sábado, 18 de dezembro de 2010

Captain Beefheart (1941-2010)

Morreu Captain Beefheart em 17 de dezembro de 2010. Cantor e compositor, saxofonista e clarinetista, foi das figuras mais marcantes do que se convencionou chamar de rock experimental.

Sintomaticamente protegido por Frank Zappa, o velho Don Van Vliet - seu verdadeiro nome - desde o início apresentou a proposta de reinventar o rock através de certas desconstruções do blues e do jazz avant-garde, soando como se um Howlin' Wolf tocasse com arranjos de um Albert Ayler.

Pessoas mais gabaritadas consideram seu trabalho não muito marcado pela regularidade. Pode ser. De nossa parte, preferimos ficar, ao menos no dia de hoje, com os momentos mais sublimes de álbuns como Trout Mask Replica, de 1969, The Spotlight Kid e Clear Spot, ambos de 1972.

Abaixo, ouça a composição do próprio Beefheart "Moonlight on Vermont", de Trout Mask Replica, álbum produzido por Zappa. Nas imagens, a capa do clássico álbum de 1969 e uma foto de Don Van Vliet à época.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Ornette Coleman no SESC Pinheiros

Além de Paul McCartney e Lou Reed, outra lenda da música do século XX a pisar nos palcos paulistanos em novembro foi o revolucionário Ornette Coleman, saxofonista considerado o pai do gênero conhecido como free jazz.

A despeito de ser um artista associado à vanguarda jazzística, sua apresentação no SESC Pinheiros não foi necessariamente marcada por grandes improvisações ou pelos arroubos de nonsense tão comuns ao movimento, antes optando por interpretações competentes mas contidas, num quase hard bop, por assim dizer. Tanto foi assim que foram raras as vezes em que Ornette Coleman se arriscou no trompete ou no violino, instrumentos que toca de forma extremamente particular, geralmente de modo a causar estranhamento nos ouvintes.

Ainda que tudo tenha corrido dentro de uma normalidade que, em princípio, não seria de se esperar de artista tão inquieto, situações inusitadas ocorreram no show da noite de 28.11.2010. A primeira delas decorre de um infortúnio: durante execução da canção "Peace", ocorre falta de energia, causando grande apreensão na platéia. De repente, apenas com as luzes de emergência funcionando, os músicos começam a tocar, de forma desplugada, a atemporal "Lonely Woman", para delírio do público. Como se não bastasse, apagam-se também as luzes de emergência e, sob o breu total, a galera vai à loucura, aparentemente entendendo que o clássico de 1959 cai muito bem naquelas condições.

Outra grande surpresa foi quando, ao final absoluto, ou seja, depois do bis, o músico dirigiu-se ao público e começou a cumprimentar alguns espectadores da primeira fila. Todos que estavam mais atrás correram até a beira do palco e foram conversar com o mestre. O genial Ornette Coleman, que havia tratado com frieza jornalistas da grande imprensa brasileira, foi paciente e simpático com os fãs, distribuindo cumprimento e autógrafos, além de se deixar filmar e fotografar e até mesmo posar para fotos ao lado de alguns mais atirados.

E minha intuição funcionou parcialmente naquela noite. Se, por um lado, falhei feio em não levar máquina fotográfica para o evento, por outro lado, acertei em cheio em ir munido da capinha do CD de The Shape of Jazz to Come, um dos melhores discos de todos os tempos. Foi o primeiro dos muitos autógrafos que Ornette Coleman distribuiu naquela noite. Ele grafou meu nome errado na capinha; mas quem se importa?

Abaixo, um pequeno vídeo com a capa do CD autografada pelo veterano artista, com fundo musical da gravação do áudio da sequência acima descrita, com a interpretação de "Peace", a queda de energia, e a retomada com "Lonely Woman". Tudo obra de Coleman, exceto o probleminha técnico!

domingo, 7 de novembro de 2010

O vermelho é mais vermelho, o azul é menos azul, mas isso não tem importância

Pouparei o leitor da reprodução do mapa brasileiro, pintado de vermelho nos estados da Federação em que Dilma Rousseff, do PT, bateu José Serra, do PSDB, e de azul nas unidades do País em que se deu o contrário. A mídia o fez ad nauseam e, provavelmente sem querer, ajudou a desencadear até ondas de preconceito e intolerância na rede mundial de computadores contra o nordeste, região supostamente responsável pela vitória da candidata petista.

É um grande clichê dizer que os números normalmente escondem realidades concretas só perceptíveis quando sobre eles nos debruçamos. E justamente por ser um chavão é de se encarar com tristeza o fato de as análises terem deixado de tomar certos cuidados. A bem da verdade, alguns órgãos de imprensa, de forma tímida e um pouco atrasada, correram a lembrar que, mesmo se se desconsiderasse o nordeste, ainda assim Dilma venceria as eleições, mesmo que de forma extremamente apertada.

Abrindo parênteses, cabe lembrar o belo comentário do jornalista Rodrigo Vianna, advertindo-nos de que não se deve cogitar a ideia de se excluir a votação da região nordeste para dar maior legitimidade ao trunfo da petista. Em verdade, a legitimidade de sua eleição vem justamente do ótimo resultado que ela obteve em todo o País, inclusive - é óbvio - no nordeste.

Voltando à realidade que se esconde atrás dos números, não se descarte o fato de a candidata da coligação liderada pelo PT ter vencido também na região sudeste, com êxito extraordinário nos estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, com números rondando a casa dos 60%, um pouco a mais no primeiro e um tiquinho abaixo no segundo, situação que vem em reforço da desconstrução da tese que quer atribuir ao voto nordestino o sucesso de Dilma.

Além disso, melhor mapa seria aquele que trouxesse gradações de cores. Sim, pois em alguns estados o vermelho dilmista deveria vir em tons mais fortes, caso de Amazonas, Pernambuco e Bahia, por exemplo, onde alcançou mais de 70% dos votos válidos. O azul serrista, por seu turno, teria que vir mais enfraquecido em estados como Rio Grande do Sul, Goiás e Espírito Santo, lugares em que faturou com pouco mais dos 50% dos votos válidos.

A leitura simplista dos números impede, também, de se ver as nuanças de cada localidade. No estado de São Paulo, por exemplo, onde Serra foi vitorioso com respeitável vantagem, foi digna de nota a dianteira da presidente eleita em importantes municípios, como Osasco, São Bernardo do Campo, Mauá, Diadema, Ferraz de Vasconcelos, Poá, Franco da Rocha, Francisco Morato, Carapicuíba, Barueri e Itapecerica da Serra, todas na grande São Paulo, cidades marcadas por considerável pujança econômica, por um lado, ou tidas como cidades-dormitório, por outro, ou seja, Dilma Rousseff, ao que parece, empolgou de forma massiva boa parte da classe trabalhadora urbana do entorno da capital paulista.

De se realçar, também, o bom resultado da primeira mulher a se eleger presidente da República na região de Campinas, repetindo, aliás, êxito do primeiro turno, faturando em Sumaré, Hortolândia, Santa Bárbara D'Oeste e outras. Nesta área, mesmo Aloízio Mercadante navegou bem no primeiro escrutínio, na sua malfadada disputa pelo governo do estado.

Do lado de Serra, registre-se que, derrotado nos estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, foi o preferido em vários municípios fluminenses e mineiros, borrando fortemente de azul os majoritariamente avermelhados mapas dessas unidades da Federação. Em desfavor do tucano, destaque-se que não ganhou em nenhum município do Amazonas, o que é surpreendente se se levar em consideração os expressivos resultados que obteve nos nortistas Roraima e Acre.

Pois bem, senhores. Dentro de uma caixa há outra caixa. Pegue-se o mapa do Brasil, com seus estados tingidos de vermelho ou azul: tem-se parte da história. Em seguida, isole um dos estados e ver-se-ão seus municípios também pintados daquelas duas cores, indicando, portanto, que as opções não foram categoricamente hegemônicas. Mesmo sem os dados, arriscamo-nos a dizer que informações ainda mais contraditórias ou surpreendentes viriam se se isolassem os bairros ou distritos de cada cidade, e dentro deles tivéssemos acesso aos resultados das diferentes zonas e seções. Se me permitem mais um chavão, a questão é deveras complexa. E só!

Alguma análise, de cujo autor indesculpavelmente não me lembro, apontou muito bem que a eleição brasileira é na base do sufrágio universal, não representando as unidades da Federação nenhuma espécie de colégio eleitoral, como é o caso dos Estados Unidos. Como cada voto é um voto, e como leva aquele que consegue o maior somatório de sufrágios, pouca importância há se os eleitores vêm do Tocantins ou do Paraná, se é de Itabaiana ou de Belford Roxo, ou se é do bairro da Penha ou da Lapa do Rio de Janeiro, ou da Penha ou da Lapa de São Paulo.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Depois do operário, a mulher

Muito se tem falado do sucesso da sexta eleição direta consecutiva para presidente da República Federativa do Brasil no pós-redemocratização. Com efeito, é prova viva da consolidação das instituições democráticas do País. O único senão do período talvez tenha sido o implemento do instituto da reeleição em 1997, com validade já para o então mandatário Fernando Henrique Cardoso, caso clássico de mudança de regra no meio do jogo. Tal mácula foi corrigida pela firme decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de rejeitar mudança constitucional a lhe permitir disputar um terceiro mandato, a despeito de a sua extraordinária popularidade indicar que ele poderia tê-lo tentado.

Lula era o operário de pouca instrução, sem experiência administrativa. Como assim, querer ser presidente da República, perguntavam em todas as eleições de que participara até 2002. Seu governo, porém, sai de cena agora em 2010 muito bem avaliado, com o Brasil gozando de respeito e reconhecimento internacional inéditos e com a figura pessoal do presidente vista como a de inquestionável líder mundial. Os que erraram feio na avaliação corrente até em 2002 não dão o braço a torcer e insistem em dar razão a Albert Einstein e sua famigerada frase que lamentava o fato de ser mais fácil quebrar um átomo que um preconceito.

Dilma Rousseff, a presidente eleita do Brasil, foi, por sua vez, vítima cruel da perseguição da mídia e da oposição, algumas vezes calcada em preconceitos que tentaram atingir justamente a sua condição de mulher: a divorciada, sem companhia de um homem, agressiva. E a agressividade, acredita-se, só cai bem nos homens. Aliás, a agressividade é, não raro, apontada como uma qualidade necessária dos políticos. E por ser característica mais "naturalmente" presente nos homens, logo as mulheres não são, "naturalmente", preparadas para a política; e se são agressivas, não são "genuínas" mulheres, por assim dizer.

A grande verdade é que muito pouca importância deveria ter o fato de o presidente da República ser operário ou professor universitário, tampouco deveria ser importante o fato de ser homem ou mulher. A relevância de tal discussão só se dá justamente por obra dos preconceituosos e machistas, cuja obstinada atuação acabou por colocar as questões da origem, da formação e do gênero no centro da pauta política do Brasil. Neste caldo de cultura, por fim, a eleição de uma mulher para o cargo máximo da República - logo após o operário - dá mais um passo rumo ao fechamento do ciclo da tão festejada solidez democrática do País.

Viva a mulher brasileira! Bem vinda, presidente Dilma!

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Marina Serra

Duas constatações: a oposição política ao governo federal, representada pelo consórcio PSDB/DEM, tem andado um tanto fragilizada nos últimos anos; e a mídia tem preenchido essa lacuna, agindo como – talvez o principal - partido político de oposição.

A imprensa, por ter confessadamente ocupado esse espaço no campo político, parecia estar superestimando sua importância no processo sucessório do Brasil, crente que teria condições de pautar – ou interditar – o debate ao seu bel-prazer. Cometeram alguns erros nesse processo. Reconheça-se, todavia, que o monopólio midiático emplacou um acerto que foi capital para garantir o segundo turno. Estou falando do fato de ter preservado de sua ira a candidata do PV, a terceira colocada na eleição deste ano, Marina Silva.

Num primeiro momento, havia a percepção de que a senadora poderia ser útil para garantir um segundo turno – e isso no melhor dos mundos possíveis: tiraria votos da petista Dilma Rousseff, sem chegar a ameaçar o tucano José Serra, o preferido do baronato. O resultado, decerto, foi melhor que a encomenda e provavelmente superior ao que poderia pensar até o mais otimista dos oposicionistas.

Os meios de comunicação, serristas até a medula, foram por demais pragmáticos. Nada de criticar a candidata do PV, que quando ministra do meio ambiente do governo Lula era atacada por seu radicalismo ecológico, chegando a ser considerada a responsável pelos baixos índices de crescimento econômico que o Brasil apresentava até então (o tal do PIB maior somente que o do Haiti nas Américas), tudo por conta da intransigência em não conceder licenças ambientais e na atuação fiscalizatória firme do IBAMA sob suas ordens. Também abdicaram de atacar – ou ridicularizar – a evangélica Marina por certo fundamentalismo religioso que se opõe a Darwin e que bate de frente com demandas importantes na área dos direitos civis.

Chegamos a prever (link abaixo) que a vida da acreana somente seria difícil se ela em algum momento trouxesse dificuldades a Serra, o que não era de todo descartado em razão de ambos sinalizarem, desde o início, que teriam chances de disputar o eleitorado urbano, de classe média e de boa escolaridade. De fato a candidata verde empolgou esses setores, mas, para felicidade da mídia e dos adeptos de Serra, apenas tirando os votos que num dado momento pareciam estar no colo de Dilma Rousseff.

A imprensa sabia da importância de Marina Silva no segundo turno, preservando-a até o final do primeiro escrutínio. Já José Serra, com a falta de habilidade dos trapalhões da oposição política, atacou a ex-petista no debate da Rede Globo, chegando a acusá-la de conivente com o chamado mensalão. Lembremos que o tucano ficou parado no mesmo lugar durante uns dois meses, só chegando à segunda etapa da disputa presidencial por graça de "Santa Marina".

Pelo jeito não dá ainda para desprezar a perspicácia – e sorte – da imprensa quando o assunto é eleição presidencial no Brasil.

Leia também:
Marina, faça tudo, mas faça o favor

sábado, 18 de setembro de 2010

A "imprensa tiririca"

“Pior do que está não fica”.

“Você sabe o que faz um deputado federal? Nem eu. Vote em mim, que eu te conto”.

As frases são do candidato a deputado federal por São Paulo Tiririca.

Está cheio de gente supostamente “bem pensante” criticando a, até aqui, bem-sucedida campanha do cantor e humorista.

Deveria ser visto com mais naturalidade o aparente sucesso da postulação do candidato “palhaço”.

Tomemos as duas frases usadas em sua campanha, repetidas no início deste texto. Convenhamos: não devem ser raros os eleitores que se identificam com elas. E com razão.

A mídia passa o tempo inteiro demonizando a classe política. O Congresso Nacional – e os deputados, por óbvio – de tempos em tempos é massacrado por campanha negativa, generalizando-se comportamentos individuais. Ora, em última análise o recado é de que tudo não passa de uma porcaria e que, no fundo, os políticos são todos iguais. Pois bem, “se pior do que está não fica, então vai o Tiririca mesmo!”, é o que devem pensar inúmeros eleitores.

Quanto às funções de um deputado federal, a mídia bem que poderia contribuir com informações que explicassem as atribuições do cargo, até como forma de a população exercer maior controle e fiscalização sobre o trabalho daqueles a quem elege para a Câmara. Sentindo-se órfã do grupinho dos bem informados, boa parte dos eleitores pode mesmo esperar que Tiririca venha salvá-los da ignorância a que foi relegada por aqueles que poderiam ter algum interesse em instruí-los.

O fenômeno da candidatura de Tiririca tem muito a ver com despolitização estimulada pelos meios de comunicação, no seu empenho em criminalizar a atividade política.

Tiririca, com certeza, é uma espécie de “cacareco”, um mau candidato. Mais do que sintomática da desmoralização dos políticos, sua candidatura é expressão da péssima cobertura da atividade política feita pelos órgãos de comunicação.

Sugiro que passemos a chamar a mídia brasileira de “imprensa tiririca”

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Pharoah Sanders em São Paulo

Com um pouco de atraso, comento o show de Pharoah Sanders no Sesc Pinheiros, em São Paulo, no dia 22 de agosto de 2010.

Um dos nomes mais importantes da história do jazz, o saxofonista estadunidense apresentou-se acompanhado de um excelente time, formado por figuras respeitáveis como o seu conterrâneo Rob Mazurek e Maurício Takara.

A exemplo de outros jazzistas fundamentais que têm se apresentado em São Paulo nos últimos anos, a figura de Sanders também se mostrava um pouco debilitada pela idade, fazendo duvidar, de cara, da qualidade da performance que viria. Qual nada! Com todo o respeito, o velhinho manda bem demais! Com grande fôlego e com o timbre que faz lembrar seus discos do final dos anos 1960 e início dos 1970.

O mais legal de tudo foram os arroubos free aos finais de peças um tanto "orientais", místicas, contemplativas. Em suma, o show foi mesmo a cara dos melhores discos de Pharoah Sanders.

Para quem quer conhecer um pouco de Pharoah Sanders, abaixo temos uma faixa do LP Karma, lançado pela Impulse! em 1969, destacando o baixo de Ron Carter e os vocais de inflexão soul de Leon Thomas. A canção chama-se "Colors" e tem autoria de Sanders e Thomas.

sábado, 21 de agosto de 2010

Cartinhas

Nesta semana que finda recobrei uma velha e estéril mania: a de encaminhar mensagens para órgãos de imprensa. Mandei algumas missivas eletrônicas para a Folha de São Paulo e para a rádio CBN. Que eu saiba, apenas uma das "cartas" foi publicada na versão eletrônica do Painel do Leitor, da Folha.

Dividirei com vocês as impressões que enviei para os órgãos supracitados. Como se sabe, temos que buscar ser sucintos se quisermos ver nossas mensagens publicadas. Por isso, não há, evidentemente, nenhum aprofundamento nos temas tratados - até porque talvez não tivéssemos mesmo condições para tanto!

Eleições estaduais - São Paulo
Nesta semana ocorreu o debate Folha/UOL com os candidatos ao governo estadual, com direito a comentaristas do jornal sobre a sucessão, parecendo achar normal o quadro que traz Geraldo Alckmin (PSDB) bem à frente de Aloízio Mercadante (PT) nas pesquisas. A Folha dá como favas contadas a eleição do candidato tucano, tanto que chegou a publicar um editorial de nome "mesmice paulista". Abaixo, a "cartinha":

Geraldo Alckmin tem hoje em São Paulo o único capital político que José Serra tinha no Brasil há cerca de um ano: o recall.
Em nível federal, o destaque dado pela mídia à disputa presidencial colocou os pingos nos “is”. Talvez sem querer, a imprensa acabou mostrando que Serra não passa de um “trololó ambulante”, ao passo que Dilma Rousseff é uma mulher preparada e conhecedora do Brasil. Resultado: a petista sobe enquanto o tucano desce.
Já em São Paulo o debate acerca da pendenga estadual está – para não dizer interditado pelos meios de comunicação – obscurecido pela corrida ao governo federal. Só isso para explicar a “mesmice paulista”, com a dianteira do candidato de um governo que, depois de 16 anos, deixa como legado uma educação catastrófica, transporte público em colapso e a saúde e segurança em frangalhos.
O (e)leitor precisaria ser mais bem informado sobre o pleito no estado de São Paulo.


Ingratidão com FHC
No debate Folha/UOL com presidenciáveis, José Serra (PSDB) acusa Dilma Rousseff (PT) de ser ingrata com os anos FHC. Pilheriei com a cara de pau do tucano.

O presidenciável José Serra, no debate online Folha/UOL, chamou Dilma Rousseff de ingrata por ela não reconhecer supostos avanços dos anos FHC.
Ora, foi o Serra candidato a presidente em 2002 que tentou se esquivar do governo de Fernando Henrique Cardoso, do qual participara como ministro desde o começo. Estratégia, aliás, que viria a ser repetida por Geraldo Alckmin em 2006.
Agora, no pleito deste ano, o jingle da campanha do "Zé" exalta a era Lula, em vez de lembrar os tempos de Fernando Henrique.
Portanto, em matéria de ingratidão com FHC ninguém bate o candidato Serra!


É a Folha que infantiliza os seus leitores
Comentário sobre o editorial Pai e Mãe, de 19.08.2010:

A Folha, em vez de ter a coragem de admitir que apoia uma das candidaturas à presidência da República, aproveita o editorial “Pai e Mãe” para tentar, covardemente, desqualificar a candidata Dilma Rousseff.
Ao buscar sustentar sua opinião, o jornal desrespeita a economista, fazendo pouco caso de sua luta contra a ditadura militar, dos seus cargos como secretária municipal e estadual, ministra de Estado e personagem relevante da articulação política no bem-sucedido governo Lula, especialmente no segundo mandato.
Tomando de empréstimo a elegância e alguns argumentos de um Sérgio Buarque de Holanda, o – apesar de tudo - bem escrito editorial vai fundo demais ao tentar colar a pecha de antirrepublicana na estratégia petista que usa a metáfora da “mãe” para falar de Dilma.
Pois é a imprensa – de braços dados com a oposição – que tem tentado, nesses anos todos, ora transformar a petista numa figura manipulável, sem vontade própria, do tipo que se deixa levar, ora qualificá-la como durona, mandona, às vezes até autoritária. Convenhamos, nada mais parecido com nossas mães do que isso!
Com um pouco mais de, digamos, profundidade filosófica, o editorial da Folha apenas chancela parte das erráticas estratégias da frente serrista, mostrando, assim, que, ao contrário do que afirma, tem lado nesta campanha. Por fim, o jornal é que infantiliza os seus leitores, achando que eles não têm inteligência para perceber isso.


Alguém conhece "de verdade" o Serra?
Missiva encaminhada à Folha, estranhando críticas de Eliane Cantanhêde à candidata Dilma Rousseff, por ser ela supostamente uma incógnita, ao passo que Serra todos sabem bem quem é. Não há negar que a colunista da Folha escolheu um dos piores momentos para fazer tal tipo de afirmação em favor do tucano!

Em sua coluna “Lula lá ou Lula cá em 2011?”, Eliane Cantanhêde se mostra cheia de dúvidas de quem realmente seria Dilma Rousseff e do que se poderia esperar de um eventual governo dela – não obstante os ataques que vem desferindo à ex-ministra nestes anos todos nos fizessem pensar que, ao contrário, ela conhece a candidata petista bem demais!
Mas o principal não é isso. O mais intrigante foi a colunista falar que se sabe muito sobre José Serra. Interessante! Desse jeito ela pode até ser chamada para ajudar na campanha do tucano, haja vista que muitos dos correligionários dele parecem já não saber quem de fato é Serra.
Com efeito, qual Serra conhecemos bem? O que critica de forma dura o governo Lula ou o que tenta se aproveitar da popularidade do presidente no horário eleitoral? O que acusa Dilma de ingrata por não reconhecer avanços no governo FHC ou o candidato acostumado – desde 2002 – a esconder o ex-presidente nas suas campanhas? O que tenta se apropriar dos remédios genéricos ou aquele que admite ter sido apresentado ao programa por um companheiro de partido?
Falar que se conhece bem José Serra nessa altura do campeonato,quando o próprio tucano se perde nas suas contradições, é o tipo de postura ingênua a que jornalistas profissionais não deveriam ter direito.


Liberdade de imprensa e liberdade de expressão
Mensagem encaminhada à rádio CBN, em razão das platitudes da comentarista Lucia Hippolito, no dia 20.08.2010:

Ouvi hoje o comentário de Lucia Hippolito, no “por dentro da política”, sobre o compromisso dos candidatos à presidência da República com a liberdade de expressão.
Fiquei esperando ansiosamente que ela puxasse a orelha do candidato José Serra, que fica agredindo jornalistas da TV Brasil, um candidato a presidente que não responde diretamente às perguntas que lhe são feitas, que tenta desqualificar os entrevistadores, que acusa blogs independentes de serem “sujos” e engordados com verba federal. A propósito, os tais “blogs sujos” a que ele se recusou a nominar, por acaso podem ser alijados do sagrado direito à liberdade de expressão? Espero que a grande mídia se insurja contra essa postura autoritária do ex-governador de São Paulo!
Achei bastante oportuna a lembrança, por parte de Lucia, de que a liberdade de expressão se sobrepõe à de imprensa, informação que a mídia normalmente sonega ao público, antes querendo fazer que pensemos ser a liberdade de imprensa a própria liberdade de expressão. Por ter certamente contrariado seus patrões neste particular, Lucia merece nossos entusiasmados parabéns!
A este propósito, é muito interessante o “respeito” do candidato do PSDB também com a liberdade de expressão strictu sensu dos cidadãos. Não faz muito, no interior de São Paulo, o tucano chamou um manifestante de “energúmeno”, com certeza inspirado pela sua cria (esse, sim, um poste) Gilberto Kassab – provavelmente outro grande defensor da liberdade de expressão! – que expulsou um trabalhador de um espaço público aos gritos de "vagabundo".
Aliás, energúmeno e vagabundo é o mínimo que se fala do presidente Lula nas seções de comentários de sítios eletrônicos dos jornais, que, defensores da liberdade de expressão que são, permitem sem nenhum pudor esse tipo de descalabro. Puxa vida, e o autoritário do Lula não faz nada?!?! Como pode uma coisa dessas?!
Com tudo isso, causa estranheza a preocupação de Lucia com alguma espécie de, digamos, “ímpeto censor” do partido da candidata Dilma Rousseff, o PT. Na hora em que ela disse isso cheguei a pensar: será que integrantes do Partido dos Trabalhadores ligam para os barões da mídia pedindo a cabeça de jornalistas?
De qualquer forma, é bom saber que temos tanta gente defendendo a liberdade de expressão no Brasil, e que podemos falar de tudo, de preferência dentro dos limites das responsabilidades legais, é claro. Se bobear, podemos falar até do preço dos pedágios nas rodovias paulistas!

domingo, 15 de agosto de 2010

Ação e reação

A presença firme de Dilma Rousseff no Jornal Nacional de 9 de agosto de 2010, respondendo de forma segura aos ataques desferidos pelo casal apresentador do programa, pegou de calças curtas não somente os políticos da oposição, como também aqueles que fazem a "verdadeira oposição" no Brasil, a saber, os dedicados escribas da mídia.

Durante todo o tempo, representantes da oposição (política e midiática) vinham apostando em tropeços da candidata do PT quando tivesse, na TV, que se deparar com o contraditório. O desempenho apenas razoável que ela teve no debate da Band, muitíssimo longe de ser o desastre com que muitos sonharam, não deixou de dar algumas esperanças às hostes oposicionistas. Daí talvez a rápida reação contra a boa participação da petista no principal telejornal do País.

Dora Kramer e as "mentiras" sobre a inflação de 2002
Em coluna de O Estado de São Paulo de 11 de agosto de 2010, a jornalista Dora Kramer afirma que Dilma "mentiu ao se referir a inexistente descontrole inflacionário em 2003", no JN. Em verdade, a colunista quis dizer 2002, o último ano do presidente Fernando Henrique Cardoso.

Pois é. Dilma não mentiu, Dora. Pelo menos não "necessariamente". Em 2002, para uma meta de 3,5% ao ano, a inflação efetiva, pelo IPCA, foi de 12,53% ao ano, ou seja, já passada a sempre temível casa dos dois dígitos. Disse eu que Dilma não "necessariamente" mentiu, porque é, com efeito, uma questão subjetiva considerar 12,53% ao ano como uma inflação descontrolada. Quero com isso dizer que não estranharia ouvir alguém que não considerasse pouco mais de 12% de inflação como exemplo de descontrole de preços. Lembro, no entanto, que não foram raros nos últimos anos o terror perpetrado pela mesma imprensa de Dora Kramer sempre que os índices de inflação anualizados ultrapassavam em décimos de ponto percentual o centro da meta estipulada pelo Banco Central - eu disse o "centro" da meta e não a meta em si. Imagino que uma boa parcela dos leitores hoje teria ataque cardíaco com uma inflação de 12,53%!

Quem quiser conferir os números da inflação de 2002 e compará-la com os de outros anos, ainda nos anos FHC e já na era Lula, favor clicar aqui: http://www.bcb.gov.br/Pec/metas/TabelaMetaseResultados.pdf

Por falar em entrevistas no Jornal Nacional, guardo bem na memória a vez do então candidato Lula em 2002. Uma das perguntas feitas por telespectadores versava justamente sobre a inflação, que já assustava no período de campanha. No debate final com José Serra, também na Globo, uma das convidadas também perguntou aos postulantes sobre a inflação daquela época, acrescentando que "estava muito preocupada". Pelo jeito, o dragão só não fazia parte dos medos de Dora!

E perguntar não ofende: se é verdade que, em 2002, com mais de 12,5% de inflação, a coisa não estava descontrolada, será que, quando se faz um carnaval acerca de qualquer singelo aumento de preços, a imprensa no fundo não quer apenas forçar a elevação dos juros? Com a palavra, a jornalista Dora Kramer.

Miriam Leitão procurando culpados
O Blog Cidadania, de Eduardo Guimarães, comentou e reproduziu texto de Miriam Leitão, publicado no jornal O Globo também em 11 de agosto de 2010, igualmente sobre a participação de Dilma Rousseff no telejornal campeão de audiências e seguindo a mesma trilha de Dora Kramer. Veja o post do Eduardo aqui: http://www.blogcidadania.com.br/2010/08/historias-do-pig-para-boi-dormir/

Miriam esperneia, mas, de certo modo, admite que a inflação na casa dos 12% de 2002 era algo, por assim dizer, "fora do script", para não dizermos fora do controle, haja vista que ela também rechaça essa tese - justo ela, que é das que mais veem inflação em qualquer solucinho de preços! Todavia, a culpa do aumento de preços não era do governo do presidente FHC, afirma a jornalista, mas sim do candidato e presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, que, amedrontando o mercado, provocou a disparada nos preços.

Eis uma tese risível e que expõe o amadorismo dos jornalistas brasileiros. A coisa ficaria mais fácil se eles admitissem seu partidarismo. O problema é que tentam posar de imparciais. Estranho é não se atentarem às suas contradições e, pior ainda, é acharem que o leitor é estúpido o suficiente para não perceber.

Veja bem, caro leitor: quantas vezes já não vimos reverberar a tese de que todo o sucesso do governo Lula é, no fundo, mérito de FHC? Pois bem. A mim me parece um tanto paradoxal: o que é bom no governo Lula deve ser creditado a Fernando Henrique Cardoso, mas o que foi desastroso no ocaso do governo FHC foi culpa do Lula?!

Respondam-me: como levar uma colunista dessas a sério?

Josias de Souza não pode
O experiente repórter e blogueiro da Folha de São Paulo Josias de Souza foi escalado para analisar o desempenho dos presidenciáveis na série de entrevistas a William Bonner e Fátima Bernardes. Já no dia 10 de agosto de 2010, o jornalista acusou a preferida de Lula de tergiversar sobre assuntos importantes, especialmente acerca de alianças estranhas do PT, notadamente com gente como o presidente do Senado Federal, José Sarney.

Acho extremamente divertido quando vejo alguém dos quadros da Folha pegando no pé de Sarney. É que o bigodudo conta com uma coluna cativa na nobilíssima página de opinião do jornal há mais de década. É de estranhar que o mesmo periódico que abriga gente tão impoluta e desinteressada como um Josias de Souza abra espaço tão nobre para figura tão desprezível quanto o ex-presidente da República José Sarney.

Em verdade, o imortal Sarney, mais do que aliado de Lula e Dilma, é, em verdade, um quase colega não somente de Josias, mas de Clóvis Rossi, Eliane Cantanhêde, Fernando Barros e Silva etc. A diferença do Sarney para o Josias, na corporação Folha da Manhã S.A., é que o maranhense conta com muito mais liberdade para escrever, podendo até, como no seu artigo da sexta-feira 13 de agosto de 2010, falar de um certo "populismo midiático". Já o Josias, tem que medir um pouco mais as palavras, sempre pensando em não desagradar o patrão.

Enfim, sem tergiversações: deixa a Dilma se aliar também ao seu colega Sarney, meu caro Josias!

Leia também:
Os 6 (seis) anos do Plano Real
Imprensa comum

terça-feira, 27 de julho de 2010

Duas palavrinhas sobre Colômbia e Venezuela

Já na contagem regressiva de seu exitoso governo na Colômbia, o presidente Alvaro Uribe busca oportunidades de protagonismo, apresentando acusações requentadas contra a Venezuela de Hugo Chávez. Segundo o governo colombiano, Chávez estaria dando guarida, em seu território, para guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). É de se estranhar tal acusação nessa altura do campeonato. Dois pontos, pouco ou nada abordados, demonstram que a ofensiva colombiana, apoiada pelos Estados Unidos e pelos impérios midiáticos sul-americanos, não pode ser levada muito a sério.

Uribe linha-dura?
A extraordinária popularidade do presidente Alvaro Uribe - somente comparada à do brasileiro Lula - é atribuída em grande medida ao estilo linha-dura com que tratou a questão da segurança na Colômbia, notadamente à forma como enfrentou as FARC. Seria de se presumir, em vista de seu sucesso como presidente, que obteve êxitos tais contra a atuação do grupo, de modo a não perder o sono justo agora, no ocaso de seu governo. Ou bem as FARC foram derrotadas por Uribe - ou ao menos tiveram suas ações suficientemente controladas - ou bem não foram. Caso sim, as recentes acusações sobre a Venezuela não passam de um ensaio uribista para continuar influenciando a política interna colombiana, com o fim de já ofuscar, preventivamente, o presidente novo, a propósito seu aliado; caso não, talvez Uribe tenha sido somente um exemplo bem sucedido de marketing político, ou seja, sua "linha" pode não ter sido tão "dura" assim. Trata-se de um dilema que mereceria melhores explicações.

Evasores e invadidos
Há outro aspecto pouco explorado - e igualmente ridículo - nessa pendenga: cabia à Colômbia, a princípio, ter evitado que supostos guerrilheiros das FARC evadissem de seu território e acabassem - também supostamente - invadindo o território venezuelano. Repisemos que, ao falar de Colômbia, estamos tratando de um governo famoso pela maneira séria com que cuida da questão da segurança e orgulhoso de seu sucesso no combate à guerrilha. Ora, se é assim, como podem eles permitir que integrantes do grupo armado cruzem suas fronteiras em direção à Venezuela? Lembremos que, aqui no Brasil, dias atrás, o candidato José Serra conseguiu fazer um pouco de barulho ao interpelar publicamente o presidente da Bolívia, Evo Morales, por, segundo ele, não controlar de forma adequada os limites de seu país, permitindo o livre fluxo de traficantes e de suas "mercadorias" em direção ao nosso Brasil. Pois então: pela lógica "serrista", tão bem recebida na mídia e em setores da classe média brasileira, o governo venezuelano é antes vítima da inépcia das autoridades da Colômbia, não o contrário! Mais uma vez, cabem as indagações: onde está a linha dura colombiana? E o sucesso no combate às FARC, é de verdade ou é só um blefe sustentando pela tão bem integrada grande mídia sul-americana?

domingo, 18 de julho de 2010

Dilma, Serra, mídia e o feel good factor

"Garimpo e eleição, só depois da apuração". A frase, atribuída a Tancredo Neves, encerra a dificuldade de se fazer previsões acerca do resultado de escrutínios. Não obstante isso, o uso da razão permite apostar as fichas na vitória de Dilma Rousseff, do PT, na corrida presidencial de 2010. Muitos analistas têm enveredado por esse caminho.

Tem-se usado muito uma expressão emprestada do inglês, o "feel good factor", para afirmar que as condições atuais do Brasil favorecem, em nível federal, uma onda situacionista: previsão de crescimento do PIB em torno de 6%, resultados positivos na criação de empregos, inflação controlada, aumento da renda do trabalhador, expansão do crédito. Para usar outra expressão bastante batida, "é a economia, estúpido".

As hostes oposicionistas sentem o golpe. Apresentar-se como oposição contra um governo com aprovação acima de três quartos da população não é tarefa fácil. Parece que nada funciona para afinar o discurso. Lula e o PT, no pleito de 1994, enfrentaram o mesmo problema em virtude do megassucesso do Plano Real - e o resultado das eleições todos sabemos qual foi.

O candidato José Serra, do PSDB, valendo-se do mote de seu concorrente Aécio Neves, até que tentou se colocar como um pós-Lula, apostando todas as fichas numa simples comparação de biografias contra os demais candidatos, notadamente, é claro, contra a candidata Dilma. Como parte da estratégia, tenta-se fugir da ideia plebiscitária de comparação dos oito anos de governo do PSDB e dos oito anos de PT, certamente por entender que as coisas são favoráveis a este último período; antes, busca-se falar de avanços que supostamente se iniciaram com a redemocratização do País. Como corolário disso, a afirmação de que PT e PSDB, Lula e FHC, Dilma e Serra são, no fundo, tudo a mesma coisa.

A estratégia até que não seria ruim não fossem as ligações perigosas da oposição com a mídia. Durante oito anos o conglomerado midiático tenta desconstruir o governo Lula, sempre pintando-o como um fracasso, superlativando seus defeitos, fazendo-lhe cobranças desproporcionais em relação ao que exige, por exemplo, dos governos estaduais a cargo do PSDB. Agora vem o candidato da mídia e diz que não é tão oposição assim, que não se trata disso, que, bem-intencionado, apenas acha que o Brasil pode mais!

As duas vitórias de Lula - principalmente a de 2006 - e a resiliência de sua popularidade provam que a mídia não vive seus melhores dias; mais do que isso, ficar de braços dados com ela é carregar um peso morto. PSDB, DEM e PPS vão perceber, mais cedo ou mais tarde, ter sido um grande erro terceirizar o trabalho de oposição para os meios de comunicação, senão vejamos: para continuar, por motivos eleitoreiros, elogiando Lula e o governo, Serra teria que pedir aos seus amigos da imprensa que parassem de malhar diariamente o presidente; por outro lado, se, em coro com a mídia, o tucano começasse a reverberar o ódio e o preconceito de seus companheiros colunistas, bateria de frente com o povão que apoia o governo. Ambas as iniciativas sairiam caras para o candidato.

A saída mais honrosa para a oposição talvez tivesse sido arregimentar novos filiados e escolher um deles para lançar como anticandidato, só para marcar presença na disputa. Três nomes me vêm à mente: Judith Brito, Arnaldo Jabor e Otávio Frias Filho.

sábado, 17 de julho de 2010

Paulo Moura (1932-2010)

Saxofonista, clarinetista, flautista, além de compositor, Paulo Moura morreu nesta semana, no dia 12.07.2010, de câncer, no Rio de Janeiro.

O Paulista de São José do Rio Preto, radicado no Rio desde 1949, conta na sua carreira solo com ao menos dois discos importantes: Paulo Moura Interpreta Radamés Gnattali, de 1959, e Confusão Urbana, Suburbana e Rural, 1976. Virtuose, acompanhou diversos artistas, destacando-se nomes como Sérgio Mendes e Marcos Valle.

Como singela homenagem ao grande músico, vamos ouvi-lo acompanhando o norte-americano radicado no Brasil Gay Vaquer, no raríssimo disco The Morning of the Musicians, gravado em São Paulo em 1972. Paulo Moura toca alguns valiosos segundos de sua flauta na belíssima "Fantastic Realism". Nas imagens, foto do grande artista, além da capa e contracapa do disputado disco de Vaquer (sim, é o pai do Jay).

domingo, 11 de julho de 2010

Brasil e Holanda

Por ocasião do grande sucesso da Holanda na Copa do Mundo 2010, a Record News exibiu reportagem destacando uma cidadezinha do país, toda enfeitada com a cor laranja. Chamou a atenção o fato de as residências, o comércio e até os automóveis estarem alaranjados. Pelo que mostrou no vídeo, não se viam pinturas do vibrante colorido nas calçadas ou no asfalto.

No Brasil, em época de Copa do Mundo, costuma-se liberar a fera patriótica adormecida em cada brasileiro e as cores verde e amarelo ganham a paisagem. Diferentemente da Holanda, não se veem, todavia, as paredes ou muros de casa muito decorados; antes as cores do País vão parar preferencialmente nas guias, no passeio público e no leito carroçável dos bairros.

É uma questão cultural. Se não estou enganado, Roberto da Matta tem um trabalho que justamente trata das maneiras diferentes com que se pode lidar com a "casa" e a "rua" e suas possíveis implicações. E se a reportagem da Record não foi muito simplista e superficial, dá para imaginar que os holandeses são mais preocupados com o espaço público do que somos nós brasileiros.

A cidade de São Paulo conta com uma legislação de posturas municipais por demais rígida, proibindo - caso mais uma vez não nos enganemos - intervenção de particulares no leito carroçável. Evidentemente ninguém dá a mínima: não só a galera exagerou nas pinturas no asfalto, como, para fazê-lo, teve que fechar, sem prévio aviso às autoridades, as ruas. Estranhamente, não se viu ninguém reclamando - e olha que os motoristas estão sempre prontos a choramingar quando, por qualquer motivo, são impedidos de trafegar em uma via qualquer.

Os holandeses da pequena cidade exibida na reportagem tiveram iniciativa difícil de imaginar aqui no Brasil: coloriram a própria casa e meteram tinta nos seus automóveis. Façamos um exercício: imagine o mesmo sujeito que perdeu algum tempinho pintando as vias de São Paulo jogando tinta verde e amarela nas paredes da própria casa ou, pior, passando uma demão de cores da nossa bandeira no capô do carro. Impensável, não?

Nossa cultura é mesmo assim: da casa para a rua tudo é permitido; do portão para dentro a coisa muda. O leitor decerto lembrar-se-á dos próprios pais que recriminam o uso de palavrões dentro do lar, mas, se o filho quiser falar tais "besteiras" na rua, tudo bem!

A confusão do público e privado advém daí, sem dúvida. Ao pintar guias e asfalto sem licença do poder constituído, trato aquilo que é público não tanto como se fosse particular, mas, pior, trato-o como se fosse terra de ninguém. Algo que até poderia ser bacana, se, de outro lado, os cidadãos fizessem isso por sentirem-se, em conjunto, "donos" do espaço público, o que, convenhamos, em absoluto não ocorre.

Já na Holanda parece que se preservou o espaço eminentemente público, ao passo que se reservou para o âmbito privado a exibição, na forma de cores e enfeites, do orgulho e amor à pátria.

É, portanto, da relação do público e privado que se trata. Brasil e Holanda parecem diferentes nessa abordagem, ao menos quando tomados tão isolados exemplos. Pergunta: qual das duas formas de encarar o público e o privado é mais culturalmente compatível com a corrupção?

sábado, 26 de junho de 2010

Um ano sem Sky Saxon

No dia 25 de junho de 2009, o mundo perdia Michael Jackson. Como era de se presumir, passado um ano, não faltam homenagens ao grande ídolo.

Na mesmíssima data, morria em Austin, no Texas, Richard Marsh, mais conhecido como Sky Saxon.

Prevendo que todos estariam hoje só falando de Michael, comprometemo-nos, há exatamente um ano, a relembrar que o mundo támbem perdera, na mesma data, um dos gênios da psicodelia.

Saxon liderou, na segunda metade dos anos 1960, o legendário The Seeds, expoente do rock californiano, grupo conterrâneo e contemporâneo de nomes como Doors, Love, Chocolate Watchband e incontáveis outros.

A melhor homenagem a Saxon é ouvi-lo à frente dos Seeds, com música de sua própria autoria, extraída do álbum A Web of Sound, de 1966: "Mr. Farmer". Nas imagens, primeiramente foto do grupo The Seeds, basicamente a mesma que ilustra a capa do primeiro disco deles, o homônimo também de 1966, e em seguida foto do próprio Sky Saxon, do mágico ano de 1967. Logo abaixo.

Leia também:
Sky Saxon (1946-2009)
Michael Jackson (1958-2009)

sábado, 19 de junho de 2010

José Saramago (1922-2010)

Em homenagem ao genial escritor português José Saramago, falecido na sexta feira, 18.06, reproduziremos o comentário crítico da obra Memorial do convento, de 1982, de autoria da professora e tradutora Roseli Brito. O texto vai ser mais bem aproveitado pelos que leram o livro; aos que não tiveram a oportunidade, servirá de incentivo para preencher essa lacuna.

As indicações de páginas referem-se à edição lançada no Brasil em 1994, pela editora Bertrand Brasil. Que seja útil ao leitor e que seja aceito como singela homenagem ao gênio português, Nobel de literatura, José Saramago.


Memorial do Convento - comentário crítico
Roseli Brito*

O escritor José Saramago é reconhecido por sua militância comunista-marxista e também por seu ateísmo e posicionamento crítico em relação às religiões. Algo dessa sua formação transparece na narrativa de Memorial do convento.
O estudo histórico de viés marxista aponta a história como o resultado da ação de homens concretos, os quais, numa relação dialética, também são influenciados pelas condições concretas com que deparam. É sob essa ótica que se insere a ideia de fundir fatos que se poderia chamar de “história real” (e num certo sentido de história oficial) com outros de uma história que poderíamos classificar de “cotidiana”, quiçá “subterrânea” (das pessoas comuns). Os livros de história e as enciclopédias de conhecimentos gerais ao falar do Convento de Mafra tratam da sua grandeza e beleza, tratam também da iniciativa de D. João V e tratam, paralelamente, da importância da Igreja Católica para Portugal naquele período; no romance, porém, Saramago demonstra que essa obra arquitetônica não existiria sem gente como Manuel Milho, Baltazar, Francisco Marques, José Pequeno, Álvaro e outros homens comuns, que evidentemente não aparecem nos livros escolares. Nas palavras do autor: “Deve-se a construção do convento de Mafra ao rei D. João V, por um voto que fez se lhe nascesse um filho, vão aqui seiscentos homens que não fizeram filho nenhum à rainha e eles é que pagam o voto, que se lixam, com perdão da anacrônica voz” (p. 257). Algumas páginas à frente, salientando a diferença social dos homens do povo e da nobreza, dos que efetivamente constróem e dos que mandam ou estimulam construir, o narrador conta que “a princesa já não pensa nos homens que viu na estrada. Agora mesmo se lembrou de que, afinal, nunca foi a Mafra”, e reflete: “que estranha coisa, constrói-se um convento porque nasceu Maria Bárbara, cumpre-se o voto porque Maria Bárbara nasceu, e Maria Bárbara não viu, não sabe, não tocou com o dedinho rechonchudo a primeira pedra, nem a segunda, não serviu com a sua mão o caldo dos pedreiros, (...) o convento é para si como um sonho sonhado, uma névoa impalpável, não pode sequer representá-lo na imaginação, se a outra lembrança não serviria a memória” (pp. 312-3).
O processo de construção do convento ajuda a delinear outros aspectos de caráter político e econômico que a obra retrata: o absolutismo do rei avulta-se nas suas decisões incontestáveis, como, por exemplo, as convocações de trabalhadores de outras regiões para servir à construção do convento; o momento econômico permitia as extravagâncias que a obra podia suscitar, pois era o momento de entrada de ouro e prata vindos da principal colônia, o Brasil; a construção altera a dinâmica de toda a vila, pois muitos homens para lá se dirigem em busca de trabalho, e as próprias pessoas do local passam a viver no interesse do convento; aventa-se, numa rápida passagem, que os homens abandonavam os campos (p. 211), noutra é sugerida a divisão do trabalho (p. 215). Percebe-se, assim, que a questão econômica se sobrepõe aos aspectos sociais. Noutras palavras, o trabalho, a forma como os homens produzem e reproduzem a sua vida material, é que determina o seu ser social, pois influencia a sua forma de viver em sociedade. Tem-se, mais uma vez, a expressão sutil da formação marxista de Saramago apresentada na obra.
A forte influência da Igreja, além de sua proximidade à Coroa Portuguesa, é bastante acentuada no texto. As situações vivenciadas no romance apontam a onipresença dos aspectos religiosos. O fato de as duas principais personagens, Baltazar Sete-Sóis e Blimunda Sete-Luas, terem se encontrado exatamente num auto-de-fé - o qual levaria a mãe da moça a ser degredada de Portugal, por acusação de suposta prática de bruxaria - parece indicar o quanto a religião fazia parte do cotidiano das pessoas, tanto que as tais cerimônias eram acompanhadas, na mesma medida, indistintamente por nobres e por súditos. O próprio Baltazar, aliás, é supliciado no final do romance, ao lado do dramaturgo Antonio José da Silva, o que explicita o alcance das práticas inquisitoriais, capazes de condenar ao mesmo tempo um grande escritor e um soldado mutilado de guerra. Em comum, eles deveriam ter apenas atos ou ideias considerados ofensivos à fé católica. A respeito da citada ligação entre Estado e Igreja, Saramago faz o narrador do texto colocar que “estando el-rei do nosso lado, o Santo Ofício não irá contra o gosto e a vontade de sua majestade, El-rei, sendo caso duvidoso, só fará o que o Santo Ofício lhe disser que faça” (p. 192). Ou seja, infere-se uma legítima comunhão de interesses entre ambos.
O livro também explora situações que beiram o fantástico e o sobrenatural, mas de modo a suscitar reflexões filosóficas. A capacidade que Blimunda tem de enxergar o interior das coisas, por exemplo, parece, num primeiro momento, algo de caráter absolutamente materialista, pois ela via apenas órgãos, tecidos etc. Nas primeiras descrições não se veem quaisquer tentativas de se falar de forma metafórica: não se percebe, por exemplo, a sugestão de se enxergar o interior das pessoas como se se quisesse entendê-las melhor, tal qual se faz no dia-a-dia quando se diz “que para conhecer bem uma pessoa, deve-se conhecê-la por dentro” ou quando se sentencia que “alguém tem uma beleza interior”. Blimunda, conforme já citado, agora nas suas palavras, “só via o que estava no mundo” (p. 77). Com efeito, nos primeiros relatos de seus poderes, ela conta ao esposo que vê uma criança no ventre de uma mulher, um velho de estômago vazio, um padre com solitária. Todavia, por solicitação do padre Bartolomeu Lourenço, ela é exortada a buscar a ver “algo mais” no interior dos homens, no caso a “vontade”. A alma, diz o padre, não se pode mesmo ver, mas a vontade é uma nuvem fechada sobre a boca do estômago, que se separa do homem na iminência da morte, e que compõe o éter que poria a sua passarola a voar. Dessa vez, sim, parece haver a possibilidade interpretativa de se enxergar algo de metafórico nas capacidades paranormais de Blimunda. O autor talvez tenha desejado reafirmar seu materialismo, atribuindo um componente físico a uma qualidade que se classifica de abstrata. É muito interessante também a associação da “vontade” dos homens com o éter que permitirá o vôo da máquina projetada pelo padre: é que sempre fez parte da história o desejo do homem de voar; mais do que isso, talvez fizesse parte do subconsciente dos homens a vontade de voar, e, por isso, o somatório das vontades, ao compor o éter, permitiria a realização do “sonho de Ícaro”. E ao mostrar a vontade como algo que está dentro dos homens enquanto há vida, Saramago bem pode ter tentado apontar a capacidade de transformação da atuação humana, pois é ele, o homem, o agente concreto da história, e, desse modo, tudo, de certa forma, dependeria de sua vontade. Com isso, estaria o autor expondo, mais uma vez – e de forma sub-reptícia -, o seu interesse pelas questões políticas.
Saramago faz muitas referências no livro, abrindo um grande leque de possibilidades de interpretação. Torna difícil, num comentário crítico, não ficar com a impressão de que algum ponto importante possa ter sido preterido ou subavaliado, enquanto outro aspecto esteja sendo superestimado. De todo modo, a fruição de Memorial do convento tende a ser sempre proveitosa; a leitura tende a ser uma descoberta vantajosa, semelhante à situação em que Baltazar se confessa um pouco incrédulo dos poderes de Blimunda (p. 80): a moça lhe pede que faça um buraco no chão, pois ele encontrará uma moeda de prata. O rapaz acata, mas a moeda que encontra em verdade é de ouro. Acerca disso, ela diz: “Melhor para ti, e eu não deveria ter arriscado, porque sempre confundo a prata com o ouro, mas em ser moeda e valiosa acertei, que mais queres, tens a verdade e o lucro”. O mesmo se deu com o livro: na primeira leitura ele parecia “prata”; na segunda, “ouro”. No fim, a leitora ficou ao menos com um pouco da verdade... E certamente com o lucro!


*Professora de português, inglês e espanhol; tradutora

sábado, 12 de junho de 2010

Oliver Stone - Ao Sul da Fronteira


Em cartaz nalgumas raras salas alternativas, o documentário Ao Sul da Fronteira (South of the Border), dirigido por Oliver Stone, pode ser tomado como uma espécie de “direito de resposta” dos líderes de esquerda latino-americanos. À exceção do cubano Raul Castro, os entrevistados do cineasta estadunidense – todos eles presidentes sul-americanos – ascenderam aos seus postos como resposta popular a séculos de descaso das elites, em especial a políticas que tiveram sua culminância no descalabro neoliberal que reinou em seus países nas décadas de 1980 e 1990.

Destacam-se no filme os presidentes Lula, Rafael Correa (Equador), Fernando Lugo (Paraguai), Cristina Kirchner (Argentina). Tem-se, também, a oportuna participação do ex-presidente argentino Nestor Kirchner, com sóbrias opiniões, inclusive acerca de Hugo Chávez. Mas as duas principais “estrelas” são exatamente o venezuelano Chávez e o boliviano Evo Morales. Não por acaso, os dois últimos são os que mais sofreram ataques do fundamentalismo de direita dos Estados Unidos, especialmente do fomentado pela mídia.

Stone faz um belo apanhado da história recente da Venezuela, passando pelas tentativas de golpe, tanto a perpetrada pelo então coronel Hugo Chávez Frias, quanto a que ele, como presidente legitimamente eleito, sofreria em 2002, por obra de grupos que se organizaram com o apoio externo dos Estados Unidos e, internamente, em torno da mídia. No caso deste último, o cineasta valeu-se das informações e imagens já utilizadas no imperdível documentário The Revolution Will Not Be Televised, facilmente encontrável no YouTube.

Com Evo Morales, o cineasta deve ter provocado enfartes nalguns adeptos do Tea Party, ao consumir um punhado de folhas de coca enquanto ouve o boliviano falar da importância de se ter o domínio sobre os recursos naturais, justo no país que teve a própria água privatizada em favor de uma empresa americana, sob regras que proibiriam as pessoas de armazenar a água da chuva! Já em um momento de descontração, jogam um pouco de futebol.

Como uma não identificada personagem do filme está uma instituição: a imprensa. O que Stone parece tentar fazer é justamente desvelar a mistificação que a mídia procura impingir a esses presidentes latino-americanos. Trata-se de um acerto do diretor buscar entender a importância dos meios de comunicação nesse processo. Com efeito, os oposicionistas de direita ou de centro-direita na região encontram-se fragilizados, sem discurso. Por isso a mídia se arvora no papel de fazer as vezes de oposição política. É difícil para os políticos defender um legado de privatizações, de submissão ao FMI, de desregulamentação no mundo do trabalho; a mídia, ao contrário, não tem pudores de proteger tal modelo, mesmo sabendo – ou talvez exatamente por isso – que isso só encontra eco numa parcela ínfima da população, sobretudo entre os mais bem aquinhoados.

E é justamente de imagens tiradas de programas jornalísticos da TV americana que se têm os momentos mais hilários do documentário. Alguns depoimentos e notas são tão cômicos no radicalismo de direita que chegam a se parecer com as extraordinárias sátiras do professor Hariovaldo de Almeida Prado. Neste particular, Stone aproxima-se de seu conterrâneo Michael Moore, que sempre usa dos recursos do sarcasmo e da ironia para expor parte do absurdo do ideário político conservador. Moore, aliás, aparece no documentário em imagens tiradas de uma sua participação na CNN, descascando para cima do âncora Wolf Blitzer, acusando toda a mídia pelo endosso às mentiras de George W. Bush acerca do Iraque.

Uma crítica fácil seria imputar certa falta de objetividade ao diretor, acusando o viés ideológico do filme. Poder-se-ia, em vista disso, argumentar que não seria difícil produzir um documentário demonizando os governos retratados por Oliver Stone. Ora, como apontava o filósofo Isaiah Berlin, política é acima de tudo ideologia, devendo-se desconfiar das tentativas de a ela atribuir caráter científico. De qualquer forma, Stone documenta, apresenta dados confiáveis, exibe “confissões” de jornalistas.

De todo modo, aquele que assiste ao filme pode dele gostar ou não, pode levá-lo a sério ou não. O mais importante é que, no fim das contas, um cineasta norte-americano, ironicamente, é quem dá voz a políticos que, de alguma maneira, são censurados pela mídia de seus próprios países.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Ron Carter - Teatro do Sesi - São Paulo - 02.06.2010

Não é de se estranhar que os fãs de jazz - mesmo aqueles que se prezem - não tenham nenhum disco solo de Ron Carter na coleção. Por outro lado, é praticamente inconcebível que os apreciadores do gênero americano - inclusive os mais desprezíveis entre eles - não possuam pelo menos uma meia dúzia de álbuns com participação do famoso contrabaixista.

Com efeito, Carter sempre aparece nas contracapas de alguns dos melhores discos de jazz da história, tocando com endeusados do calibre de um Wayne Shorter ou com subestimados como Eddie Harris.

Nesta apresentação no Sesi, num formato de trio, Carter foi acompanhado por piano e pela guitarra do respeitado Russell Malone. Como não poderia deixar de ser, o contrabaixista foi a grande figura de noite, fazendo um show em que o seu instrumento dominava os arranjos, lavando a alma daqueles que a vida toda foram obrigados a se contentar com os tímidos solos de baixo que costumam aparecer nos discos.

Ouça abaixo Ron Carter mostrando que também se sai muito bem tocando cello. A faixa é "The Baron", do álbum do Out There, do mestre avant-garde Eric Dolphy, gravada em 15.08.1960. O vanguardista é o próprio autor da canção.

domingo, 16 de maio de 2010

Virada Cultural 2010 - Booker T. Jones

Não tenho dúvidas de que a presença de Booker T. Jones na Virada Cultural 2010 tenha sido dos pontos altos do evento. Líder dos lendários Booker T. & the MG's, nesta vinda a São Paulo o organista veio com uma banda muito bem entrosada, prejudicada apenas por uma discreta má qualidade do som que, contudo, não comprometeu o resultado final da apresentação iniciada no finalzinho do sábado e concluída no início do domingo - bem na "virada", literalmente.

Relembrado pelos seus trabalhos como organista nos anos 1960, Booker T., neste show, também cantou e tocou guitarra. Além de clássicos de seu repertório junto com os MG's, o músico interpretou gemas que ficaram famosas na voz de Albert King e Otis Redding. Tudo a ver! Ao apreciar algumas das principais canções do selo Stax, o leitor, talvez sem o saber, está ouvindo ao fundo Booker T. & the MG's, uma vez que eles acompanharam muitos dos grandes artistas que gravaram naqueles históricos estúdios de Memphis.

A este escriba causou agradabilíssima surpresa o público volumoso, formado em sua maioria por uma garotada que, surpreendentemente, parecia conhecer bem o repertório. Deve ser a internet... Mais próximo ao palco, em lugares privilegiadíssimos, viam-se alguns "vips": Charles Gavin, Luiz Calanca, o jornalista Álvaro Pereira Jr. e o radialista Daniel Daibem (a quem coube a honra de anunciar o mestre).

Espero que Booker T. Jones e a excelente banda que o acompanhou tenham também ficado positivamente impressionados com a acolhida do público paulistano. Quem sabe não vem uma miniturnê por aí?

Abaixo, o registro de gravação de aúdio feita por este blogueiro na apresentação de Booker T. Jones. Pedimos desculpas pela péssima qualidade. Foi feita de forma muito rústica, apenas para registrar, na Virada Cultural 2010, a presença de um artista tão importante para a história da música do século XX. A canção é a clássica "Green Onions", de 1962, composta por ele, Steve Cropper, Al Jackson Jr. e Lewis Steinberg. A ilustração é foto de Booker T. & the MG's, no início dos anos 1960, extraída dos arquivos da Fantasy Inc.

sábado, 1 de maio de 2010

Pedro, Gilberto e Alberto

Responda-me, amigo (e)leitor de São Paulo: em 1994, você votaria em Pedro Piva para senador pelo estado? Em 2004, escolheria Gilberto Kassab para prefeito da capital? Em 2006, sufragaria Alberto Goldman para governador?

Aos que disseram sim, por favor, não fiquem bravos comigo se eu concluir que a maioria responderia um sonoro não.

No entanto, durante a maior parte do tempo entre 1995 e 2003, São Paulo se fez representar no Senado Federal justamente pelo empresário Pedro Piva; a capital paulista, por sua vez, já a partir do início de 2005, teve efetivamente à sua frente o então desconhecido Gilberto Kassab, oriundo do naquela época PFL, partido sem tradição em São Paulo; e, por fim, atualmente o estado está nas mãos de Alberto Goldman, veterano político que ainda não tem seu nome na ponta da língua da maioria dos cidadãos paulistas.

Piva, Kassab e Goldman tiveram a sorte de ser suplente ou vices de cargos eletivos de titularidade de José Serra.

Eleito senador com excelente votação em 1994, Serra de cara o preteriu para ocupar o importante Ministério do Planejamento no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Posteriormente, ocuparia, também no governo FHC, a pasta da Saúde. Como se vê, o “senador” ficou praticamente todo o período do mandato ocupando cargos no governo que hoje procura esconder. Coube a Pedro Piva representar a população de São Paulo, que, maciçamente, votou em José Serra para senador.

Em 2004, Serra derrota Marta Suplicy na corrida pela prefeitura de São Paulo. Apesar de reiteradas promessas de que cumpriria os quatro anos de mandato, o alcaide, cotado à época até para ser candidato a presidente, abandonou a prefeitura para disputar o governo do estado em 2006, ou seja, após pouco mais de um ano de administração. Cumpriu-se a profecia da campanha petista de 2004, que, ciente da desmedida ambição de Serra, já alertava o eleitor de que a prefeitura ficaria, inexoravelmente, nas mãos do “incógnito” Kassab.

Agora, por força das exigências da legislação eleitoral, pré-candidato à presidência da República, Serra - depois de uma administração sem brilho, nas insuspeitas palavras da Folha de São Paulo -, deixa o estado nas mãos de Alberto Goldman, para um mandato tampão de poucos meses.

Em vista dessas informações, causa estranheza uma mensagem eletrônica que vem circulando em forma de “corrente”, dando destaque ao fato de que uma possível vantagem de José Serra sobre a sua principal adversária seria o fato de já ter disputado diversas eleições e, mais do que isso, ter ocupado cargos eletivos. O corolário disso é que Serra teria mais experiência. A mensagem não informa, todavia, que o candidato não concluiu justamente os principais mandatos para os quais foi eleito, não havendo, neste caso, muito sentido em se falar do impreciso conceito (em política) de experiência.

Tudo bem que boa parte do proselitismo encaminhado via e-mail, em especial os apócrifos, não prima pelo respeito à verdade, dado o seu caráter de pura propaganda e dado sua falta de compromisso ético. O problema, porém, é que a própria pré-campanha do ex-governador – assim como a de seus aliados na mídia – também bate na tecla do “experiente concorrente em eleições e ocupante de importantes mandatos eletivos”, que botaria Serra, do PSDB, em vantagem sobre Dilma Rousseff, candidata do PT.

E pensar que Serra, o homem que não costuma honrar os mandatos que os eleitores lhe confiam, poderia ter tido como vice, para este pleito de 2010, ninguém menos do que um José Roberto Arruda! E não para por aí: há o risco iminente de ele ter como vice a ruralista Kátia Abreu, representante do mais pragmático conservadorismo que poderíamos imaginar. Será que disso a Regina Duarte não tem medo? Decerto que não...

sábado, 17 de abril de 2010

A primeira semana de 2010

Com o lançamento da pré-candidatura do tucano José Serra, quase dois meses após do da petista Dilma Rousseff, o quadro das eleições presidenciais de 2010 definitivamente fica mais induvidoso, com a possível repetição da polarização - PT e PSDB - que marca a política nacional desde 1994.

Mais do que nunca, a mídia se destaca como figura importante, atuante, da pendenga. Dessa feita, a afirmação não parte das constatações de analistas independentes ou de políticos ligados à esquerda ou à base de Lula, mas da própria presidente da ANJ (Associação Nacional de Jornais), Maria Judith Brito, que admitiu, sem qualquer cerimônia, que a imprensa atua como um "partido de oposição". Confira a declaração dela, com os nossos grifos:

A liberdade de imprensa é um bem maior que não deve ser limitado. A esse direito geral, o contraponto é sempre a questão da responsabilidade dos meios de comunicação. E, obviamente, esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada. E esse papel de oposição, de investigação, sem dúvida nenhuma incomoda sobremaneira o governo.

A confissão da presidente da ANJ apenas reforça o que todos no fundo já sabiam. Agora, que a campanha já começou, já dá para perceber a tônica de como a disputa se dará (aparecerá) na mídia: crítica virulenta ao governo Lula, esforços para tornar negativa a agenda da candidata Dilma e, por fim, simbiose entre imprensa e candidato da oposição.

Peguemos alguns fatos (ou factoides) da semana e sua divulgação (análise) nos meios de comunicação.

Quem ignora quem?
A Folha de São Paulo, em 14.04.2010, veio com a seguinte manchete: "Obama ignora Lula e pede sanções imediatas ao Irã". A chamada principal de O Estado de São Paulo na mesma data foi "Obama ignora Lula e mantém pressão por sanções ao Irã". As manchetes quase idênticas, além de darem uma boa pista da "diversidade" no império midiático, comportam uma dificuldade para os diários paulistanos, genuínos depositários do complexo de vira-latas brasileiro, na feliz expressão de Nelson Rodrigues.

Com efeito, levando em conta que temos um presidente da República não raro admoestado nos editoriais dos mesmos jornalões por sua soberba, sempre convidado a lembrar-se de nossa desimportância, fica estranho de repente incluí-lo entre os que tiram o sono do chefe de Estado mais importante do mundo, mandatário-mor da nação mais influente do planeta. Se Lula é somente um megalomaníaco a quem ninguém dá ouvidos, por que justo o Obama esquentaria a cabeça com ele, ainda que fosse para ignorá-lo, a ele se opondo? Mais sensato, parece-nos, seria a nós dispensar a indiferença com a qual toda a vida nos acostumamos.

A melhor leitura do caso parece ter sido a do historiador Gilberto Maringoni, que em depoimento ao sítio Carta Maior sugeriu que seria mais prudente a inversão das manchetes da Folha e do Estadão para algo do tipo "Lula ignora Obama e mantém negociações com o Irã". Em nossa opinião, Maringoni mandou bem e venceu o jogo no próprio campo dos principais jornais de São Paulo. Afinal, como ser crítico feroz da política externa do governo Lula reconhecendo de forma tão categórica a importância internacional das posições adotadas pelo País?

Ah, só para lembrar, os principais críticos do governo Lula, incluindo a mídia, depositam esperanças na possibilidade de que a oposição, se vitoriosa, mude os princípios independentes e assertivos da atual política externa brasileira.

O "problemão" de Dilma
No mesmo 14.04.2010, o Estadão avisa que Dilma tem problemas com alianças em 15 estados da Federação, o que atingiria, pela conta do jornal, 63% do eleitorado brasileiro. Sabe a que se resume o problema da candidata do PT, caro leitor? Ao excesso - isso mesmo, "excesso" - de palanques!

Acredite se quiser, amigo (e)leitor: o que talvez fizesse Serra abrir alguns de seus raros - e pouco francos - sorrisos é, segundo o centenário jornal paulistano, um problemão para a candidata Dilma. Deve ser verdade. Já imaginaram se a ex-ministra tiver que, na mesma semana, visitar o candidato a governador X às segundas, quartas e sextas, e nas terças, quintas e sábados precisar subir ao palanque com o candidato Y, ferrenho adversário de X? Que confusão! Imagina a ciumeira entre eles!

Como bem definiu o deputado federal Brizola Neto (PDT-RJ) em interessante postagem em seu blog, trata-se de um caso de wishful thinking do Estadão, ou seja, vejo as coisas na ótica que entendo ser mais favorável para mim ou como gostaria que elas se revelassem. Na dura realidade, porém, o excesso de aliados nos estados não é problema de Dilma Rousseff; a falta deles é que é para Serra.

O que foi que você disse?
O dia 14.04.2010 parece ter sido profícuo no discurso unificado da imprensa. Na mesma data, dessa vez na Folha, o colunista Fernando Rodrigues comenta a polêmica, disseminada na mídia, sobre frase que, aliás, não foi dita por Dilma Rousseff. A petista, em discurso no ABC paulista, falou generalidades acerca de não abandonar a luta. Alguns interpretaram como críticas aos que se exilaram durante o período militar, como é o caso de Serra. Pior do que isso, a mesma Folha transcreveu incorretamente o que disse a ministra, incluindo trecho sobre exilados em sua fala, o que de fato não ocorreu.

O mais interessante, porém, foi Rodrigues puxar a orelha da petista, buscando ensinar-lhe que, em política, "tudo o que precisa ser explicado não é bom". Acrescentou que "Dilma Rousseff tem se explicado muito". Teorizou que "são apenas sinais da inexperiência de Dilma quando se trata de ficar sob a tensão de uma campanha".

Rodrigues deve estar de brincadeira. Brincadeira pior do que quando, no programa Roda Viva com Protógenes Queiroz, sugeriu que agentes secretos deveriam fazer seu trabalho revelando a identidade! A questão é simples: Dilma precisa se explicar muito porque dela são cobradas explicações, inclusive sobre fatos inverídicos. Suas falas "reais" não revelam inexperiência em campanhas; somente são frases fortes que chamam, naturalmente, a atenção na mídia, que quer a ela impor uma agenda negativa a todo custo - e não é de hoje, diga-se. À candidata, nada resta senão apagar os incêndios, os quais a muitos sequer deu causa. Não é justo, mas é assim que as coisas funcionam. Infelizmente.

Do outro lado, do candidato José Serra não são cobradas explicações. Por exemplo, o que fez a imprensa quando o governador soltou os cachorros para cima de repórter da TV Brasil que lhe fez pergunta incômoda numa coletiva de imprensa? Absolutamente nada. Ora, seria o caso de tentar ver se a sua defesa da liberdade de imprensa, cantada em prosa e verso inclusive no lançamento de sua candidatura, é para valer mesmo ou se, em caso de ser eleito, os jornalistas terão que lhe fazer apenas as indagações que lhe agradem.

Em resumo, não é Dilma que tem tido de se explicar muito. É Serra que não tem explicado nada.

Pitta estava para Maluf como Kassab está para Serra
Serra, como é de todos sabido, é o candidato da oposição mas, esquizofrenicamente, não quer fazer oposição a Lula. Vai entender...! Aposta tudo na comparação de sua biografia com a da ex-ministra. Ademais, ele está no melhor dos mundos, pois enquanto preserva o presidente brasileiro, seus jornalistas amigos trabalham arduamente para não somente fazer balanços negativos do governo como, especialmente, esconder os dados positivos, dentre os quais, a criação recorde de empregos no primeiro trimestre. É um bate-bola perfeito!

Vejamos a que ponto chega a tentativa de fugir do debate de projetos. Em entrevista à rádio Bandeirantes, para fustigar a candidata "desconhecida" do presidente mais popular da nossa história, o ex-governador valeu-se do exemplo do falecido Celso Pitta, o fracassado ex-prefeito de São Paulo, um "estranho" que se elegeu no vácuo da boa avaliação de Paulo Maluf. Serra, ainda por cima, aproveitou a ocasião para elogiar a administração de Maluf, concluindo que nem sempre a criatura repete o criador.

Primeiramente, observemos que boa parte das declarações na política não é feita de forma tão desinteressada. Com a simpática referência a Maluf, Serra pretende, num primeiro momento, reforçar a imagem positiva que vem obtendo junto ao eleitorado mais conservador, às vezes até de extrema-direita. No vale-tudo eleitoral, não dá para dispensar os velhos entusiastas do "rouba-mas-faz" e coisas do gênero; e não importa que tenham, Serra e Maluf, militado em lados opostos durante as respectivas trajetórias políticas. Todavia, não é isso o mais intrigante nesse caso.

O curioso, sem dúvida, é que Serra também tem o seu "Pitta". E o mais interessante é que se trata de um homem que foi, ironicamente, secretário de planejamento justamente do falecido ex-prefeito. Estamos a falar, é claro, do atual prefeito paulistano Gilberto Kassab. Político pouco conhecido, de partido sem grande representatividade em São Paulo, Kassab herdou a prefeitura porque Serra, descumprindo promessa de campanha, a abandonou para disputar o governo do estado. Já para a sua reeleição, o alcaide contou com o apoio velado de Serra, que traiu naquela feita o candidato Geraldo Alckmin, num dos mais notáveis casos recentes de cristianização na política brasileira.

Fosse mais corajoso, Serra esqueceria Maluf e Pitta. Para acusar Dilma de "poste", falaria de si mesmo e de Kassab.

Pelo jeito, em sua campanha, o presidenciável do PSDB não se esconderá somente de FHC. Decerto também dará uma de desentendido no caso do implacável Gilberto Kassab. Uns dirão que é deslealdade; outros, cautela.

sábado, 3 de abril de 2010

É claro que é política!

O Governo de São Paulo acusa a greve do professorado do estado de possuir viés político. Nisso é acompanhado por colunistas da mídia e por importante parcela dos "opiniões formadas", ou seja, seus devotados leitores.

Ora, mas é claro que a greve dos professores de São Paulo é política! Em última análise, qualquer movimento paredista no seio do funcionalismo público tem, sim, cunho político. Afinal, está-se a exigir salário ou melhoria de condições de trabalho de um órgão político, de alguma instância governamental comandada por um político e assessorada por políticos.

Impossível não pensar no clássico poema "O Analfabeto político", de Berthold Brecht, de que destacamos trecho:

O pior analfabeto
É o analfabeto político,
Ele não ouve, não fala,
nem participa dos acontecimentos políticos.

Ele não sabe que o custo de vida,
o preço do feijão, do peixe, da farinha,
do aluguel, do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas.

É isso aí! Poder-se-ia acrescentar que o salário dos que ensinam nossas crianças e as condições das escolas em que elas estudam dependem, também, de atos daqueles que exercem cargos políticos, ou seja, de suas "decisões políticas".

Lembremos que mesmo em greves no setor privado, dependendo do contexto histórico, podem ser enxergadas implicações políticas. Vide as famosas greves dos metalúrgicos do ABC paulista, durante o regime militar, com vários de seus líderes enquadrados na famigerada Lei de Segurança Nacional.

Como o momento é de corrida sucessória, corre-se a afirmar que a paralisação dos professores pretende, antes de atender às demandas da categoria, interferir no processo eleitoral (o qual, diga-se, nem começou para valer). Acerca disso, aliás, o PSDB, o DEM e o PPS entraram com representação contra a APEOESP no Tribunal Superior Eleitoral por "contrapropaganda" eleitoral - seja lá o que isso queira dizer.

Aceitemos que, além da implicação política óbvia de movimento grevista de servidores públicos, possa haver também uma componente especificamente eleitoral na greve dos professores. Ora, isso não nega - sequer diminui - o fato de o estado de São Paulo pagar alguns dos piores salários para professores e apresentar dos piores índices de qualidade de ensino do Brasil. São Paulo, nos últimos anos, não vem reajustando o salário do professorado, sequer aplicando os índices de inflação oficial (prática, ademais, que vem sendo estendida a outras categorias de servidores estaduais, como é o caso dos serventuários da Justiça).

Seria fácil ao governo de São Paulo - e ao seu já ex-governador presidenciável - anular os supostos efeitos político-eleitorais da pendenga, se assim o quisesse. Bastaria aceitar a negociação e atender ao menos parte das reivindicações do conjunto do professorado, haja vista que o estado mais rico da Federação também é beneficiário dos incrementos de arrecadação observados por força do bom momento da economia nacional e teria plenas condições de conceder algum tipo de reajuste. Se o governo paulista não buscou negociar, preferindo o confronto, tudo indica que deva ser porque acredita no poder de sua campanha difamatória contra o sindicato, o que significa dizer que joga suas fichas na aliança com a mídia e seus "formadores de opinião" - além, é claro, de também apostar numa certa falta de capacidade de discernimento dos "estratos médios" paulistas.

O inteligente leitor pode até achar que seria mesmo perda de tempo sentar à mesa de negociação, pois talvez o sindicato não aceitasse migalhas, ou exigisse o "tudo ou nada" ou até estivesse só querendo fazer politicagem mesmo e, desse modo, a situação continuaria no impasse. Concedido. O governo de São Paulo, nesse caso, poderia, aí sim, dizer que teve boa vontade, fez um aceno à tentativa de negociação, mas como o outro lado só queria saber de tumultuar e "fazer política", não se chegou a um bom termo.

A estratégia de negociação acima exposta parece tão óbvia e tão mais, por assim dizer, "simpática", que torna muito assustadora - até para a democracia - a determinação de preferir o embate com os trabalhadores e de buscar a Justiça para tentar embaraçar a atuação de uma entidade representativa de classe. É perigoso... Não precisa ser uma Regina Duarte para ficar com medo!

Já imaginou se fosse na Venezuela?

quarta-feira, 31 de março de 2010

Veja no além

A mais recente edição de Veja, depois de duas semanas requentando o "caso Bancoop", cedeu ao imenso interesse despertado pelo julgamento do casal Nardoni, no que foi seguida pelos outros hebdomadários, à (honrosa) exceção de CartaCapital. Na capa, a manchete: "Condenados! Agora, Isabella pode descansar em paz".

Em primeiro lugar, seria interessante que a revista nos contasse de onde vem toda essa certeza de existência de vida após morte. Questão meramente de fé. E ingênuos como eu pensam que órgãos informativos supostamente sérios deveriam buscar ser mais racionais... Pior do que isso: pelo jeito a Veja ainda por cima tem acesso direto à alma da garotinha, a qual, afirma, não vinha tendo o devido e merecido descanso. Poder mediúnico ou mera pretensão?

O semanário da Abril, no entanto, não quer ficar apenas no mundo sobrenatural. Tampouco o quer, segundo ele, a garota brutalmente assassinada. A despeito da pouca idade que tinha quando morreu - ou que teria agora -, a pequena Isabella jamais conseguiria descansar enquanto ao caso não se aplicasse a justiça dos homens, com os ritos processuais e condenações prescritos nos códigos, levados em frente sob os auspícios do Direito Positivo. Revistinha esperta: "temos pinta de religiosos, mas com os dois pés fincados no mundo terreno mesmo!".

Já que é Semana Santa, fica a torcida para que a revista não caia na tentação de descer novamente à terra. Que continue no "outro mundo", no "além", uma vez que tem esse privilégio que muitos de nós não temos. E caso desça ao mundo terreno, que não seja para nos torrar a paciência com o já citado "caso Bancoop". Todavia, se for para falar nele - afinal ninguém é de ferro! -, que ofereça destaque ao "pito" que o juiz da causa deu no, por assim dizer, precipitado promotor que cuida do caso!

terça-feira, 30 de março de 2010

E o jacaré ainda não fechou a boca

Pesquisa Datafolha, divulgada em 27.03.2010, mostra que José Serra ampliou vantagem sobre Dilma Rousseff, subindo de 32% para 36%, enquanto a pré-candidata do PT oscilou negativamente, de 28% para 27%.

O resultado foi, de maneira geral, tomado como surpreendente, tendo em vista que o conjunto das pesquisas vinha indicando queda livre do tucano e ascensão aparentemente ilimitada da petista. Imaginava-se que o "jacaré iria fechar a boca", em alusão ao encontro no gráfico dos índices de cada candidato, simulando a mordida do simpático réptil.

De nosso lado, acreditamos que, se chamar de previsível o resultado seria clamoroso exagero, não é absurdo dizer que ele está longe de ser surpreendente. Diferentemente do que foi reverberado, houve, sim, "fatos novos" a justificar a leve subida do governador de São Paulo.

Antes, um adendo: estes números do Datafolha, referentes a Serra, diferente da consulta anterior, estão mais próximos do resultado que o paulista vem obtendo, com grande resiliência, nas pesquisas de outros institutos, ou seja, a casa dos 35%, o que, lendo sob esse prisma, os tornam ainda menos estranhos.

Mas vamos aos fatos novos: Serra, ainda que de forma hesitante, admitiu ser candidato, em programa popular de TV. Malandramente, fê-lo elogiando o presidente Lula, numa tática tão primária, que foi rapidamente percebida e prontamente exposta pelo apresentador José Luiz Datena, qual seja, a de não criticar o governo atual e tentar fazer a comparação de biografias com a principal adversária, fugindo assim, da estratégia do modelo plebiscitário, buscada pelo PT.

Outro fato: nos últimos dias o PSDB vem usando a sua cota de inserções durante a programação de TV, com o governador paulista em pessoa falando não somente de suas supostas realizações como governador de São Paulo, mas também das conquistas que teria obtido em outros cargos públicos que ocupou. E sem o contraditório, fica fácil falar que criou os genéricos, que implementou programa de combate a AIDS, falar que a educação e a saúde de São Paulo são uma maravilha...

De outra parte, no caso de Dilma Rousseff, "fatos novos" podem até não ter comprometido muito seu desempenho, mas decerto também não ajudaram. Nos últimos dias veio a campo o requentado "caso Bancoop", com insistentes capas de revista e ampla repercussão no rádio e TV. Pouco importa se o juiz da causa fez pouco caso da representação do promotor José Carlos Blat; o despacho do Magistrado teve, evidentemente, bem menos destaque na mídia, se é que teve algum. Ainda que o denuncismo barato não pareça ser capaz de fazer grandes estragos na campanha da candidata do governo, pode, sim, ter o condão de contribuir, neste momento, para a estagnação. A conferir.

Deve vir mais emoção nos próximos dias. E, acreditamos, serão, de início, favoráveis a Serra. Ele se apresentará oficialmente como candidato no segundo final de semana de abril. A chamada grande imprensa, especialmente as revistas semanais, ofertar-lhe-á docilmente suas capas e, claro, as suas mais nobres páginas; rádio e TV, se bobear, farão um subserviente "esta é a sua vida" do governador. Nessa brincadeira, deve ganhar alguns magros pontos, ou, na pior das hipóteses, ficará onde está, mas num clima em que será difícil que a principal adversária suba ao menos um pouquinho, ou seja, no mínimo manterá a distância alcançada.

A campanha, com isso, entrará em nova fase e exigirá mais profissionalismo das equipes dos candidatos. O tempo de TV é que deve fazer a diferença, como o prova, aliás, a própria subida do tucano, ocorrida após a participação no Datena e após as aparições nas inserções do PSDB.

Quanto às pesquisas em geral, vamos sempre lembrar, neste espaço, que em 2008, na corrida pela prefeitura de São Paulo, faltando cerca de três meses para as eleições, Marta Suplicy se aproximava dos 40%, Geraldo Alckmin tinha pouco mais de 20%, e Gilberto Kassab estava tecnicamente empatado com Paulo Maluf com não mais do que 10%. No final, deu no que deu!

domingo, 28 de março de 2010

Novo repeteco: Hora do Planeta

Aproveitando o clima da "Hora do Planeta", realizada no sábado, 27.03.2010, das 20h30 às 21h30, reproduziremos abaixo texto escrito acerca da edição de 2009 do evento. O post foi escrito quando a conversa acerca da terrível crise internacional estava presente diariamente nas manchetes, inclusive neste Brasil que só conheceu a marolinha. A despeito disso, arrogamo-nos em dizer que ele permanece atual.

Grato pela leitura!

terça-feira, 31 de março de 2009
Todas as horas do planeta

No último sábado (28-03)[27.03, em 2010], ocorreu a Hora do Planeta, iniciativa idealizada pela Worldwide Fund for Nature (WWF), pretendendo que as pessoas desligassem as luzes e demais aparelhos elétricos entre 20h30 e 21h30 em todo o mundo. Tudo em nome do combate ao aquecimento global.

A medida sem dúvida foi bacana e trouxe no seu bojo um elemento simbólico nada desprezível, pois incorporou a idéia de que cada um pode dar alguma contribuição, ainda que pequena - sob a rubrica dos "pequenos gestos" - para um planeta melhor. Mas vamos devagar com a empolgação que se ensaiou lá e cá em virtude de razoável adesão à brincadeira.

Em realidade, mudança mesmo só viria se estivesse ligada a algum tipo de transformação das formas de produção reinantes. O estado em que se encontra o planeta é resultado das vicissitudes históricas que o modelo econômico tido como vitorioso impõe. É uma obviedade, mas o leitor decerto a desculpará por saber que se trata de uma triste verdade que precisa ser dita.

E a gravidade da situação é mostrada com crueza no estado de crise que ora vivenciamos. Seria de se esperar, para um mundo mais ecologicamente equilibrado, que se consumisse com mais responsabilidade, o que passaria pelo fim do desperdício e do gasto com supérfluos, além do controle da compulsividade e o fim do imediatismo. Isso, no atual momento de dificuldade econômica, já vem de alguma forma ocorrendo; mas em vez de se comemorar a possibilidade de melhora das condições do meio ambiente, o que se vê é o medo da depressão, da fome, do desemprego, da volta de contingentes à pobreza que parecia ter ficado para trás. Numa análise fria, defender a correção política nas atuais circunstâncias seria um tiro de misericórdia no combalido sistema capitalista. E quebras abruptas de paradigmas podem ser dolorosas no curto prazo. Difícil imaginar quem estaria realmente disposto a enfrentar isso de peito aberto.

O caso dos automóveis no Brasil é bastante emblemático disso que vimos dizendo. Não há negar que os carros são dos principais vilões para o meio ambiente, sobretudo quando se fala no famigerado aquecimento global. A crise tinha tudo para derrubar o seu consumo e, conseqüentemente, sua circulação no País. Mas o Governo Federal tem lançado pacotes e incentivos reiteradamente para não permitir que isso ocorra, de olho, é claro, na manutenção dos empregos no setor e com a justificada preocupação com toda a cadeia que se mantém e se desenvolve a reboque do ramo automotivo.

A grande verdade é que medidas pequenas, simbólicas e pontuais como a do último sábado podem ser importantes, especialmente do ponto de vista da conscientização. Querer mudar as coisas para valer, todavia, não parece ser da vontade da maioria, pelo menos por enquanto. Como bem disse algum tempo atrás a deputada Petra Kelly, do Partido Verde alemão, “todos falam numa volta à natureza, mas ninguém está disposto a ir a pé”.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Violência e espetáculo (reprodução de post de 2008)

Reproduzimos abaixo postagem publicada no calor de famoso caso policial, presente de novo nas manchetes. Dado o comportamento da mídia e da opinião pública, parece que, infelizmente, continua bastante atual.

sábado, 12 de abril de 2008
“Aí tendes, maus gênios, fartai-vos deste belo espetáculo!”

O título deste post é uma citação feita por Sócrates, no clássico A República, de Platão. O filósofo conta que Leôncios, ao voltar um dia do Pireu, viu cadáveres estendidos perto do carrasco. Ao mesmo tempo em que sentiu um grande desejo de observá-los, foi acometido de repugnância e afastou-se. Lutou consigo, escondendo o rosto com as mãos. Mas dominado pelo desejo, arregalou os olhos e, correndo na direção dos cadáveres, gritou a célebre frase que dá nome a este texto.

Sócrates a resgata porque está falando de dois elementos presentes na alma: um irracional, que compele a pessoa a satisfazer seus desejos, e o racional, pelo qual ela raciocina e apresenta algumas características de autocontrole.

Hodiernamente, tudo isso parece ter a ver com a maneira como as pessoas e os meios de comunicação, de forma imbricada, reagem a - e participam de - assuntos espinhosos como a violência.

Parece não haver espaço para o racional, para a análise fria e para a ponderação se a discussão for, por exemplo, sobre a morte trágica de uma bela criança de cinco anos de idade.

É difícil saber o que vem primeiro: se a curiosidade mórbida associada à necessidade de se saciar com algum tipo de “justiçaria”, por parte da sociedade, ou se o desejo mesquinho de “dar um furo” ou de “conseguir” um choro ou um desespero de parentes, por parte da mídia.

O espetáculo, de todo modo, é sempre “belo”, com direito a autoridades policiais que não hesitam em cometer abusos e proferir frases infelizes em troca de um pouco mais de quinze minutos de fama. É de estonteante beleza também a atuação dos “vidiotas” que vão a portas de delegacia para xingar suspeitos e para dar murros nas viaturas que os transportam. Como contraponto, há de ser mencionada quão sábia é a Providência quando permite que os suspeitos sejam brancos de classe média, pois, assim, a “agenda” de nossas vidas é poupada de estéreis discussões sobre pena de morte e acerca do recrudescimento de leis.

Mas as “belezas” mais ordinárias costumam também ser um tanto efêmeras. Por isso, não tarda muito, o bonito espetáculo dará lugar a outro, às vezes até mais completo, ou será simplesmente substituído por algo mais leve, mais familiar, em suma, mais comercial. E a despeito das promessas, das certezas, dos protestos, o velho espetáculo, que todos garantiam que não seria jamais olvidado, cairá no mais absoluto esquecimento. Irá para algum desvão da alma, que talvez nem Platão saberia nomear.

domingo, 21 de março de 2010

Alex Chilton (1950-2010)

Na quarta-feira, 17 de março de 2010, Morreu em Nova Orleans o cantor, compositor, guitarrista e tecladista Alex Chilton. Ele tinha 59 anos e a causa da morte não foi confirmada - especula-se ataque cardíaco.

No final da adolescência, integrou o grupo Box Tops, de relativo sucesso internacional, lembrado pelo hit "The Letter", de 1967. A banda até hoje é admirada, sendo considerada um dos maiores expoentes do blue-eyed soul e do mod, gêneros que destacam garotos brancos arriscando-se a atuar como artistas do soul e do rhythm'n'blues. Como praxe da época, o grupo se metia a fazer releituras de temas de Bobby Womack, Burt Bacharach, B.B. King etc.

Com o fim dos Box Tops, Chilton, em 1971, passa a integrar o Big Star. Na década de 1970, a banda lançaria três ábuns, não raro incluídos entre os melhores discos de rock de todos os tempos. Nos dois primeiros, #1 Record e Radio City, respectivamente de 1972 e 1974, é latente a influência do rock sessentista, notadamente Beatles, Kinks, Byrds e Who, todavia com cara própria, sem, em nenhum momento, soar como mera cópia dessas fundamentais bandas. Em 3rd, também conhecido como Sister Lovers, lançado em 1978, ainda que estivessem presentes as mesmas influências, há, em sua concepção, um toque mais sombrio, depressivo e melancólico (características que, de resto, já estavam timidamente presentes no primeiro álbum). Não é de se estranhar a tristeza de 3rd/Sister Lovers, pois a forma como o disco veio ao mundo e a maneira como foi lançado são reflexos da sujeira do show business e, especialmente, da indústria fonográfica, o que se refletiu, por óbvio, na maneira de compor e de gravar do grupo. Na opinião do crítico Rick Clark, nas notas da reedição de 3rd, em 1992, a forma como os dramas pessoais e profissionais influenciaram a produção do disco, faz dele irmão de Tonight's the Night, de Neil Young, gravado em 1975 também sob situação de contratempos artísticos e de dificuldades na vida pessoal. Não por acaso, os dois álbuns entraram na famosa lista da New Musical Express dedicada aos trinta discos mais tristes da história - o do Big Star está em primeiro lugar e o de Neil Young, em 14º.

Quem hoje escuta os extraordinários três discos de Big Star supracitados têm dificuldade de entender como uma banda dessas pode ter sido relegada ao ostracismo e não ter conseguido o apoio e empenho das suas distribuidoras. Todavia, como não poderia deixar de ser, graças à inexorabilidade do tempo, o Big Star acabaria sendo motivo de culto mundo afora, principalmente por parte de bandas das décadas de 1980 e 1990.

É longa a lista de grupos que fizeram uma nova geração querer conhecer a saga de Alex Chilton e de seu Big Star: Replacements, R.E.M., Mercury Rev, Teenage Fanclub etc. Em 1993, o esquecido Big Star viria a comer um prato frio, voltando a se reunir, sob a liderança de Chilton, é claro, lançando discos ao vivo e de estúdio. Desnecessário dizer que sem o mesmo punch e sem a mesma mística.

Uma boa homenagem a Alex Chilton tem que vir com música de sua lavra. Ouviremos Big Star em dois momentos: primeiramente, do álbum Radio City (1974), a faixa "O My Soul"; em seguida, de 3rd (1978), o clássico "Kangaroo". A música vem acompanhada de imagens: as duas capas de Radio City e a capa da reedição em CD de 3rd/Sister Lovers, lançada em 1992; destaque também para foto do grupo Big Star, em 1971, sendo Chilton o único que está de pé, e foto do nosso homenageado sozinho, em estúdio no ano de 1973. As imagens são cortesia do engenheiro de som John Fry, figura importante na elaboração dos magníficos discos lançados pelo Big Star na década de 1970. Divirta-se!