Tem causado espécie ver colunistas dos grandes jornais, assim como (e)leitores de direita, rasgando elogios à presidenta Dilma Rousseff. Pelo jeito mudaram de opinião - e muito rapidamente - acerca da "comunista terrorista sanguinária atéia" de bem poucos meses atrás!
Para usar expressão bem ao gosto dos conservadores, não existe almoço grátis; ou seja, aí tem. Vale, no caso, recorrer ao teste de hipóteses, ainda mais que, em seu uso, não vamos acusar ninguém de assassinato.
Mais do que louvar Dilma, o objetivo parece ser primeiramente o de espezinhar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: nenhum dos encômios à presidenta, que me lembre, veio desacompanhado de alguma comparação que tentasse desabonar Lula e seu governo. Em segundo lugar, a tentativa pode ser a de criar um foco de oposição nas bases que sustentam a presidenta ou que pelo menos sustentaram sua candidatura e, de quebra, obrigá-la a pôr em prática - ou continuar praticando - o programa oposicionista.
Lula? Que Lula?
Desmitificar Lula não é tarefa das mais fáceis. Mas há que se tentar.
O cálculo político é bastante simples: desarticulada como está a oposição, teme-se que um eventual malogro do governo Dilma possa, paradoxalmente, ser mais facilmente capitalizado por Lula, justamente o seu padrinho político, do que por algum nome do consórcio PSDB/DEM/PPS.
A ideia, portanto, é, em primeiro lugar, senão destruir, ao menos diminuir a importância do legado da era Lula. Feito esse trabalho, com a ajuda da corrupção de Dilma pelos elogios, a presidenta seria abandonada na estrada, já ao final do seu governo, para aí, sim, quem sabe aparecer um destemido Geraldo Alckmin para nos redimir, com toda a imprensa cobrando de um patriota Aécio Neves que aceite a honra de ser seu vice.
Seguir a agenda dos derrotados
Noutra leitura, vislumbra-se a tentativa de que a presidenta da República não somente prossiga, mas até aprofunde a clássica estratégia inicial de não confrontar os princípios da oposição - ou como preferem os mais críticos, que ela continue adotando a agenda dos derrotados.
Pretende-se, com isso, que a presidenta perca a simpatia - e o apoio, por óbvio - de movimentos sociais e de outras organizações da sociedade civil que com ela estiveram em sua bem-sucedida campanha. E, é lógico, nem de longe tem Dilma o carisma e o magnetismo de Lula. Daí para o isolamento seria um passo. O problema desse segundo intento é que, se Lula não for destruído, será ele o herdeiro da insatisfação com a presidenta, fechando de vez as portas para a oposição. Daí porque não se vislumbrar nessa hipótese nada além do mais absoluto pragmatismo político mesmo.
Resumo
As hipóteses para a conversão dos conservadores, em resumo, parecem ser essas, pela ordem: Lula, se chegar "inteiro" em 2014, leva a presidência mesmo que sua seguidora sucumba. Por isso é importante tentar destituí-lo da condição de mito desde já. A outra ideia, absolutamente pragmática, é afastar, por definitivo, a presidenta Dilma de qualquer agenda mais radical, levando-a a ficar sem alternativas senão a de transitar com os grupos mais à direita, mesmo que, desse modo, abra caminho para Lula em 2014.
Desnecessário dizer que o melhor dos mundos, para a oposição (incluindo a mídia, é claro) e para a direita como um todo, seria uma Dilma que siga o programa conservador num cenário em que Lula perdesse capital político. Neste caso, nada mais resta além de chamar Mané Garrincha, para mandar esse pessoal ir combinar com o povo - e com a História!
Não é sobre liberdade (e eles sabem disso)
Há 5 semanas
Nenhum comentário:
Postar um comentário