sábado, 16 de junho de 2012

Profissionais na CPMI

No dia 12.06.2012, prestou depoimento à CPMI do Cachoeira no Congresso Nacional o governador de Goiás, Marconi Perillo, do PSDB. De forma um tanto masoquista, assisti a um trecho. Minha impressão, já naquele momento, foi a de que o goiano não se saíra mal.

Na noite daquele dia, no programa Entre Aspas, da GloboNews, o cientista político José Álvaro Moisés e a historiadora Maria Aparecida de Aquino decretavam: a "performance" de Perillo tinha, de fato, sido relativamente boa.

Minha mulher, sempre irritada com as tucanices do canal do sistema Globo, tripudiou sobre o termo escolhido pelos convidados: "performance". Ora, como assim, performance?, perguntava ela. Por acaso se tratava de um show?

Pois bem. Obtemperei que, infelizmente, tudo talvez não passasse mesmo de um show. Arrisquei, bem no escuro, que o governador deveria ter treinado muito sua participação, ter se reunido por horas com marqueteiros, assessores, especialistas em imagens etc, daí ter conseguido "atuar" bem naquele "palco" montado no Congresso.

No dia seguinte, 13.06.2012, foi a vez de Agnelo Queiroz, do PT, governador do Distrito Federal, enfrentar  os deputados e senadores da mesma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito. Mais uma vez, excelente desempenho (quase disse performance).

Naquela mesma data, em telejornal noturno, dessa feita na RecordNews, o jornalista Luiz Monteiro relata a participação considerada bem-sucedida do governador do DF, surpreendente em razão de Agnelo ser apontado como homem "tímido", com dificuldades de expressão etc. Mas eis que havia explicação: nos dias anteriores, segundo o repórter da Record, o governador havia passado horas reunido com assessores da área jurídica e de comunicações, passando e repassando os temas que poderiam ser motivo de questionamento naquela sessão do Congresso. Confirmava-se, pois, minha suspeita quanto à justificativa para as boas "performances" dos governadores.

Não dá para imaginar "políticos profissionais" sem pensar em "profissionais da política". Estas pessoas debruçam-se sobre os temas, pressentem armadilhas, estudam estratégias; ensinam a aparecer em vídeo, a olhar para a câmera e o uso das palavras certas na hora certa; mostram as situações em que tem que parecer firme, ou fingir indignação, quiçá demonstrar humildade.

De se concluir disso que "pesos-pesados" na política tendem a oferecer muito pouco numa Comissão de Inquérito ou em qualquer outra Comissão importante do Congresso. Horas de ensaio e o envolvimento de, talvez, dezenas de profissionais levam a "atuações" que tendem a propiciar, no mínimo, a simpatia do grosso dos espectadores. A excelência dessas preparações tende, inclusive, a tornar cada vez mais sem graça os já não muito empolgantes debates eleitorais.

Neste quadro, não é descabida a seguinte pergunta: a convocação ou convite de nomes de peso do cenário político para depoimentos em CPIs ainda tem alguma serventia?

A resposta é sim. Serve ao menos para mostrar a correlação de forças. Se figura importante da oposição tem sua convocação aprovada, com o fim de que compareça para prestar esclarecimentos, decerto que se deduz haver ali um tento do governo, dos situacionistas e da base aliada. Depreende-se o contrário quando um bambambã ligado, de algum modo, ao grupo situacionista é chamado a dar explicações. Parece que não muito mais do que isso. Infelizmente.


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