sábado, 21 de agosto de 2010

Cartinhas

Nesta semana que finda recobrei uma velha e estéril mania: a de encaminhar mensagens para órgãos de imprensa. Mandei algumas missivas eletrônicas para a Folha de São Paulo e para a rádio CBN. Que eu saiba, apenas uma das "cartas" foi publicada na versão eletrônica do Painel do Leitor, da Folha.

Dividirei com vocês as impressões que enviei para os órgãos supracitados. Como se sabe, temos que buscar ser sucintos se quisermos ver nossas mensagens publicadas. Por isso, não há, evidentemente, nenhum aprofundamento nos temas tratados - até porque talvez não tivéssemos mesmo condições para tanto!

Eleições estaduais - São Paulo
Nesta semana ocorreu o debate Folha/UOL com os candidatos ao governo estadual, com direito a comentaristas do jornal sobre a sucessão, parecendo achar normal o quadro que traz Geraldo Alckmin (PSDB) bem à frente de Aloízio Mercadante (PT) nas pesquisas. A Folha dá como favas contadas a eleição do candidato tucano, tanto que chegou a publicar um editorial de nome "mesmice paulista". Abaixo, a "cartinha":

Geraldo Alckmin tem hoje em São Paulo o único capital político que José Serra tinha no Brasil há cerca de um ano: o recall.
Em nível federal, o destaque dado pela mídia à disputa presidencial colocou os pingos nos “is”. Talvez sem querer, a imprensa acabou mostrando que Serra não passa de um “trololó ambulante”, ao passo que Dilma Rousseff é uma mulher preparada e conhecedora do Brasil. Resultado: a petista sobe enquanto o tucano desce.
Já em São Paulo o debate acerca da pendenga estadual está – para não dizer interditado pelos meios de comunicação – obscurecido pela corrida ao governo federal. Só isso para explicar a “mesmice paulista”, com a dianteira do candidato de um governo que, depois de 16 anos, deixa como legado uma educação catastrófica, transporte público em colapso e a saúde e segurança em frangalhos.
O (e)leitor precisaria ser mais bem informado sobre o pleito no estado de São Paulo.


Ingratidão com FHC
No debate Folha/UOL com presidenciáveis, José Serra (PSDB) acusa Dilma Rousseff (PT) de ser ingrata com os anos FHC. Pilheriei com a cara de pau do tucano.

O presidenciável José Serra, no debate online Folha/UOL, chamou Dilma Rousseff de ingrata por ela não reconhecer supostos avanços dos anos FHC.
Ora, foi o Serra candidato a presidente em 2002 que tentou se esquivar do governo de Fernando Henrique Cardoso, do qual participara como ministro desde o começo. Estratégia, aliás, que viria a ser repetida por Geraldo Alckmin em 2006.
Agora, no pleito deste ano, o jingle da campanha do "Zé" exalta a era Lula, em vez de lembrar os tempos de Fernando Henrique.
Portanto, em matéria de ingratidão com FHC ninguém bate o candidato Serra!


É a Folha que infantiliza os seus leitores
Comentário sobre o editorial Pai e Mãe, de 19.08.2010:

A Folha, em vez de ter a coragem de admitir que apoia uma das candidaturas à presidência da República, aproveita o editorial “Pai e Mãe” para tentar, covardemente, desqualificar a candidata Dilma Rousseff.
Ao buscar sustentar sua opinião, o jornal desrespeita a economista, fazendo pouco caso de sua luta contra a ditadura militar, dos seus cargos como secretária municipal e estadual, ministra de Estado e personagem relevante da articulação política no bem-sucedido governo Lula, especialmente no segundo mandato.
Tomando de empréstimo a elegância e alguns argumentos de um Sérgio Buarque de Holanda, o – apesar de tudo - bem escrito editorial vai fundo demais ao tentar colar a pecha de antirrepublicana na estratégia petista que usa a metáfora da “mãe” para falar de Dilma.
Pois é a imprensa – de braços dados com a oposição – que tem tentado, nesses anos todos, ora transformar a petista numa figura manipulável, sem vontade própria, do tipo que se deixa levar, ora qualificá-la como durona, mandona, às vezes até autoritária. Convenhamos, nada mais parecido com nossas mães do que isso!
Com um pouco mais de, digamos, profundidade filosófica, o editorial da Folha apenas chancela parte das erráticas estratégias da frente serrista, mostrando, assim, que, ao contrário do que afirma, tem lado nesta campanha. Por fim, o jornal é que infantiliza os seus leitores, achando que eles não têm inteligência para perceber isso.


Alguém conhece "de verdade" o Serra?
Missiva encaminhada à Folha, estranhando críticas de Eliane Cantanhêde à candidata Dilma Rousseff, por ser ela supostamente uma incógnita, ao passo que Serra todos sabem bem quem é. Não há negar que a colunista da Folha escolheu um dos piores momentos para fazer tal tipo de afirmação em favor do tucano!

Em sua coluna “Lula lá ou Lula cá em 2011?”, Eliane Cantanhêde se mostra cheia de dúvidas de quem realmente seria Dilma Rousseff e do que se poderia esperar de um eventual governo dela – não obstante os ataques que vem desferindo à ex-ministra nestes anos todos nos fizessem pensar que, ao contrário, ela conhece a candidata petista bem demais!
Mas o principal não é isso. O mais intrigante foi a colunista falar que se sabe muito sobre José Serra. Interessante! Desse jeito ela pode até ser chamada para ajudar na campanha do tucano, haja vista que muitos dos correligionários dele parecem já não saber quem de fato é Serra.
Com efeito, qual Serra conhecemos bem? O que critica de forma dura o governo Lula ou o que tenta se aproveitar da popularidade do presidente no horário eleitoral? O que acusa Dilma de ingrata por não reconhecer avanços no governo FHC ou o candidato acostumado – desde 2002 – a esconder o ex-presidente nas suas campanhas? O que tenta se apropriar dos remédios genéricos ou aquele que admite ter sido apresentado ao programa por um companheiro de partido?
Falar que se conhece bem José Serra nessa altura do campeonato,quando o próprio tucano se perde nas suas contradições, é o tipo de postura ingênua a que jornalistas profissionais não deveriam ter direito.


Liberdade de imprensa e liberdade de expressão
Mensagem encaminhada à rádio CBN, em razão das platitudes da comentarista Lucia Hippolito, no dia 20.08.2010:

Ouvi hoje o comentário de Lucia Hippolito, no “por dentro da política”, sobre o compromisso dos candidatos à presidência da República com a liberdade de expressão.
Fiquei esperando ansiosamente que ela puxasse a orelha do candidato José Serra, que fica agredindo jornalistas da TV Brasil, um candidato a presidente que não responde diretamente às perguntas que lhe são feitas, que tenta desqualificar os entrevistadores, que acusa blogs independentes de serem “sujos” e engordados com verba federal. A propósito, os tais “blogs sujos” a que ele se recusou a nominar, por acaso podem ser alijados do sagrado direito à liberdade de expressão? Espero que a grande mídia se insurja contra essa postura autoritária do ex-governador de São Paulo!
Achei bastante oportuna a lembrança, por parte de Lucia, de que a liberdade de expressão se sobrepõe à de imprensa, informação que a mídia normalmente sonega ao público, antes querendo fazer que pensemos ser a liberdade de imprensa a própria liberdade de expressão. Por ter certamente contrariado seus patrões neste particular, Lucia merece nossos entusiasmados parabéns!
A este propósito, é muito interessante o “respeito” do candidato do PSDB também com a liberdade de expressão strictu sensu dos cidadãos. Não faz muito, no interior de São Paulo, o tucano chamou um manifestante de “energúmeno”, com certeza inspirado pela sua cria (esse, sim, um poste) Gilberto Kassab – provavelmente outro grande defensor da liberdade de expressão! – que expulsou um trabalhador de um espaço público aos gritos de "vagabundo".
Aliás, energúmeno e vagabundo é o mínimo que se fala do presidente Lula nas seções de comentários de sítios eletrônicos dos jornais, que, defensores da liberdade de expressão que são, permitem sem nenhum pudor esse tipo de descalabro. Puxa vida, e o autoritário do Lula não faz nada?!?! Como pode uma coisa dessas?!
Com tudo isso, causa estranheza a preocupação de Lucia com alguma espécie de, digamos, “ímpeto censor” do partido da candidata Dilma Rousseff, o PT. Na hora em que ela disse isso cheguei a pensar: será que integrantes do Partido dos Trabalhadores ligam para os barões da mídia pedindo a cabeça de jornalistas?
De qualquer forma, é bom saber que temos tanta gente defendendo a liberdade de expressão no Brasil, e que podemos falar de tudo, de preferência dentro dos limites das responsabilidades legais, é claro. Se bobear, podemos falar até do preço dos pedágios nas rodovias paulistas!

domingo, 15 de agosto de 2010

Ação e reação

A presença firme de Dilma Rousseff no Jornal Nacional de 9 de agosto de 2010, respondendo de forma segura aos ataques desferidos pelo casal apresentador do programa, pegou de calças curtas não somente os políticos da oposição, como também aqueles que fazem a "verdadeira oposição" no Brasil, a saber, os dedicados escribas da mídia.

Durante todo o tempo, representantes da oposição (política e midiática) vinham apostando em tropeços da candidata do PT quando tivesse, na TV, que se deparar com o contraditório. O desempenho apenas razoável que ela teve no debate da Band, muitíssimo longe de ser o desastre com que muitos sonharam, não deixou de dar algumas esperanças às hostes oposicionistas. Daí talvez a rápida reação contra a boa participação da petista no principal telejornal do País.

Dora Kramer e as "mentiras" sobre a inflação de 2002
Em coluna de O Estado de São Paulo de 11 de agosto de 2010, a jornalista Dora Kramer afirma que Dilma "mentiu ao se referir a inexistente descontrole inflacionário em 2003", no JN. Em verdade, a colunista quis dizer 2002, o último ano do presidente Fernando Henrique Cardoso.

Pois é. Dilma não mentiu, Dora. Pelo menos não "necessariamente". Em 2002, para uma meta de 3,5% ao ano, a inflação efetiva, pelo IPCA, foi de 12,53% ao ano, ou seja, já passada a sempre temível casa dos dois dígitos. Disse eu que Dilma não "necessariamente" mentiu, porque é, com efeito, uma questão subjetiva considerar 12,53% ao ano como uma inflação descontrolada. Quero com isso dizer que não estranharia ouvir alguém que não considerasse pouco mais de 12% de inflação como exemplo de descontrole de preços. Lembro, no entanto, que não foram raros nos últimos anos o terror perpetrado pela mesma imprensa de Dora Kramer sempre que os índices de inflação anualizados ultrapassavam em décimos de ponto percentual o centro da meta estipulada pelo Banco Central - eu disse o "centro" da meta e não a meta em si. Imagino que uma boa parcela dos leitores hoje teria ataque cardíaco com uma inflação de 12,53%!

Quem quiser conferir os números da inflação de 2002 e compará-la com os de outros anos, ainda nos anos FHC e já na era Lula, favor clicar aqui: http://www.bcb.gov.br/Pec/metas/TabelaMetaseResultados.pdf

Por falar em entrevistas no Jornal Nacional, guardo bem na memória a vez do então candidato Lula em 2002. Uma das perguntas feitas por telespectadores versava justamente sobre a inflação, que já assustava no período de campanha. No debate final com José Serra, também na Globo, uma das convidadas também perguntou aos postulantes sobre a inflação daquela época, acrescentando que "estava muito preocupada". Pelo jeito, o dragão só não fazia parte dos medos de Dora!

E perguntar não ofende: se é verdade que, em 2002, com mais de 12,5% de inflação, a coisa não estava descontrolada, será que, quando se faz um carnaval acerca de qualquer singelo aumento de preços, a imprensa no fundo não quer apenas forçar a elevação dos juros? Com a palavra, a jornalista Dora Kramer.

Miriam Leitão procurando culpados
O Blog Cidadania, de Eduardo Guimarães, comentou e reproduziu texto de Miriam Leitão, publicado no jornal O Globo também em 11 de agosto de 2010, igualmente sobre a participação de Dilma Rousseff no telejornal campeão de audiências e seguindo a mesma trilha de Dora Kramer. Veja o post do Eduardo aqui: http://www.blogcidadania.com.br/2010/08/historias-do-pig-para-boi-dormir/

Miriam esperneia, mas, de certo modo, admite que a inflação na casa dos 12% de 2002 era algo, por assim dizer, "fora do script", para não dizermos fora do controle, haja vista que ela também rechaça essa tese - justo ela, que é das que mais veem inflação em qualquer solucinho de preços! Todavia, a culpa do aumento de preços não era do governo do presidente FHC, afirma a jornalista, mas sim do candidato e presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, que, amedrontando o mercado, provocou a disparada nos preços.

Eis uma tese risível e que expõe o amadorismo dos jornalistas brasileiros. A coisa ficaria mais fácil se eles admitissem seu partidarismo. O problema é que tentam posar de imparciais. Estranho é não se atentarem às suas contradições e, pior ainda, é acharem que o leitor é estúpido o suficiente para não perceber.

Veja bem, caro leitor: quantas vezes já não vimos reverberar a tese de que todo o sucesso do governo Lula é, no fundo, mérito de FHC? Pois bem. A mim me parece um tanto paradoxal: o que é bom no governo Lula deve ser creditado a Fernando Henrique Cardoso, mas o que foi desastroso no ocaso do governo FHC foi culpa do Lula?!

Respondam-me: como levar uma colunista dessas a sério?

Josias de Souza não pode
O experiente repórter e blogueiro da Folha de São Paulo Josias de Souza foi escalado para analisar o desempenho dos presidenciáveis na série de entrevistas a William Bonner e Fátima Bernardes. Já no dia 10 de agosto de 2010, o jornalista acusou a preferida de Lula de tergiversar sobre assuntos importantes, especialmente acerca de alianças estranhas do PT, notadamente com gente como o presidente do Senado Federal, José Sarney.

Acho extremamente divertido quando vejo alguém dos quadros da Folha pegando no pé de Sarney. É que o bigodudo conta com uma coluna cativa na nobilíssima página de opinião do jornal há mais de década. É de estranhar que o mesmo periódico que abriga gente tão impoluta e desinteressada como um Josias de Souza abra espaço tão nobre para figura tão desprezível quanto o ex-presidente da República José Sarney.

Em verdade, o imortal Sarney, mais do que aliado de Lula e Dilma, é, em verdade, um quase colega não somente de Josias, mas de Clóvis Rossi, Eliane Cantanhêde, Fernando Barros e Silva etc. A diferença do Sarney para o Josias, na corporação Folha da Manhã S.A., é que o maranhense conta com muito mais liberdade para escrever, podendo até, como no seu artigo da sexta-feira 13 de agosto de 2010, falar de um certo "populismo midiático". Já o Josias, tem que medir um pouco mais as palavras, sempre pensando em não desagradar o patrão.

Enfim, sem tergiversações: deixa a Dilma se aliar também ao seu colega Sarney, meu caro Josias!

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Imprensa comum