembrar 2006:
"(...) Em 2006, Alckmin teve menos votos no segundo turno do que no primeiro. Não somente não espero que isso ocorra agora, como ainda acho que Aécio crescerá muito, impondo ao petismo a sua mais magra vitória desde 2002 (52 vírgula qualquer coisa de Dilma X 47 vírgula alguma coisa de Aécio – perdõem-me pela minha porção mãe dinah). Para ser melhor que isso, Dilma precisaria ter um desempenho fantástico como Lula teve no segundo turno de 2006, o que é muito difícil: Dilma é talentosa mas não é genial como Lula; Aécio tem mais telhados de vidro, mas é mais carismático e mais bem articulado que Alckmin. (...)" 
Lembro-me de cabeça de ter lido, de alguém que pensei à época ser adepto de teorias da conspiração, haver orientação da CIA para que derrotados simpáticos a Washington sempre gritem por fraude - de forma bem barulhenta - quando as condições permitirem. Depois de Edward Snowden, já não acho que "teorias da conspiração" envolvendo os Estados Unidos sejam tão teorias da conspiração assim!

A verdade é que a "vitória mácerrima" da presidenta Dilma foi a condição que permitia abrir espaço para gritarias.

Mas para dar prova mais incontestável da absoluta falta de espanto do autor destas maldigitadas com o choro dos tucanos vou colar texto aqui publicado em 19 de junho de 2009, que falava justamente das manifestações sobre suspeitas de fraude em eleições no Irã. Leia abaixo:


SEXTA-FEIRA, 19 DE JUNHO DE 2009
Irã: eu acho...
O bacana de se pilotar um blog é poder ficar dando pitacos sobre os mais diversos assuntos de forma mais ou menos impune. Além disso, pode-se dormir com a consciência tranqüila por não estar investido da autoridade dos especialistas. É só “achismo” mesmo e ponto final.
Os chamados cientistas políticos não deveriam gozar da mesma cuca fresca, pois se aproveitam de sua condição para fazer comentários e vaticínios deveras particulares sob a aura de uma suposta expertise. Ao agir desse modo, no mais das vezes com acentuado viés ideológico e deixando transparecer seus desejos e idiossincrasias, recusam, em verdade, a honestidade intelectual e a objetividade científica possível de que fala Max Weber na sua famosa conferência intitulada A ciência como vocação.
Vamos aqui, “acientificamente”, apenas revelar nossas impressões sobre o que ocorre no Irã. (Até porque não dá para ter muito mais do que isso: meras impressões).
Eu, “euzinho da silva”, acho que não houve fraude nas eleições do Irã. O presidente Mahmoud Ahmadinejad provavelmente ganhou mesmo. Volto a dizer, trata-se, obviamente, de mera opinião pessoal. Não posso afirmar que não tenha havido fraude. Ninguém pode. Mas ninguém – repito, ninguém - pode também afirmar peremptoriamente que houve. Certo está o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que atribuiu as comoções naquele país a uma provável choradeira dos derrotados. Errados estão os colunistas da grande imprensa, como Merval Pereira e Dora Kramer, que tentam desautorizar o presidente brasileiro por ele estar apoiando o seu colega iraniano reeleito. (Em realidade, Lula não está necessariamente dando apoio a Ahmadinejad; apenas faz aquilo que seria de se esperar de qualquer pessoa de bom senso: reconhecer os resultados das urnas de um país soberano; e se for o caso de haver alguma coisa errada por lá, o melhor a fazer é aguardar com cautela antes de sair atirando pedras).
Pelo que se depreende das notícias que chegam do país islâmico, as manifestações estão restritas aos grandes centros urbanos, mais especificamente à capital Teerã. O grupo oposicionista é organizado e barulhento, e o seu reclamo é ecoado pela mídia ocidental, que desde o início demonstra pouco entusiasmo com o presidente iraniano. Sabe-se que há, por outro lado, manifestações favoráveis ao presidente reeleito; mas elas não parecem contar com a mesma simpatia por parte da imprensa do ocidente.
E se o assunto é achismo puro e simples, vou externar uma opinião meio amalucada: eu, “euzinho da silva”, acho que o Brasil não esteve muito longe de situação parecida. Em 2006, se o candidato Alckmin não tivesse decepcionado parcela de seus eleitores e, especialmente, parte da imprensa, sobretudo por não ter tido coragem de defender o legado privatista dele e de seu partido, não seria de descartar que se ameaçasse falar em fraude ou em abusos e coisas do gênero para tentar melar a acachapante vitória de Lula.
Imaginemos a cena: a classe média paulista sairia às ruas, concentrar-se-ia na Av. Paulista e com a ajuda da mídia convocaria outras manifestações em grandes centros urbanos do sul-sudeste; as imagens rodariam o planeta nas telas da CNN e parariam nas páginas de internacionais dos jornais estrangeiros. Ipso facto, estariam todos mundo afora papagaiando que o presidente "populista caudilho" do Brasil fraudara as eleições. Ademais, haveria um Marco Aurélio Mello para jogar gasolina na fogueira.
Viagem pura? Certamente que é. Estou a afirmá-lo desde o começo. Mas, sincera e modestamente, não acho que meu achismo seja mais irresponsável ou mais ridículo do que o dos outros.