sábado, 5 de dezembro de 2009

Protesto do MSM e o texto de Benjamin



O Movimento dos Sem-Mídia (MSM) realizou neste sábado, 05-12-2009, manifestação em frente ao jornal Folha de São Paulo, em repúdio a artigo (para mim, uma espécie de crônica) escrito por César Benjamin, publicado em 27-11-2009, no qual relatava que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria confessado, em almoço no qual estavam presentes outras pessoas, que tentara "subjugar" um jovem quando esteve na prisão. Desnecessário dizer que o jornal publicou sem checar a informação e sem ouvir o outro lado, talvez apegado ao fato de que tão pequenos detalhes são prescindíveis em texto "opinativo", como parece pensar o ombudsman Carlos Eduardo Lins da Silva.

No ato deste sábado, Eduardo Guimarães leu o manifesto que pode ser encontrado no blog dele, abrindo, em seguida, o microfone para quem quisesse acrescentar algo. Sobrou para a "ditabranda", para a parcialidade do jornal, para a relação promíscua com Serra e o PSDB e para outros órgãos do chamado PiG (Partido da Imprensa Golpista). Dentre as mais de 100 pessoas, havia gente do Rio de Janeiro, Paraíba e Santa Catarina.

O "artigo" de Benjamin
Quem reparar bem na fatídica edição de 27.11.2009, perceberá que o texto "Os filhos do Brasil", do economista César Benjamin, não está lá por acaso. Em verdade, ele faz parte de um turbilhão de tentativas de desqualificar o filme "Lula, o filho do Brasil", de Fábio Barreto. Na mesma data, em matéria sobre a película, o jornalista Rubens Valente aponta omissões de episódios "polêmicos" da vida de Lula sindicalista, deixando transparecer a ideia de que o filme escondia fatos que pudessem "empanar o brilho do personagem heroico construído pelo roteiro". O texto de Benjamin, nesse caso, seria a cobertura no bolo, pois trazia a demonstração cabal de que aquele "filho do Brasil" não seria exatamente do tipo que uma mãe - ou um país - gostaria de ter.

Ora, mas por que tudo isso?

No fundo, trata-se de situacão que faz parte da tradição oligárquica, elitista e preconceituosa da mídia paulista. Em verdade, sem o admitir, a Folha, aliada de setores conservadores não apenas de sua cidade mas de todo o Brasil, acredita que a maior parte da população, sobretudo os mais pobres e menos escolarizados, é composta de pessoas incapazes de avaliar uma obra cinematográfica e sem quaisquer condições de discernir uma peça fictícia de um documentário. Disso resulta o medo de que os espectadores votem, em 2010, de olho no mito que aparece nas telas, sufragando a candidata que ele indicar, motivo pelo qual parece entender necessário - custe o que custar - sair a campo, por antecipação, com um processo de desmitificação (e desmistificação) da figura do operário e sindicalista que um dia se tornaria o presidente mais popular da história do País, minimizando ou anulando os "estragos" que o filme de Barreto poderia causar nas "mentes ignorantes" dos que não leem jornais.

O longo "artigo" de César Benjamin decerto que serve a tal propósito. A começar pelo próprio título, "Os filhos do Brasil", o ex-militante petista quer deixar claro que tal epíteto soaria melhor se aplicado a muitos presos comuns que há por aí, pois, afinal de contas, o presidente brasileiro seria, em realidade uma besta fera que ataca jovens, enquanto ele, Benjamin, jovem preso pela ditadura, era respeitado pelos "barras pesadas" com quem dividira as celas nos anos 1970. O recado é curto e direto: Lula é moralmente inferior a ladrões e homicidas que superlotam os nossos presídios.

A julgar pelas missivas que, nas edições imediatamente posteriores, comentavam o texto do economista, muitos brasileiros leitores do diário paulistano sentiram-se de alma lavada com a história lá contada, o que, a princípio, é surpreendente por pelo menos dois motivos. Em primeiro lugar, porque a mesma seção de cartas da Folha já foi espaço para leitores expressarem o mais violento ódio e ressentimento aos apenados pobres brasileiros, sobretudo quando se envolvem em protestos e rebeliões, tornando curioso o fato de que eles (os leitores) tenham sido tocados pela simpatia com que alguns "criminosos comuns" são descritos - homenageados - por Benjamin. Em segundo, porque a certa altura Benjamin diz não saber quem é o "menino do MEP", o "subjugado" pelo presidente, mas imaginava que ele estivesse vivo, pois provavelmente branco de classe média, não teria corrido os mesmos riscos de morte precoce dos negros e pobres brasileiros; está aí mais um tipo de opinião que deveria provocar a antipatia da média de leitores da Folha, para os quais a existência racismo ou da luta de classes no Brasil só existe na cabeça dos lunáticos da esquerda. Imagino que se o assunto tratado pelo economista fosse qualquer outro que não implicasse agressão ao presidente ou ao PT, talvez a mesma seção de cartas veria leitores insurgindo-se contra a perigosa pregação comunista do colaborador, espumando ódio contra a sua defesa de bandidos e em oposição à sua herética insinuação de que não há democracia racial no País.

Uma outra curiosidade - a bem da verdade uma pilhéria - é que para os editores da Folha o relato de Benjamin, descrevendo porões da ditadura, deve ter sido visto como uma obra surreal, afinal, para eles, por aqui houve somente uma "ditabranda"!

Por fim, há de se ver na estratégia adotada pela Folha - de tentativa de desqualificação do filme "Lula, o filho do Brasil", a serviço da qual usou até o texto infame de Benjamin -, não somente desrespeito à instituição Presidência da República ou à figura humana do presidente, mas uma agressão à inteligência do eleitor, enxergado como alguém incapaz de ir ao cinema fruir de uma obra de arte, sem que ela necessariamente interfira na sua maneira de votar.

2 comentários:

Joel Neto disse...

Muito bom o blog. Gotei tanto que inclui nas minhas "Reciprocidade". Parabéns!

iendiS disse...

Obrigado, Briguilino.
Parabéns também ao seu belíssimo trabalho.
Grande abraço!