sábado, 22 de setembro de 2012

Eleições municipais - São Paulo 2012 - Para não dizer que não falei de Celso Russomanno


O candidato Celso Russomanno, do PRB, vem sendo o grande fenômeno das eleições municipais 2012. Ótimas análises, diferentes em alguns pontos e complementares noutros, foram feitas pelo filósofo Vladimir Safatle, pelo cientista político Aldo Fornazieri e pelo jornalista José Roberto de Toledo. Não torno disponíveis os links delas , mas os leitores interessados não terão dificuldade em encontrá-las usando mecanismos de busca da internet.

Comentaremos o caso pegando um dos pontos abordados pelos analistas acima: a despolitização. E a observaremos sob dois aspectos. O primeiro deles é um de seus desdobramentos, que chamaremos de "despartidarização".


Despartidarização
A política no Brasil é por demais personalizada. O leitor já deve ter ouvido algum eleitor bater no peito e bradar orgulhosamente: "não voto em partidos, voto em nomes; se eu gostar do cara, não importa a agremiação".

Números de pesquisa já mostram - mas à falta deles a observação empírica já seria suficiente - que o candidato do PRB tem conseguido se manter na primeiríssima posição pela corrida de São Paulo, de acordo com as sondagens, graças a resultados nas regiões que historicamente votam nos candidatos do Partido dos Trabalhadores - mais do que isso, Russomanno tem obtido apoio de eleitores que declaram abertamente a preferência pelo PT.

Não obstante a excelente "marca", resistente inclusive à oposição midiática praticamente generalizada, o PT parece esforçar-se pouco para estimular a identidade entre partido e eleitor, de modo a fazer que o respeito e apreço dos cidadãos para com o partido redundem em votos em seu candidato. 

O uso da imagem da figura mítica de Lula sinaliza que o próprio partido parece acreditar mais no lulismo do que no petismo, entendido o primeiro como um movimento que excede o segundo - tema que deve figurar neste blog em breve.


"Desestatização"
As aspas é porque a palavra não está aqui no seu sentido comum, mas para designar o outro desdobramento da despolitização de que queríamos tratar, neste caso a falta de confiança sobretudo dos mais pobres com a capacidade do Estado de resolver problemas e mediar conflitos.

Como é sabido, Celso Russomanno já tem história de homem de mídia especializado em solucionar pendências de consumidores.

Não entraremos na questão - crítica - de que a melhoria de vida em consequência das políticas do governo Lula criaram consumidores antes de cidadãos, o que poderia, de fato, explicar o sucesso do postulante pelo PRB.

No caso específico importa entender porque o homem de mídia, antes do político, é visto como o cara certo para "cuidar das pessoas".

Na primeira metade da década de 1990, no curso de Ciências Sociais, uma professora foi motivo de pilhéria dos alunos ao recomendar que prestássemos mais atenção em um sucesso da época: o programa "Aqui Agora".

O jornalístico do SBT não era apenas um sucesso de audiência: era, ao que tudo indicava, grande portador de prestígio entre os mais pobres e com menos escolaridade.

Não era raro, a quem se deparava com algum problema, ouvir a sugestão de "chama o 'Aqui Agora'". o jornalístico "popular" era evocado nas brigas de vizinhos, nas rebeliões em presídios, em casos de flagrante injustiça e, last but not least, nas histórias de desrespeito a consumidores. Neste último, o repórter que resolvia tudo era ninguém menos do que Celso Russomanno.

No "Aqui Agora", Russomanno era apenas mais um, evidentemente. O prestígio, num primeiro momento, era do programa. E não é trivial que as pessoas acreditassem - e acreditem - mais no poder da televisão do que no dos órgãos estatais legalmente constituídos.

E os veículos transferem sua credibilidade para aqueles que pilotam seus programas. Russomanno constrói a imagem de um destemido que enfrenta poderosos em nome dos pobres já de algum tempo. E nem é preciso, para entendê-lo, voltar ao caso da morte da própria mulher, por ele denunciado como negligência médica.

Resumo com absolutamente nenhuma profundidade: enquanto o Poder Público permitir que programas no formato "Aqui Agora" tenham mais credibilidade e eficácia do que, por exemplo, o PROCON, os "russomannos" continuarão "surpreendendo".

Ah, e a professora, como resta claro, tinha razão.