sábado, 22 de agosto de 2009

"Crise no PT": afinal, o que a imprensa quer?

É de causar surpresa a preocupação da mídia com o suposto racha anunciado no PT e, de resto, com toda a crise que estaria instalada no partido.

Inicialmente, é estranho porque, pelo menos nos últimos anos, o império midiático tem parecido querer mais é ver mesmo o Partido dos Trabalhadores escorraçado do quadro político brasileiro, ou seja, a débâcle petista poderia ser vista como nada mais do que a realização do inconfessável (mas não inconfessado!) sonho da meia dúzia que domina a grande mídia corporativa no Brasil.

Mas a situação não é a princípio tão simples. Lembre-se de que se fazia abertamente, aqui e ali, o vaticínio da morte do partido no auge da crise do mensalão, em 2005 (o demista Jorge Bornhausen chegou a falar de “acabar com a raça”, referindo-se ao PT). Nas eleições do ano seguinte, porém, viu-se o partido renascer fortalecido da crise que o abatera.

A imprensa tem tentado mostrar, por conta da crise no Senado, um Partido dos Trabalhadores hesitante, preso a bandeiras históricas, mas que se viu obrigado a tomar decisões polêmicas, como o arquivamento das denúncias contra José Sarney no Conselho de Ética, não por convicção, mas por ordem direta do seu principal quadro, nada menos do que o presidente da República. A mídia parece estar querendo mandar um recado: o problema não é tanto o PT, mas o velho Lula in person.

Pelo jeito, derrubar a popularidade do presidente é questão de honra para o assim chamado PiG (copyright PHA!). Para tanto, vale até insinuar que o Partido dos Trabalhadores é vítima do arbítrio presidencial. No que se refere à queda de popularidade de Lula, é preciso, no entanto, combinar com o adversário!

A velha mídia precisava ter em mente o fato de que, em verdade, sempre foi comum explorar o discurso contrário no Brasil: falava-se mal do PT em geral enquanto se preservava a figura de Lula. Quem não se lembra de frases como “o Lula é bacana, pessoa decente, o que estraga é o partido", "ele pode até ser bem-intencionado, mas o partido não iria deixar ele fazer nada"?

É lógico que estava expresso em tais tipos de assertiva, ainda que inconscientemente, um arraigado preconceito intelectual e de classes contra o ex-metalúrgico: ao dissociá-lo do “horror” representado pelo partido, o que no fundo se queria dizer era que ele não tinha voz, era um simples marionete de pessoas mais “inteligentes” e bem articuladas que, de fato, controlavam a estrutura partidária. Era, muito provavelmente, a versão light, simpática, da idéia de que Luiz Inácio Lula da Silva seria já (ou principalmente) naqueles tempos um néscio.

Agora, de uma hora para outra, tentam, ao contrário, nos convencer de que, em verdade, o PT - coitadinho! - ainda tem gente boa, mas o malvado Lula não deixa o partido tomar as decisões corretas de que tanto gostaria. A marionete, de repente, transforma-se num deus ex-machina, pegando toda uma bancada de calças curtas, deixando-a perdida, sem saber o que fazer, ou o que é pior, levando-a a tomar decisões que se opõem aos justos anseios da sociedade brasileira. Assim como naquelas ficções científicas em que máquinas passam a destruir seus criadores, O outrora teleguiado presidente da República deixa de lado aquela figura passiva, cordial, manipulável, para ser o controlador, dominador, dono do partido. “Se o PT não presta, a culpa é do Lula”, eis o que querem que pensemos agora.

É a velha história, tão cara à Folha, de se contar mentiras dizendo só a verdade. Com efeito, a liderança e a ascendência que Lula pode ter – ou efetivamente tem – sobre o partido não devem ser motivo de surpresa. Ao contrário, em verdade é natural que as tenha. Isso obriga a concluir que de fato o PT pode ser "levado na conversa" pelo presidente mais prestigiado da história do país. Mas, com certeza, não é disso que se trata. O ponto-chave, em realidade, está no fato de que, durante anos, pretendeu-se boicotar o "eterno" candidato Lula, afirmando que o problema não seria ele, figura fraca, inábil e sem capacidade de liderança, mas os seus malucos correligionários, estes, sim, a grande ameaça que pairaria num eventual governo do ex-operário. Mas, afinal, o PT é um antro de bichos-papões, ou é um grupo de crianças implorando por tutela? Lula é um bocó, ou é um príncipe maquiavélico? Citando Otto Glória, "ou é bestial ou é uma besta"!

Perguntinhas: até quando persistirão as incoerências da imprensa? Até quando eles vão continuar achando que somos idiotas?

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