domingo, 17 de janeiro de 2010

Os Catedráticos da MPM

Texto originalmente publicado no inativo blog Veritas, em 24.11.2007

Os Catedráticos são um importante capítulo na história da música brasileira, sobretudo daquela fomentada nos anos 1960 no famoso Beco das Garrafas, no Rio de Janeiro, de gênero indistintamente chamado de bossa nova instrumental, bossa jazz, samba-jazz ou MPM (música popular moderna).

Os Catedráticos podem ser chamados de um supergrupo brasileiro, formado por bambas do gênero. Olha só o “time” apresentado nas informações técnicas da reedição em CD do ótimo Ataque, de 1965: Eumir Deodato (órgão e piano, além dos arranjos e regência), Maurílio (trompete), Walter Rosa (sax tenor), Aurino Ferreira (sax barítono), Edson Maciel (trombone), Rubens Bassini (tumbadora e pandeiro), Humberto Garin (guiro), Jorginho (tumbadora), Sérgio Barrozo (baixo), Wilson das Neves (bateria), Geraldo Vespar (violão).

Em discos fantásticos, como o já citado Ataque, Tremendão e Impulso, todos lançados entre 1964 e 1966, o grupo esbanja técnica na interpretação de composições não apenas de Deodato, mas de mestres da música brasileira, numa verdadeira mistura do “velho” e do “novo”. Dentre os nomes homenageados nos álbuns, temos: Marcos e Paulo Sérgio Valle, Durval Ferreira, Cartola e Elton Medeiros, Baden e Vinícius, Ataulpho Alves e Mário Lago etc.

Além de execuções num formato mais clássico da bossa nova e de outras dentro dos limites da tradição da velha guarda do samba, ouvem-se batidas afros, alguns toques tímidos de rock and roll e algumas longínquas levadas pop que provavelmente receberiam a aprovação de um Burt Bacharach.

Infelizmente, Os Catedráticos são um grupo esquecido no Brasil. Não pela sua música, reconhecida e publicada mundo afora, mas por seu deslocamento a um segundo plano, como um mero grupo de acompanhamento de Deodato. De fato, um álbum tardio, de 1973, está creditado a Eumir e Os Catedráticos; e mesmo os discos dos anos 1960, pelo menos nas suas reedições, não deixam de marginalmente ostentar nas respectivas capas o nome de Eumir Deodato, como responsável pelos arranjos e pela regência.

De todo modo, vale a autoridade de Tárik de Souza, que, em texto constante do encarte da reedição em CD de Inútil Paisagem, de 1964 (disco em que Eumir Deodato faz sua leitura das composições de Tom Jobim), deixa bem claro que o grupo Os Catedráticos é algo à parte do trabalho solo do artista. O mesmo jornalista, no minúsculo texto de apresentação dos discos da série "Odeon 100 anos", refere-se ao som que “faria furor como Os Catedráticos” ao descrever a música que se ouve no disco Idéias, também de 64, atribuído apenas a Eumir.

Há, em contrapartida, outras fontes de informação que – erroneamente a nosso ver - fazem dos Catedráticos meros coadjuvantes de trabalhos que seriam de Eumir Deodato. No sítio Discos do Brasil, de Maria Luiza Kfouri, por exemplo, as informações sobre os excelentes álbuns do grupo estão na página dedicada ao músico e arranjador carioca. Mas de qualquer forma vale a visita ao site, pois lá é possível ouvir trechos das canções, além de ter boa parte do “serviço” das gravações, com todas as participações e respectivos instrumentos tocados. Na página oficial de Eumir, alguns dos discos dos Catedráticos também aparecem listados, mas sem nenhuma referência que os apresente como um grupo paralelo.

Mas ouça a música: é "de cátedra" mesmo! Primeiramente, a faixa "Ataque", seguida de "De Presente", ambas do próprio Eumir Deodato.

2 comentários:

Érico Cordeiro disse...

Grande lembrança, Iendis.
E que escrete aquele. Wilson das Neves, Sérgio Barrozo, Edson Maciel, Rubens Bassini - só fera!
O Deodato, nos anos 70, ficaria milionário como produtor e lançaria uma versão de Assim Falou Zaratustra, de Richard Wagner.
Mas os discos d'Os Catedráticos ainda estão entre as melhores coisas que ele fez!
Abração!

iendiS disse...

Érico, obrigado, mais uma vez, pelo comentário. De fato, um timaço, e o sucesso posterior de Deodato foi por demais merecido.

Grande abraço!