sábado, 8 de novembro de 2014

Choro do PSDB: tudo normal!

A choradeira do PSDB quanto à lisura das eleições presidenciais de 2014 não deve ser motivo para surpresas. Primeiramente porque o modelo brasileiro de urna eletrônica predispõe mesmo a fraudes, não devendo causar espécie alguém dela desconfiar, nem que seja por princípio. Em segundo lugar, porque resultados apertados existem mesmo para a parte perdedora espernear, já que resolvida nos detalhes - ressalte-se que mesmo sob um eventual resultado mais elástico, bastaria um quadro de grande radicalização e exacerbamento da polarização (como havido neste ano) para abrir campo para berreiros dessa espécie.

Em mensagens particulares enviadas a amigos, este blogueiro já havia antecipado a suspeita de que nos depararíamos com esse quadro. Vou colar trechos. A primeira foi em comentário de 07.10.2014 acerca de possível relação entre as chamadas jornadas de junho de 2013 e os resultados mais pró-direita do primeiro turno:
"(...) Tudo isso só para dizer que os resultados das urnas, sobretudo a escolha para os parlamentos, em nada me surpreendem. Eles são o resultado da guinada conservadora que ficou clara nos movimentos de junho de 2013. A cereja do bolo seria a derrota de Dilma, que, acho, não ocorrerá. Mas a vitória macérrima que ela terá provavelmente vai convocar novas manifestações, as quais deixarão novamente a esquerda perplexa e – de novo – com medo de dizer que não gostou do que viu."
Na mesma data, comentei especificamente sobre o segundo turno entre Dilma Rousseff e Aécio Neves, com resultado fantástico para o segundo, o que me fazia relembrar 2006:
"(...) Em 2006, Alckmin teve menos votos no segundo turno do que no primeiro. Não somente não espero que isso ocorra agora, como ainda acho que Aécio crescerá muito, impondo ao petismo a sua mais magra vitória desde 2002 (52 vírgula qualquer coisa de Dilma X 47 vírgula alguma coisa de Aécio – perdõem-me pela minha porção mãe dinah). Para ser melhor que isso, Dilma precisaria ter um desempenho fantástico como Lula teve no segundo turno de 2006, o que é muito difícil: Dilma é talentosa mas não é genial como Lula; Aécio tem mais telhados de vidro, mas é mais carismático e mais bem articulado que Alckmin. (...)" 
Lembro-me de cabeça de ter lido, de alguém que pensei à época ser adepto de teorias da conspiração, haver orientação da CIA para que derrotados simpáticos a Washington sempre gritem por fraude - de forma bem barulhenta - quando as condições permitirem. Depois de Edward Snowden, já não acho que "teorias da conspiração" envolvendo os Estados Unidos sejam tão teorias da conspiração assim!

A verdade é que a "vitória mácerrima" da presidenta Dilma foi a condição que permitia abrir espaço para gritarias.

Mas para dar prova mais incontestável da absoluta falta de espanto do autor destas maldigitadas com o choro dos tucanos vou colar texto aqui publicado em 19 de junho de 2009, que falava justamente das manifestações sobre suspeitas de fraude em eleições no Irã. Leia abaixo:


SEXTA-FEIRA, 19 DE JUNHO DE 2009
Irã: eu acho...
O bacana de se pilotar um blog é poder ficar dando pitacos sobre os mais diversos assuntos de forma mais ou menos impune. Além disso, pode-se dormir com a consciência tranqüila por não estar investido da autoridade dos especialistas. É só “achismo” mesmo e ponto final.
Os chamados cientistas políticos não deveriam gozar da mesma cuca fresca, pois se aproveitam de sua condição para fazer comentários e vaticínios deveras particulares sob a aura de uma suposta expertise. Ao agir desse modo, no mais das vezes com acentuado viés ideológico e deixando transparecer seus desejos e idiossincrasias, recusam, em verdade, a honestidade intelectual e a objetividade científica possível de que fala Max Weber na sua famosa conferência intitulada A ciência como vocação.
Vamos aqui, “acientificamente”, apenas revelar nossas impressões sobre o que ocorre no Irã. (Até porque não dá para ter muito mais do que isso: meras impressões).
Eu, “euzinho da silva”, acho que não houve fraude nas eleições do Irã. O presidente Mahmoud Ahmadinejad provavelmente ganhou mesmo. Volto a dizer, trata-se, obviamente, de mera opinião pessoal. Não posso afirmar que não tenha havido fraude. Ninguém pode. Mas ninguém – repito, ninguém - pode também afirmar peremptoriamente que houve. Certo está o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que atribuiu as comoções naquele país a uma provável choradeira dos derrotados. Errados estão os colunistas da grande imprensa, como Merval Pereira e Dora Kramer, que tentam desautorizar o presidente brasileiro por ele estar apoiando o seu colega iraniano reeleito. (Em realidade, Lula não está necessariamente dando apoio a Ahmadinejad; apenas faz aquilo que seria de se esperar de qualquer pessoa de bom senso: reconhecer os resultados das urnas de um país soberano; e se for o caso de haver alguma coisa errada por lá, o melhor a fazer é aguardar com cautela antes de sair atirando pedras).
Pelo que se depreende das notícias que chegam do país islâmico, as manifestações estão restritas aos grandes centros urbanos, mais especificamente à capital Teerã. O grupo oposicionista é organizado e barulhento, e o seu reclamo é ecoado pela mídia ocidental, que desde o início demonstra pouco entusiasmo com o presidente iraniano. Sabe-se que há, por outro lado, manifestações favoráveis ao presidente reeleito; mas elas não parecem contar com a mesma simpatia por parte da imprensa do ocidente.
E se o assunto é achismo puro e simples, vou externar uma opinião meio amalucada: eu, “euzinho da silva”, acho que o Brasil não esteve muito longe de situação parecida. Em 2006, se o candidato Alckmin não tivesse decepcionado parcela de seus eleitores e, especialmente, parte da imprensa, sobretudo por não ter tido coragem de defender o legado privatista dele e de seu partido, não seria de descartar que se ameaçasse falar em fraude ou em abusos e coisas do gênero para tentar melar a acachapante vitória de Lula.
Imaginemos a cena: a classe média paulista sairia às ruas, concentrar-se-ia na Av. Paulista e com a ajuda da mídia convocaria outras manifestações em grandes centros urbanos do sul-sudeste; as imagens rodariam o planeta nas telas da CNN e parariam nas páginas de internacionais dos jornais estrangeiros. Ipso facto, estariam todos mundo afora papagaiando que o presidente "populista caudilho" do Brasil fraudara as eleições. Ademais, haveria um Marco Aurélio Mello para jogar gasolina na fogueira.
Viagem pura? Certamente que é. Estou a afirmá-lo desde o começo. Mas, sincera e modestamente, não acho que meu achismo seja mais irresponsável ou mais ridículo do que o dos outros.

sábado, 25 de outubro de 2014

Dois modelos

 O blog traz novo texto do jornalista Lenon Hymalaia sobre a sucessão presidencial de 2014. SE pudéssemos resumir, diríamos: não temos que escolher entre dois candidatos; estamos à frente de dois projetos. Faça a sua opção! Leia abaixo.

Dos modelos de governo propostos, Das teorias do capitalismo e Do conhecimento político do brasileiro.

A busca por conhecimento é, talvez, a única forma de ficarmos isentos de prejuízos políticos ou de qualquer outro tipo de malefício que venha a nos prejudicar como seres humanos e, acima de tudo, como sociedade. Isto posto, começo este ensaio dizendo, antes de qualquer coisa, que é extremamente positivo para a democracia saber diferenciar sistemas políticos, uma vez que determinada escolha representa questões que nos atingem diretamente, social e ideologicamente.

Sou jornalista há quase duas décadas. Exerço a profissão. Para tentar entender um pouco o Brasil e as questões sociais do País, tenho procurado me aprofundar em informações transmitidas não pela mídia tradicional, mas sim pela mídia alternativa brasileira, que, ao contrário dos grandes veículos, são mais fiéis nas informações e permitem enxergar algumas coisas interessantes no que diz respeito a esta eleição. Por ser jornalista e por estar envolvido diariamente com a imprensa acabo conhecendo muito do que acontece nesse meio. E é lamentável dizer que, após quase duas décadas de dedicação à profissão, eu não acredito nenhum pouco na grande imprensa brasileira. Quase toda a mídia brasileira (rádios, jornais, revistas, sites e TV) tem um lado - a direita -, e é pró PSDB e seu estilo de política neoliberal, com raríssimas exceções. Portanto, tento me informar e fugir da alienação incentivada pela mídia.
Mas o que me traz aqui diz mais respeito à política do que à mídia em si. Esses dias o jornalista Paulo Moreira Leite (uma das raras exceções que faz parte do “quase toda a mídia”) publicou um artigo que dizia o seguinte: "Minha razão para votar em Dilma tem origem na convicção fundamental de que o dever principal do Estado e dos governantes é defender os humildes e os desprotegidos, os que não tiveram oportunidade". O artigo era longo, e esclarecia muito bem a questão do capitalismo de Estado e das questões sociais brasileiras. Para o jornalista “nunca foi tão necessário derrotar o pensamento conservador, o eterno obscurantismo que tenta fazer a roda da História andar para trás”(http://paulomoreiraleite.com/2014/10/01/voto-em-dilma/). Está aí para quem quiser ver e ler.
Eu concordo com ele. O que está em jogo no momento são modelos muito diferentes de governar o Brasil. Aliás, está em jogo a construção de dois Brasis completamente diferente. O modelo neoliberal proposto por Aécio é o mesmo utilizado na Europa e nos EUA (com uma ou outra modificação). E é este mesmo modelo que tragou as economias europeia e americana recentemente.

Após a crise de 29, a mais trágica da história do capitalismo, o filósofo e economista inglês John Keynes, um dos maiores pensadores do século XX, desenvolveu o que hoje conhecemos como teoria Keynesiana. E o que é a teoria Keynesiana?  Em resumo, essa teoria tem como premissa um capitalismo controlado pelo Estado (o que o Governo Dilma faz hoje). Keynes mostrou, no início dos anos 30, ser um completo erro deixar a economia de toda uma nação nas mãos do mercado, pois as crises capitalistas, em decorrência do capital especulativo, podem fugir ao controle (alguém aí se lembra de 2008)?

Para resumir, para Keynes, um poder maior do Estado na economia impediria as oscilações do capitalismo e permitiria ao Estado propiciar investimentos na economia, resultando em bom crescimento e baixo desemprego (hoje, no Brasil, vivemos uma situação de pleno emprego, como todos sabem. Com relação à economia, estamos passando por um processo complexo, que explico mais abaixo).
O problema das crises capitalistas é tão complexo que o filósofo e sociólogo alemão Jürgen Habermas, um dos maiores pensadores contemporâneos, também mostrou, da mesma forma, na década de 70, as falhas do sistema capitalista. Em seu livro “A Crise de Legitimação do Capitalismo Tardio”(http://pt.wikipedia.org/wiki/Jürgen_Habermas e http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=73993), Habermas afirma que o capitalismo, sozinho, tem crises cíclicas complexas de tempos e tempos, o que traria problemas graves às sociedades modernas, corroborando com a teoria de Keynes, no que diz respeito à importância do Estado como gestor econômico.
Para os brasileiros que não estão muito antenados com a política a questão é a seguinte: Aécio, seus apoiadores e toda a turma da direita querem implantar no Brasil de hoje um modelo similar e responsável pela quebra dos países europeus nos últimos anos e até dos EUA, em 2008, quando estourou a crise dos subprimes. E é aqui que entra a questão econômica. Para não nos alongarmos, nossa economia tem patinado desde 2008, por consequência da grave crise que fez muitas nações quebrar. Nós não quebramos, como acontecia na Era do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ao contrário. O governo do PT, em uma das medidas para proteger a economia e o País, passou a potencializar o consumo interno e isso surtiu bons efeitos no início do processo. A questão principal, no entanto, foi que as nações fortemente afetadas pela crise não conseguiram se recuperar e o Brasil, sozinho, devido à globalização e ao processo “dominó” produzido por ela, não consegue deslanchar, muito em consequência da crise, uma vez que as grandes nações do mundo ainda estão sob seu efeito, que à época foi devastador.
O que Aécio e sua turma querem fazer, em resumo, é reimplanar no Brasil o modelo utilizado por FHC, que tem como uma de suas bases a teoria do economista Milton Friedman, teórico do liberalismo econômico, que defendia o livre mercado absoluto e considerado o maior defensor do Liberalismo econômico e da subsequente redução das funções do Estado frente ao domínio do mercado livre(http://pt.wikipedia.org/wiki/Milton_Friedman)
O que tudo isso significa: o PSDB fará uma política tipicamente de direita, responsável pelas maiores crises capitalistas da história humana. Uma política que devido à sua fórmula, nos dias atuais, só beneficiará as classes alta e média alta. Na Era FHC, os juros chegaram a 45% ao ano e milhões de brasileiros estavam desempregados. O provável ministro da Fazenda, caso Aécio seja eleito (Armínio Fraga), já disse que fará um política de cortes de salários (entenda salário mínimo e seguro desemprego) para supostamente "reduzir" a inflação, que hoje está em 6,5%.

Só para conhecimento, nas melhores épocas do governo FHC, que tinha o próprio Armínio Fraga como presidente do Banco Central, a inflação estava em 12,5%. Se Armínio Fraga voltar, sabe quem ganhará com isso? Os bancos, os especuladores nacionais e internacionais e os mega empresários e bancários que apoiam Aécio. Correremos o risco de ficarmos à mercê deles e, o principal, pelo estilo tucano de governar, talvez dependamos de ajuda financeira novamente - FMI (veja issohttp://www.youtube.com/watch?v=J5_s8V5tYus e isso http://www.youtube.com/watch?v=8_2coidyxOk).
É justamente aí que está a diferença. O que o PT faz atualmente uma política que segue os princípios Keynesianos e de observação a todos os problemas que o capitalismo pode apresentar, como bem observou o filósofo Jürgen Habermas. O resultado está aí: 30 milhões de brasileiros estão fora da linha da pobreza extrema. A proposta do Aécio, apenas para constar, é uma das mais atrasadas e há muito, muito tempo mesmo, já não funciona.
Por tudo isso sou mais a visão de governo da Dilma e do PT. Ainda temos problemas? Temos, é verdade. Mas é uma política que tem o povo em primeiro lugar. É uma política de amor pelo Brasil. É uma política de valorização do brasileiro. É uma política que fortalece nossas instituições. E é uma política que olhou para o passado, observou as grandes crises e faz de tudo para proteger nossa população.

Lenon Hymalaia - jornalista pós-graduado em Globalização e Cultura pela Escola Superior de Sociologia e Política de São Paulo – FESPSP.

sábado, 18 de outubro de 2014

Opinião: texto do jornalista Lenon Hymalaia

Da Esquerda e da Direita, da Imprensa brasileira, dos benefícios editoriais à Direita e da blindagem que a mídia faz em benefício dos tucanos.

*Lenon Hymalaia

Já expus, por diversas vezes, minhas convicções políticas. E minhas convicções políticas vêm 
fundamentadas em dois princípios básicos garantidos pela constituição, a saber: liberdade e igualdade, em todas as questões, para todos os brasileiros.

Aqueles que acompanham política e conhecem o mínimo necessário para não se deixar alienar, para não se deixar contaminar, sabem que isso, no Brasil, por conta da história medíocre deste País, que sempre beneficiou o mercado e a classe alta, relegando ao povo a miséria, só pode ser feito com um capitalismo de Estado.

Antes de mais nada, quero dizer que sou a favor da alternância de poder. Mas, acima de tudo, não desejo que isso ocorra a qualquer custo. Atualmente, milhares e milhares de brasileiros, infelizmente, carecem de ajuda. E essa ajuda, só quem pode propiciar é um Estado que enxergue o povo em primeiro lugar.

Há alguns dias compartilhei um artigo do filósofo Leonardo Boff, cujo título, por si só, já dizia muito sobre o que está em jogo nestas eleições: "As eleições à luz da história antipovo". Com maestria, o filósofo apontava não apenas as ideologias dos partidos que, agora, disputam o 2º turno das eleições presidenciais, bem como traçava um panorama histórico de tudo o que não foi feito em prol do povo brasileiro nestes 514 anos de vida do Brasil.

Mas eu quero ir além. O resquício perturbador que carregamos em nosso DNA e que nos faz irmos diretamente contra o nosso próprio povo não vem apenas de nossa herança recente, mas vem, sem dúvida, desde à Casa Grande. E não há mal pior do que isso. Pobres, negros e nordestinos sempre foram relegados à própria sorte na história. Nunca tiveram direito nem ao básico e nunca foram tratados como gente no Brasil. Não é exagero afirmar isso. Nossa própria história está aí para mostrar.

Atualmente, há um sentimento de ódio, principalmente nos Estados ricos do País, contra as políticas sociais desenvolvidas nos últimos anos pelos governos do PT. Há algumas razões para isso, tema que debaterei em outro post. No momento, quero exemplificar no tocante à imprensa.

Você, brasileiro médio, já parou para pensar no porquê deste sentimento de ódio? A resposta enfática e certeira para isso tem um único nome: imprensa! No Brasil poucos sabem que não há mídia de esquerda.
Existem, mas ainda não têm tanta representatividade. E há uma campanha imensa por parte da mídia direitista que está aí para difamar o governo do PT por conta das ações desenvolvidas até hoje em benefício dos menos favorecidos.

Esses dias saiu um dado bastante interessante sobre a imprensa, justamente a esse respeito: em nenhuma outra república do mundo acontece o que há no Brasil no que diz respeito à imprensa. Em Nenhuma outra república! Desde a Era Vargas e, depois, na ditadura militar (apoiada por parte da imprensa, lembrem-se disso) nenhum outro governo "apanhou" tanto da imprensa como o Governo do PT. E o pior: só por adotar políticas sociais que tentam fazer um acerto de contas histórico com aqueles que mais necessitam, tentando controlar, o que é, do meu ponto de vista, o poder do mercado.

Sabe qual foi o resultado disso, infelizmente? Sentimentos de ódio, raiva, desânimo e desapego com a política, e por aí vai.

A questão é tão complexa que neste final de semana o governador do Rio Grande do Sul e candidato à reeleição pelo PT, Tarso Genro, denunciou o que venho dizendo para alguns amigos faz anos: a imprensa do Brasil quer dar um golpe político para tentar derrubar o governo. Não se trata de desvarios. Está aí para quem quiser ver e entender (http://www.youtube.com/watch?v=RN8RhHqFe1I
). Em coro ao candidato Tarso Genro, o neto de João Goulart, presidente deposto pelo Golpe Militar, João Alexandre Goulart, declarou nos últimos dias que o “cerco sofrido por Dilma é maior e pior do que o enfrentado pelo avô dele”.

A verdade é só uma: a imprensa dá pesos e medidas diferentes, de acordo com seus próprios interesses. A crise hídrica de São Paulo, para a imprensa brasileira, por exemplo, é culpa de São Pedro e não da incompetência do PSDB e dos tucanos que estão há mais de 20 anos gerindo o Estado.

Dando nome aos bois, para se ter uma ideia concreta do quanto a Veja, a Folha, o Estadão, a Globo, a Band, o Valor Econômico e muitos outros canais de imprensa fazem vistas grossas para a corrupção dos governos tucanos, vai um dado muito interessante: o dinheiro desviado da ação penal 470
 (se é que houve dinheiro desviado, pois a mesma justiça que não conseguiu provar a existência do chamado Mensalão condenou os réus sem provas), que a mídia convencionou a chamar de "mensalão", foi 8 vezes (ISSO MESMO, 8 VEZES) menor do que o dinheiro desviado na reforma e na compra dos trens de São Paulo (este sim, uma esquema com provas). Ou seja: o cartel do metrô de São Paulo desviou quase R$ 1 bilhão de reais (http://brasil.elpais.com/brasil/2014/02/04/politica/1391471831_386271.html) e a imprensa, conivente com os tucanos, nada fala sobre isso, se cala.

Outro ponto interessante: As denúncias de compra de votos para a reeleição de FHC até foram aceitas pela imprensa, mas nunca foram questionadas a fundo. E as denúncias existem e muitos garantem que há provas. Os jornais mostram isso? As revistas denunciam e dizem o que foi esse esquema? Os noticiários televisivos falam disso?

E o que dizer do chamado mensalão mineiro? O Supremo Tribunal Federal 
deu pesos e medidas diferentes aos julgamentos do chamado "mensalão" do PT e ao mensalão do PSDB em Minas. Inclusive, aceitou a renúncia do candidato do PSDB, mas negou aos candidatos do PT que, mesmo deixando os cargos, foram punidos!

Sem contar o debate sobre o processo de regulamentação da mídia, que seria muito benéfico ao país, que a direita não deixa fazer (principalmente a Veja, o Estadão, a Folha e a Globo). Vale destacar que esta última já dependeu do BNDES e esteve recentemente envolvida em denúncias de sonegação.

Pois bem. O que eu estou querendo mostrar é o seguinte: Existem dois lados, duas lutas no Brasil. A primeira tenta construir um Brasil para todos, priorizando os mais pobres, os mais necessitados. A outra, nitidamente, deseja favorecer as classes mais ricas e favorecer os milionários (vejam artigo publicado na revista Carta Capital, "Separatismo de São Paulo incorpora Antipetismo" http://www.cartacapital.com.br/politica/separatismo-de-sao-paulo-incorpora-antipetismo-8127.html ). Toda a mídia está com a segunda opção. E talvez seja por isso que a maioria da população de São Paulo, por falta de acesso à informação política (em virtude da parcialidade do monopólio midiático), tem um sentimento extremamente negativo com relação ao PT, às políticas sociais desenvolvidas pelo partido em benefício dos menos favorecidos e ao processo democrático como um todo.

Sou da opinião de que só o conhecimento pode esclarecer todas as mentiras que são ditas pela imprensa. A política é uma coisa interessante e só pela política podemos mudar o Brasil. Por isso é muito interessante e positivo para a democracia quando as pessoas se interessam pela política.

Não tenho dúvidas em quem votarei e qual é a melhor opção para o Brasil. O modelo neoliberal proposto por Aécio e pelos tucanos é maléfico para o País. Observo que foi este mesmo modelo que destruiu a economia mundial.

E para aqueles que criticam o modelo econômico adotado pelo atual governo é interesse notarmos q
ue, de uma maneira geral, por vivermos em um mundo globalizado, se não estamos crescendo, é muito em conta do que tem acontecido no mundo desde 2008, quando estourou a crise dos Subprimes e que levou à quebra do Lehman Brothers, nos EUA, e por consequência, arrastou o resto do mundo para uma recessão histórica, só comparada à crise de 1929, também nos EUA.

Votar é o maior exercício democrático que podemos fazer. É a maior prova de amor que podemos dar ao nosso País. Por isso, não seja conivente com a história "antipovo". O Brasil nunca antes havia sido governado por partidos de esquerda. A esquerda está aí há apenas 12 anos e muita, muita coisa mudou nesta década. Então, neste segundo turno, faça história. Opte por um projeto que, se ainda não é perfeito, ao menos tenta priorizar nossas raízes, nosso povo, e propõe um acerto de contas
 histórico com nossos irmãos brasileiros menos favorecidos.

Lenon Hymalaia – Jornalista pós-graduado em Globalização e Cultura pela Fundação Escola Superior de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP).  

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Saindo do coma em 2014

Relato anônimo

Acabo de sair do coma. É tudo estranho. Vão me contando as coisas aos poucos. Vou me recordando do que aconteceu quando sofri o fatídico acidente que me deixou anos e anos inconsciente.

Entrei em estado de coma em 2005. Lembro-me da tal crise do mensalão. Sei que o Lula ia sofrer impeachment e que o PT iria ter grandes dificuldades de ganhar qualquer coisa depois disso. Aliás, se bem me lembro, houve quem dissesse para não depor o Lula e deixá-lo sangrar até morrer para que, combalido, fosse enxotado do Planalto na eleição de 2006.

Acordo agora em setembro de 2014. É ano de eleição. Como é que é? As pesquisas são lideradas por uma tal Dilma Rousseff... O quê?! É a atual presidente? Presidenta, como queira. É a atual presidenta? Seguida de muito perto por... Marina Silva?

Agora me lembrei: Dilma Rousseff foi ministra de alguma coisa logo no começo do governo Lula... Isso, ministra de Minas e Energia, e naquela crise de 2005 ocupou o lugar de José Dirceu na Casa Civil. Não é ela?

O quê?! Dirceu? Preso? Ai, ai, ai, ai, ai... Amigos, acabei de sair do coma. Não se brinca com um homem assim!

Mas voltemos às eleições deste ano. Marina é candidata pelo PT, e a tal da Dilma tá por quem?

O quê?! Marina saiu do PT em 2008? Ela é agora o anti-PT? E a tal da Dilma é que é candidata do PT?

E o meu PSDB, onde está nessa eleição? Por que essa cara, gente?

Mas me expliquem melhor: Dilma então é a presidente candidata à reeleição, certo? Ok, ok, presidenta, prometo não me esquecer!

Então, obviamente, ela elegeu-se em... Deixe-me ver... em 2010, né? Não vai me dizer que foi pelo PT...

Sério? Mas pera aí... O PT não ia acabar em 2005? Não estava irreversivelmente derrotado? Como foi que renasceu das cinzas em 2010? Conta devagar porque é muita inform...

O quê?! Lula foi reeleito em 2006? E aquela história de impeachment? Sei, medo do povo nas ruas! Ok, ok, mas ele não ia sangrar até morrer?

E fez a sucessora em 2010?

Pode parecer tudo normal para vocês. Mas não se esqueçam que eu estava em estado de coma desde 2005. Saí de cena em 2005 com o "fim do PT" e com a espada na cabeça de Lula. Volto agora em 2014 com duas ministras de Lula durante a crise do mensalão disputando voto a voto a presidência da República, deixando para trás o candidato do meu partido.

E por falar nisso, quem é o candidato do meu partido, hein?

O quê?! Não é o Serra? Que surpreendente.

Mas vamos mudar de assunto. Que tal um pouco de amenidades?

O quê?! O Brasil sediou a Copa do Mundo deste ano? E foi um sucesso? Considerada das melhores de todos os tempos em termos de organização? Aqui, no Brasil? Ah, qual é?!

Bem, Copa disputada aqui, grande sucesso, não acredito! Mas, se é que vocês estão falando a verdade, só posso acreditar que o Brasil foi campeão, né?

Por que vocês estão se entreolhando?

O quê?! 7 a 1 pra Alemanha? Ah, nisso vocês não vão querer que eu acredite, né?

terça-feira, 15 de julho de 2014

A Copa do Mundo de 2014 (em 2007!)

Encerrada a Copa do Mundo de 2014 com grande sucesso, reproduzimos texto nosso publicado em novembro de 2007 no inativo blog Veritas. Além de registro histórico, o texto de sete anos atrás serve também para mostrar que, a bem da verdade, o grande êxito na realização do famoso evento esportivo no Brasil está longe de ser surpreendente, ao menos para aqueles que o analisaram de forma desapaixonada. Segue abaixo: 

 04.11.07
 Brasil: país do futebol? 

O Brasil foi anunciado como sede da Copa do Mundo de 2014. Para o “país do futebol” não poderia haver notícia melhor, poderia? Pois é. Por incrível que pareça, a repercussão da decisão da FIFA foi marcada por grande apatia de uma boa parcela dos torcedores, e por uma saraivada de críticas aliada de mau agouro de outra. Dentre os que comemoraram, somente apareceram aqueles que já começam a vislumbrar uma maneira de se dar bem (entenda-se ganhar dinheiro) com o evento.
 É provável que a apatia tenha sido em decorrência do fato de o Brasil não ter tido concorrentes para sediar o primeiro mundial da década de 10 (será que é necessário lembrar que as décadas começam no ano 1?), o que a torna de certa forma compreensível. Mas e quanto aos que já saem por aí dizendo que vai dar tudo errado ou que o Brasil não tem condições nem capacidade de sediar encontro tão grandioso, o que dizer? É no mínimo estranho que os brasileiros gostem tanto de futebol a ponto de torcer por selecionados que pouco ou nada representam o país, a ponto de aceitar calendários extremamente mal planejados, a ponto de aceitar horários de jogos impostos por uma certa emissora de televisão, a ponto de vibrar com inexpressivos campeonatos regionais, mas que, ao mesmo tempo, se mostrem tão antipáticos ao anúncio de que, daqui a sete anos, o país vai sediar o maior encontro do futebol mundial. 
 É simplesmente inaceitável a alegação de que o país não tem estrutura, afinal essa pode ser justamente a grande oportunidade para se avançar nesse campo, pois a organização do evento exigirá o cumprimento de tarefas a que o país certamente se obrigou. É absurda também a tese de que a República Federativa do Brasil não poderia acolher o mundial de futebol porque tem sérios problemas sociais a resolver. Em primeiro lugar, o Brasil até que tem melhorado um pouco nesse campo, e há muita gente mundo afora (não no Brasil, bem entendido) que vê o país como “a bola da vez”, uma nação preparada a dar um salto de qualidade, desde que aproveite as oportunidades que lhe aparecem. Ademais, se algum tipo de problema social for fator impeditivo de se realizar uma Copa do Mundo, a festa teria muita dificuldade de encontrar um anfitrião, e se o encontrasse, enfrentaria o drama de ter sempre que se realizar em países de pouca tradição no – e/ou de pouco entusiasmo pelo – futebol. 
 A outra preocupação – e essa é a mais razoável – é com a questão da corrupção dos responsáveis pela organização. É bem provável que o simples fato de tal hipótese já vir sendo aventada pelos quatro cantos deva fazer as autoridades ficarem "de olho" e os responsáveis redobrarem seus cuidados; além disso, o argumento contrário à objeção anterior também vale aqui: se a FIFA começar a levar tal assunto a sério, certamente terá que acabar com a realização de tal tipo de encontro! 
 Mas a grande verdade é que a questão não é meramente esportiva, mas também – senão principalmente – política. Muitos vêem no anúncio da FIFA uma espécie de vitória do governo Lula ou mais uma demonstração de um respeito internacional de que o país jamais gozou em administrações anteriores, e, obviamente, isso desagrada aqueles que lhe fazem oposição ou que, na melhor tradição futebolística, torcem para que o país seja um eterno derrotado. Desnecessário dizer que isso é uma grande bobagem: o Brasil indo bem, todo povo, evidentemente, vai bem; e se há alguma coisa positiva no ar, algo benfazejo para a auto-estima da nação, por que não aproveitar? 
 Pois que venha a Copa de 2014 e, com ela, medidas que tragam, de uma forma ou outra, melhorias permanentes para toda a população. E que na abertura, ao contrário da do PAN do Rio, a platéia não receba com vaias a presidente Dilma. Ou o presidente Ciro. Ou o presidente Aécio. Ou...!

domingo, 6 de abril de 2014

IPEA e Datafolha

Dois temas envolvendo pesquisas e suas divulgações merecem comentário.


O erro do IPEA e o erro nosso

No dia 4 de abril de 2014 o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) corrigiu os resultados de uma pesquisa de grande repercussão no Brasil: À frase "Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas", 58% disseram discordar, contra 26% que concordam total ou parcialmente. Em resultado divulgado anteriormente, constou, equivocadamente, que a maioria concordava com a frase, provocando grandes protestos e discussões inclusive em nível internacional.

Vale recordar situação decorrida de texto do escritor Antonio Prata para a Folha de São Paulo. Em crônica de refinada ironia, o autor incorporou um sujeito ultraconservador e reacionário, proferindo opiniões que expressavam um grande radicalismo de direita. Prata relata ter recebido montanhas de mensagens de apoio pela sinceridade e coragem das duras palavras, assim como recebeu diversas outras de decepção ou de contraponto às loucuras que lá emitira.

E por que muita gente não percebeu a ironia no texto de Prata? A resposta simples é porque o seu texto era verossímil. Dado o grau de acirramento dos ânimos em meios mais politizados, ninguém parece achar estranho um discurso raivoso de direita, que não demonstre mais aquela vergonha de defender pontos de vista conservadores, mesmo que com doses de obscurantismo, que aparentemente sentia até pouco tempo atrás. Daí ter passado batido que o texto era um exercício ficcional.

No caso envolvendo o erro do Ipea, é igualmente estranho que todo mundo tenha achado plenamente crível o resultado da pesquisa anunciado anteriormente e que dava mais de 60% dos entrevistados concordando com o fato de que "mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas". Como, pergunta-se agora, ninguém percebeu que deveria ter algo errado com aquela história absurda?

Isso só pode ser explicado por nossa tolerância com o machismo e por achar relativamente normal, dentro do grau de conservadorismo que nos encontramos, que haja pessoas que pensem daquela forma. Simples, simples.


O Datafolha e a manchete antijornalística da Folha

Diz a manchete da Folha de São Paulo deste domingo, 6 de abril de 2014: "Pessimismo sobre economia cresce, e Dilma perde seis pontos". Na nova rodada de pesquisas do Datafolha, Dilma Rousseff perdeu seis pontos e, com efeito, 29% acham que a situação econômica do País vai piorar, maior do que os 27% que pensam que ela irá melhorar.

Muito bem. Quem foi mesmo que disse  ser possível contar mentiras dizendo só a verdade?

Há um aspecto esquizofrênico na pesquisa já esmiuçado em outros blogs. O eleitor acha que a situação econômica do País vai piorar, mas, por outro lado, acredita que a sua condição econômica pessoal vai melhorar! E neste último, o resultado é uma lavada: 46% acham que vai melhorar, 39% que vai ficar como está e somente 12% apostam que vai piorar.

A percepção sobre a condição pessoal deveria, em princípio, anular a visão de que as condições econômicas do País como um todo vão piorar, de modo a desautorizar manchete chamando atenção para tal aspecto.

Melhor jornalismo teria praticado a Folha se tivesse destacado em sua manchete o fato de que Dilma perdeu seis pontos, mas que seus adversários mais prováveis e diretos, Aécio e Eduardo Campos, não os capitalizaram. Mais do que isso, a petista ainda ganha com folga no primeiro turno, outro viés de maior interesse jornalístico, aparentemente negligenciado pelo(s) editor(es) de primeira página.

Para piorar as coisas para a oposição e para o jornalismo militante da Folha, o único nome (não candidato) melhor na parada do que Dilma é o do ex-presidente Lula. Manchete destacando isso, então, nem pensar!