terça-feira, 2 de novembro de 2010

Depois do operário, a mulher

Muito se tem falado do sucesso da sexta eleição direta consecutiva para presidente da República Federativa do Brasil no pós-redemocratização. Com efeito, é prova viva da consolidação das instituições democráticas do País. O único senão do período talvez tenha sido o implemento do instituto da reeleição em 1997, com validade já para o então mandatário Fernando Henrique Cardoso, caso clássico de mudança de regra no meio do jogo. Tal mácula foi corrigida pela firme decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de rejeitar mudança constitucional a lhe permitir disputar um terceiro mandato, a despeito de a sua extraordinária popularidade indicar que ele poderia tê-lo tentado.

Lula era o operário de pouca instrução, sem experiência administrativa. Como assim, querer ser presidente da República, perguntavam em todas as eleições de que participara até 2002. Seu governo, porém, sai de cena agora em 2010 muito bem avaliado, com o Brasil gozando de respeito e reconhecimento internacional inéditos e com a figura pessoal do presidente vista como a de inquestionável líder mundial. Os que erraram feio na avaliação corrente até em 2002 não dão o braço a torcer e insistem em dar razão a Albert Einstein e sua famigerada frase que lamentava o fato de ser mais fácil quebrar um átomo que um preconceito.

Dilma Rousseff, a presidente eleita do Brasil, foi, por sua vez, vítima cruel da perseguição da mídia e da oposição, algumas vezes calcada em preconceitos que tentaram atingir justamente a sua condição de mulher: a divorciada, sem companhia de um homem, agressiva. E a agressividade, acredita-se, só cai bem nos homens. Aliás, a agressividade é, não raro, apontada como uma qualidade necessária dos políticos. E por ser característica mais "naturalmente" presente nos homens, logo as mulheres não são, "naturalmente", preparadas para a política; e se são agressivas, não são "genuínas" mulheres, por assim dizer.

A grande verdade é que muito pouca importância deveria ter o fato de o presidente da República ser operário ou professor universitário, tampouco deveria ser importante o fato de ser homem ou mulher. A relevância de tal discussão só se dá justamente por obra dos preconceituosos e machistas, cuja obstinada atuação acabou por colocar as questões da origem, da formação e do gênero no centro da pauta política do Brasil. Neste caldo de cultura, por fim, a eleição de uma mulher para o cargo máximo da República - logo após o operário - dá mais um passo rumo ao fechamento do ciclo da tão festejada solidez democrática do País.

Viva a mulher brasileira! Bem vinda, presidente Dilma!

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