sábado, 25 de outubro de 2014

Dois modelos

 O blog traz novo texto do jornalista Lenon Hymalaia sobre a sucessão presidencial de 2014. SE pudéssemos resumir, diríamos: não temos que escolher entre dois candidatos; estamos à frente de dois projetos. Faça a sua opção! Leia abaixo.

Dos modelos de governo propostos, Das teorias do capitalismo e Do conhecimento político do brasileiro.

A busca por conhecimento é, talvez, a única forma de ficarmos isentos de prejuízos políticos ou de qualquer outro tipo de malefício que venha a nos prejudicar como seres humanos e, acima de tudo, como sociedade. Isto posto, começo este ensaio dizendo, antes de qualquer coisa, que é extremamente positivo para a democracia saber diferenciar sistemas políticos, uma vez que determinada escolha representa questões que nos atingem diretamente, social e ideologicamente.

Sou jornalista há quase duas décadas. Exerço a profissão. Para tentar entender um pouco o Brasil e as questões sociais do País, tenho procurado me aprofundar em informações transmitidas não pela mídia tradicional, mas sim pela mídia alternativa brasileira, que, ao contrário dos grandes veículos, são mais fiéis nas informações e permitem enxergar algumas coisas interessantes no que diz respeito a esta eleição. Por ser jornalista e por estar envolvido diariamente com a imprensa acabo conhecendo muito do que acontece nesse meio. E é lamentável dizer que, após quase duas décadas de dedicação à profissão, eu não acredito nenhum pouco na grande imprensa brasileira. Quase toda a mídia brasileira (rádios, jornais, revistas, sites e TV) tem um lado - a direita -, e é pró PSDB e seu estilo de política neoliberal, com raríssimas exceções. Portanto, tento me informar e fugir da alienação incentivada pela mídia.
Mas o que me traz aqui diz mais respeito à política do que à mídia em si. Esses dias o jornalista Paulo Moreira Leite (uma das raras exceções que faz parte do “quase toda a mídia”) publicou um artigo que dizia o seguinte: "Minha razão para votar em Dilma tem origem na convicção fundamental de que o dever principal do Estado e dos governantes é defender os humildes e os desprotegidos, os que não tiveram oportunidade". O artigo era longo, e esclarecia muito bem a questão do capitalismo de Estado e das questões sociais brasileiras. Para o jornalista “nunca foi tão necessário derrotar o pensamento conservador, o eterno obscurantismo que tenta fazer a roda da História andar para trás”(http://paulomoreiraleite.com/2014/10/01/voto-em-dilma/). Está aí para quem quiser ver e ler.
Eu concordo com ele. O que está em jogo no momento são modelos muito diferentes de governar o Brasil. Aliás, está em jogo a construção de dois Brasis completamente diferente. O modelo neoliberal proposto por Aécio é o mesmo utilizado na Europa e nos EUA (com uma ou outra modificação). E é este mesmo modelo que tragou as economias europeia e americana recentemente.

Após a crise de 29, a mais trágica da história do capitalismo, o filósofo e economista inglês John Keynes, um dos maiores pensadores do século XX, desenvolveu o que hoje conhecemos como teoria Keynesiana. E o que é a teoria Keynesiana?  Em resumo, essa teoria tem como premissa um capitalismo controlado pelo Estado (o que o Governo Dilma faz hoje). Keynes mostrou, no início dos anos 30, ser um completo erro deixar a economia de toda uma nação nas mãos do mercado, pois as crises capitalistas, em decorrência do capital especulativo, podem fugir ao controle (alguém aí se lembra de 2008)?

Para resumir, para Keynes, um poder maior do Estado na economia impediria as oscilações do capitalismo e permitiria ao Estado propiciar investimentos na economia, resultando em bom crescimento e baixo desemprego (hoje, no Brasil, vivemos uma situação de pleno emprego, como todos sabem. Com relação à economia, estamos passando por um processo complexo, que explico mais abaixo).
O problema das crises capitalistas é tão complexo que o filósofo e sociólogo alemão Jürgen Habermas, um dos maiores pensadores contemporâneos, também mostrou, da mesma forma, na década de 70, as falhas do sistema capitalista. Em seu livro “A Crise de Legitimação do Capitalismo Tardio”(http://pt.wikipedia.org/wiki/Jürgen_Habermas e http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=73993), Habermas afirma que o capitalismo, sozinho, tem crises cíclicas complexas de tempos e tempos, o que traria problemas graves às sociedades modernas, corroborando com a teoria de Keynes, no que diz respeito à importância do Estado como gestor econômico.
Para os brasileiros que não estão muito antenados com a política a questão é a seguinte: Aécio, seus apoiadores e toda a turma da direita querem implantar no Brasil de hoje um modelo similar e responsável pela quebra dos países europeus nos últimos anos e até dos EUA, em 2008, quando estourou a crise dos subprimes. E é aqui que entra a questão econômica. Para não nos alongarmos, nossa economia tem patinado desde 2008, por consequência da grave crise que fez muitas nações quebrar. Nós não quebramos, como acontecia na Era do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ao contrário. O governo do PT, em uma das medidas para proteger a economia e o País, passou a potencializar o consumo interno e isso surtiu bons efeitos no início do processo. A questão principal, no entanto, foi que as nações fortemente afetadas pela crise não conseguiram se recuperar e o Brasil, sozinho, devido à globalização e ao processo “dominó” produzido por ela, não consegue deslanchar, muito em consequência da crise, uma vez que as grandes nações do mundo ainda estão sob seu efeito, que à época foi devastador.
O que Aécio e sua turma querem fazer, em resumo, é reimplanar no Brasil o modelo utilizado por FHC, que tem como uma de suas bases a teoria do economista Milton Friedman, teórico do liberalismo econômico, que defendia o livre mercado absoluto e considerado o maior defensor do Liberalismo econômico e da subsequente redução das funções do Estado frente ao domínio do mercado livre(http://pt.wikipedia.org/wiki/Milton_Friedman)
O que tudo isso significa: o PSDB fará uma política tipicamente de direita, responsável pelas maiores crises capitalistas da história humana. Uma política que devido à sua fórmula, nos dias atuais, só beneficiará as classes alta e média alta. Na Era FHC, os juros chegaram a 45% ao ano e milhões de brasileiros estavam desempregados. O provável ministro da Fazenda, caso Aécio seja eleito (Armínio Fraga), já disse que fará um política de cortes de salários (entenda salário mínimo e seguro desemprego) para supostamente "reduzir" a inflação, que hoje está em 6,5%.

Só para conhecimento, nas melhores épocas do governo FHC, que tinha o próprio Armínio Fraga como presidente do Banco Central, a inflação estava em 12,5%. Se Armínio Fraga voltar, sabe quem ganhará com isso? Os bancos, os especuladores nacionais e internacionais e os mega empresários e bancários que apoiam Aécio. Correremos o risco de ficarmos à mercê deles e, o principal, pelo estilo tucano de governar, talvez dependamos de ajuda financeira novamente - FMI (veja issohttp://www.youtube.com/watch?v=J5_s8V5tYus e isso http://www.youtube.com/watch?v=8_2coidyxOk).
É justamente aí que está a diferença. O que o PT faz atualmente uma política que segue os princípios Keynesianos e de observação a todos os problemas que o capitalismo pode apresentar, como bem observou o filósofo Jürgen Habermas. O resultado está aí: 30 milhões de brasileiros estão fora da linha da pobreza extrema. A proposta do Aécio, apenas para constar, é uma das mais atrasadas e há muito, muito tempo mesmo, já não funciona.
Por tudo isso sou mais a visão de governo da Dilma e do PT. Ainda temos problemas? Temos, é verdade. Mas é uma política que tem o povo em primeiro lugar. É uma política de amor pelo Brasil. É uma política de valorização do brasileiro. É uma política que fortalece nossas instituições. E é uma política que olhou para o passado, observou as grandes crises e faz de tudo para proteger nossa população.

Lenon Hymalaia - jornalista pós-graduado em Globalização e Cultura pela Escola Superior de Sociologia e Política de São Paulo – FESPSP.

sábado, 18 de outubro de 2014

Opinião: texto do jornalista Lenon Hymalaia

Da Esquerda e da Direita, da Imprensa brasileira, dos benefícios editoriais à Direita e da blindagem que a mídia faz em benefício dos tucanos.

*Lenon Hymalaia

Já expus, por diversas vezes, minhas convicções políticas. E minhas convicções políticas vêm 
fundamentadas em dois princípios básicos garantidos pela constituição, a saber: liberdade e igualdade, em todas as questões, para todos os brasileiros.

Aqueles que acompanham política e conhecem o mínimo necessário para não se deixar alienar, para não se deixar contaminar, sabem que isso, no Brasil, por conta da história medíocre deste País, que sempre beneficiou o mercado e a classe alta, relegando ao povo a miséria, só pode ser feito com um capitalismo de Estado.

Antes de mais nada, quero dizer que sou a favor da alternância de poder. Mas, acima de tudo, não desejo que isso ocorra a qualquer custo. Atualmente, milhares e milhares de brasileiros, infelizmente, carecem de ajuda. E essa ajuda, só quem pode propiciar é um Estado que enxergue o povo em primeiro lugar.

Há alguns dias compartilhei um artigo do filósofo Leonardo Boff, cujo título, por si só, já dizia muito sobre o que está em jogo nestas eleições: "As eleições à luz da história antipovo". Com maestria, o filósofo apontava não apenas as ideologias dos partidos que, agora, disputam o 2º turno das eleições presidenciais, bem como traçava um panorama histórico de tudo o que não foi feito em prol do povo brasileiro nestes 514 anos de vida do Brasil.

Mas eu quero ir além. O resquício perturbador que carregamos em nosso DNA e que nos faz irmos diretamente contra o nosso próprio povo não vem apenas de nossa herança recente, mas vem, sem dúvida, desde à Casa Grande. E não há mal pior do que isso. Pobres, negros e nordestinos sempre foram relegados à própria sorte na história. Nunca tiveram direito nem ao básico e nunca foram tratados como gente no Brasil. Não é exagero afirmar isso. Nossa própria história está aí para mostrar.

Atualmente, há um sentimento de ódio, principalmente nos Estados ricos do País, contra as políticas sociais desenvolvidas nos últimos anos pelos governos do PT. Há algumas razões para isso, tema que debaterei em outro post. No momento, quero exemplificar no tocante à imprensa.

Você, brasileiro médio, já parou para pensar no porquê deste sentimento de ódio? A resposta enfática e certeira para isso tem um único nome: imprensa! No Brasil poucos sabem que não há mídia de esquerda.
Existem, mas ainda não têm tanta representatividade. E há uma campanha imensa por parte da mídia direitista que está aí para difamar o governo do PT por conta das ações desenvolvidas até hoje em benefício dos menos favorecidos.

Esses dias saiu um dado bastante interessante sobre a imprensa, justamente a esse respeito: em nenhuma outra república do mundo acontece o que há no Brasil no que diz respeito à imprensa. Em Nenhuma outra república! Desde a Era Vargas e, depois, na ditadura militar (apoiada por parte da imprensa, lembrem-se disso) nenhum outro governo "apanhou" tanto da imprensa como o Governo do PT. E o pior: só por adotar políticas sociais que tentam fazer um acerto de contas histórico com aqueles que mais necessitam, tentando controlar, o que é, do meu ponto de vista, o poder do mercado.

Sabe qual foi o resultado disso, infelizmente? Sentimentos de ódio, raiva, desânimo e desapego com a política, e por aí vai.

A questão é tão complexa que neste final de semana o governador do Rio Grande do Sul e candidato à reeleição pelo PT, Tarso Genro, denunciou o que venho dizendo para alguns amigos faz anos: a imprensa do Brasil quer dar um golpe político para tentar derrubar o governo. Não se trata de desvarios. Está aí para quem quiser ver e entender (http://www.youtube.com/watch?v=RN8RhHqFe1I
). Em coro ao candidato Tarso Genro, o neto de João Goulart, presidente deposto pelo Golpe Militar, João Alexandre Goulart, declarou nos últimos dias que o “cerco sofrido por Dilma é maior e pior do que o enfrentado pelo avô dele”.

A verdade é só uma: a imprensa dá pesos e medidas diferentes, de acordo com seus próprios interesses. A crise hídrica de São Paulo, para a imprensa brasileira, por exemplo, é culpa de São Pedro e não da incompetência do PSDB e dos tucanos que estão há mais de 20 anos gerindo o Estado.

Dando nome aos bois, para se ter uma ideia concreta do quanto a Veja, a Folha, o Estadão, a Globo, a Band, o Valor Econômico e muitos outros canais de imprensa fazem vistas grossas para a corrupção dos governos tucanos, vai um dado muito interessante: o dinheiro desviado da ação penal 470
 (se é que houve dinheiro desviado, pois a mesma justiça que não conseguiu provar a existência do chamado Mensalão condenou os réus sem provas), que a mídia convencionou a chamar de "mensalão", foi 8 vezes (ISSO MESMO, 8 VEZES) menor do que o dinheiro desviado na reforma e na compra dos trens de São Paulo (este sim, uma esquema com provas). Ou seja: o cartel do metrô de São Paulo desviou quase R$ 1 bilhão de reais (http://brasil.elpais.com/brasil/2014/02/04/politica/1391471831_386271.html) e a imprensa, conivente com os tucanos, nada fala sobre isso, se cala.

Outro ponto interessante: As denúncias de compra de votos para a reeleição de FHC até foram aceitas pela imprensa, mas nunca foram questionadas a fundo. E as denúncias existem e muitos garantem que há provas. Os jornais mostram isso? As revistas denunciam e dizem o que foi esse esquema? Os noticiários televisivos falam disso?

E o que dizer do chamado mensalão mineiro? O Supremo Tribunal Federal 
deu pesos e medidas diferentes aos julgamentos do chamado "mensalão" do PT e ao mensalão do PSDB em Minas. Inclusive, aceitou a renúncia do candidato do PSDB, mas negou aos candidatos do PT que, mesmo deixando os cargos, foram punidos!

Sem contar o debate sobre o processo de regulamentação da mídia, que seria muito benéfico ao país, que a direita não deixa fazer (principalmente a Veja, o Estadão, a Folha e a Globo). Vale destacar que esta última já dependeu do BNDES e esteve recentemente envolvida em denúncias de sonegação.

Pois bem. O que eu estou querendo mostrar é o seguinte: Existem dois lados, duas lutas no Brasil. A primeira tenta construir um Brasil para todos, priorizando os mais pobres, os mais necessitados. A outra, nitidamente, deseja favorecer as classes mais ricas e favorecer os milionários (vejam artigo publicado na revista Carta Capital, "Separatismo de São Paulo incorpora Antipetismo" http://www.cartacapital.com.br/politica/separatismo-de-sao-paulo-incorpora-antipetismo-8127.html ). Toda a mídia está com a segunda opção. E talvez seja por isso que a maioria da população de São Paulo, por falta de acesso à informação política (em virtude da parcialidade do monopólio midiático), tem um sentimento extremamente negativo com relação ao PT, às políticas sociais desenvolvidas pelo partido em benefício dos menos favorecidos e ao processo democrático como um todo.

Sou da opinião de que só o conhecimento pode esclarecer todas as mentiras que são ditas pela imprensa. A política é uma coisa interessante e só pela política podemos mudar o Brasil. Por isso é muito interessante e positivo para a democracia quando as pessoas se interessam pela política.

Não tenho dúvidas em quem votarei e qual é a melhor opção para o Brasil. O modelo neoliberal proposto por Aécio e pelos tucanos é maléfico para o País. Observo que foi este mesmo modelo que destruiu a economia mundial.

E para aqueles que criticam o modelo econômico adotado pelo atual governo é interesse notarmos q
ue, de uma maneira geral, por vivermos em um mundo globalizado, se não estamos crescendo, é muito em conta do que tem acontecido no mundo desde 2008, quando estourou a crise dos Subprimes e que levou à quebra do Lehman Brothers, nos EUA, e por consequência, arrastou o resto do mundo para uma recessão histórica, só comparada à crise de 1929, também nos EUA.

Votar é o maior exercício democrático que podemos fazer. É a maior prova de amor que podemos dar ao nosso País. Por isso, não seja conivente com a história "antipovo". O Brasil nunca antes havia sido governado por partidos de esquerda. A esquerda está aí há apenas 12 anos e muita, muita coisa mudou nesta década. Então, neste segundo turno, faça história. Opte por um projeto que, se ainda não é perfeito, ao menos tenta priorizar nossas raízes, nosso povo, e propõe um acerto de contas
 histórico com nossos irmãos brasileiros menos favorecidos.

Lenon Hymalaia – Jornalista pós-graduado em Globalização e Cultura pela Fundação Escola Superior de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP).