Este diferenciado escriba não se surpreendeu com o recente ocorrido acerca da estação do Metrô no bairro de Higienópolis.
Se alguém ainda não sabe da história, o Metrô de São Paulo mudou os planos de construir uma estação no bairro que abriga gente como FHC - mais precisamente na famosa Avenida Angélica - depois de pressões da Associação Defenda Higienópolis. Entre outras coisas, os moradores temiam o crescimento de “ocorrências indesejáveis” ou de presença de "gente diferenciada" em tão nobre localidade, por conta de estação naquele belo logradouro.
O preconceito das chamadas elites com os pobres e suas práticas segregacionistas (o nome do bairro é Higienópolis, né?) não chegam a surpreender. Muita gente de bom coração, porém, ficou sem entender por que não querer uma estação de metrô bem localizada no próprio bairro em que vive. Vá lá que não se goste de pobre, mas ter estação de metrô vale o sacrifício, devem ter pensado alguns até em tom de brincadeira.
Este blogueiro, todavia, ficou meio indiferente. Em realidade, vimos nessa história apenas a materialização de ideia polêmica que corajosa e heroicamente defendemos, sofrendo oposição quase geral.
É praticamente um lugar comum afirmar-se que, em São Paulo, a galera usa freneticamente o automóvel como alternativa às péssimas condições do transporte público. O autor destas mal digitadas, por outro lado, assegura que ocorre o contrário: o transporte coletivo de São Paulo é uma porcaria porque as pessoas preferem o transporte individual.
Não resta dúvida. O leitor, se puder, que numa oportunidade procure, deseducadamente, ouvir conversas alheias no metrô, nos trens, nas filas de ônibus. Sempre ouvirá alguém bem apertado na lata de sardinha lamentando-se de "ainda" não ter um carro, ou reclamando porque é dia do rodízio, ou maldizendo o fato de o automóvel estar no conserto. Para a maioria, a solução, portanto, não está na melhora do transporte público, mas sim na aquisição, conserto ou melhora do carrão particular.
A preferência do paulista em geral - e do paulistano em particular - pelo carro em detrimento dos meios de transporte coletivo também se assoma pelas grandiosas obras viárias e pela renitente popularidade de políticos como Paulo Maluf e Adhemar de Barros. Para eles, governar era algo do tipo... É... Abrir estradas.
Por incrível que pareça, o jornal Folha de São Paulo, não há muito, em editorial sobre a questão do transporte e locomoção na megalópole, de certa maneira nos repetiu, embora de forma mais "tucana", criticando a propensão paulistana por buscar soluções individuais para os problemas coletivos. No caso deles, todavia, a preocupação deve ser porque agora o pobre está comprando carro!
Neste caldo de cultura, os investimentos em transporte público tendem a ser pífios mesmo, já que para o político será bem melhor realizar obras vistosas que sirvam aos carros, agradando por conseguinte o seu não raro solitário ocupante, do que trabalhar em prol do transporte coletivo, cujo usuário não vai dar muita bola.
Tudo isso só para dizer que o preconceito da elite paulistana contra os pobres não causa surpresa em ninguém mesmo. Já no nosso caso, indo um pouco mais além, não nos surpreende nem o fato de os moradores do principado de Higienópolis não quererem estação de metrô perto de casa.
Se me permitem, tal estupidez não me causaria estranheza mesmo se viesse de algum bairro um pouco mais pobre... Resumindo, sou diferenciado mesmo!
Não é sobre liberdade (e eles sabem disso)
Há 5 semanas
Nenhum comentário:
Postar um comentário