terça-feira, 30 de março de 2010

E o jacaré ainda não fechou a boca

Pesquisa Datafolha, divulgada em 27.03.2010, mostra que José Serra ampliou vantagem sobre Dilma Rousseff, subindo de 32% para 36%, enquanto a pré-candidata do PT oscilou negativamente, de 28% para 27%.

O resultado foi, de maneira geral, tomado como surpreendente, tendo em vista que o conjunto das pesquisas vinha indicando queda livre do tucano e ascensão aparentemente ilimitada da petista. Imaginava-se que o "jacaré iria fechar a boca", em alusão ao encontro no gráfico dos índices de cada candidato, simulando a mordida do simpático réptil.

De nosso lado, acreditamos que, se chamar de previsível o resultado seria clamoroso exagero, não é absurdo dizer que ele está longe de ser surpreendente. Diferentemente do que foi reverberado, houve, sim, "fatos novos" a justificar a leve subida do governador de São Paulo.

Antes, um adendo: estes números do Datafolha, referentes a Serra, diferente da consulta anterior, estão mais próximos do resultado que o paulista vem obtendo, com grande resiliência, nas pesquisas de outros institutos, ou seja, a casa dos 35%, o que, lendo sob esse prisma, os tornam ainda menos estranhos.

Mas vamos aos fatos novos: Serra, ainda que de forma hesitante, admitiu ser candidato, em programa popular de TV. Malandramente, fê-lo elogiando o presidente Lula, numa tática tão primária, que foi rapidamente percebida e prontamente exposta pelo apresentador José Luiz Datena, qual seja, a de não criticar o governo atual e tentar fazer a comparação de biografias com a principal adversária, fugindo assim, da estratégia do modelo plebiscitário, buscada pelo PT.

Outro fato: nos últimos dias o PSDB vem usando a sua cota de inserções durante a programação de TV, com o governador paulista em pessoa falando não somente de suas supostas realizações como governador de São Paulo, mas também das conquistas que teria obtido em outros cargos públicos que ocupou. E sem o contraditório, fica fácil falar que criou os genéricos, que implementou programa de combate a AIDS, falar que a educação e a saúde de São Paulo são uma maravilha...

De outra parte, no caso de Dilma Rousseff, "fatos novos" podem até não ter comprometido muito seu desempenho, mas decerto também não ajudaram. Nos últimos dias veio a campo o requentado "caso Bancoop", com insistentes capas de revista e ampla repercussão no rádio e TV. Pouco importa se o juiz da causa fez pouco caso da representação do promotor José Carlos Blat; o despacho do Magistrado teve, evidentemente, bem menos destaque na mídia, se é que teve algum. Ainda que o denuncismo barato não pareça ser capaz de fazer grandes estragos na campanha da candidata do governo, pode, sim, ter o condão de contribuir, neste momento, para a estagnação. A conferir.

Deve vir mais emoção nos próximos dias. E, acreditamos, serão, de início, favoráveis a Serra. Ele se apresentará oficialmente como candidato no segundo final de semana de abril. A chamada grande imprensa, especialmente as revistas semanais, ofertar-lhe-á docilmente suas capas e, claro, as suas mais nobres páginas; rádio e TV, se bobear, farão um subserviente "esta é a sua vida" do governador. Nessa brincadeira, deve ganhar alguns magros pontos, ou, na pior das hipóteses, ficará onde está, mas num clima em que será difícil que a principal adversária suba ao menos um pouquinho, ou seja, no mínimo manterá a distância alcançada.

A campanha, com isso, entrará em nova fase e exigirá mais profissionalismo das equipes dos candidatos. O tempo de TV é que deve fazer a diferença, como o prova, aliás, a própria subida do tucano, ocorrida após a participação no Datena e após as aparições nas inserções do PSDB.

Quanto às pesquisas em geral, vamos sempre lembrar, neste espaço, que em 2008, na corrida pela prefeitura de São Paulo, faltando cerca de três meses para as eleições, Marta Suplicy se aproximava dos 40%, Geraldo Alckmin tinha pouco mais de 20%, e Gilberto Kassab estava tecnicamente empatado com Paulo Maluf com não mais do que 10%. No final, deu no que deu!

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