Em semana de encontro do G-20, com direito a descontraídas tiradas entre o presidente estadunidense e seu colega brasileiro, passou despercebida uma sutileza da mídia em relação à política local, observada mais especificamente no portal UOL e na Folha OnLine.
Na segunda-feira (30-03) foram divulgados os resultados da pesquisa CNT/Sensus sobre o goveno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A exemplo do Datafolha e do IBOPE, a popularidade de Lula teve uma pequena queda, mas ainda se mantendo em índices considerados extraordinariamente altos. Como seria de se esperar, a crise foi apontada como a grande vilã (este blog, porém, humildemente acredita no aspecto inercial da queda da popularidade presidencial: ela estava em patamar dificilmente superável e, além disso, é muito complicado manter índices tão altos num país complexo como o Brasil, não havendo, pois, novidade nas pequenas quedas ora verificadas). Mas é só um adendo; queremos mesmo falar de outra coisa.
Juntamente à consulta acerca da situação presidencial, foi feita sondagem sobre o pleito de 2010. É aí que entra a sutileza supramencionada. O UOL e a Folha OnLine apresentaram a dianteira de José Serra de uma forma blasé, como quem diz não haver novidade. Mas o mais interessante foi o destaque que deram à subida de Dilma Roussef (leia aqui). Até aí tudo bem, afinal para o grupo Folha equilíbrio pouco é bobagem! A esperteza, porém, veio na atenção dispensada à informação de que, se o adversário for Aécio Neves, a ministra-chefe da Casa Civil, segundo a pesquisa, consegue emparelhar. Aparentemente, o UOL e a Folha OnLine apenas prestam o seu nobre serviço de bem informar o cidadão. Mas será que só se trata disso?
A Folha, pelo menos por meio de seus braços “internéticos”, parece ter intentado mandar recados ao PSDB e, mais especialmente, para o governador mineiro e seus simpatizantes; não chegou ao ponto de dizer “pó pará, governador”, mas insinuou que “prévias não, obrigado!”. O neto de Tancredo ainda não desistiu de sua candidatura e decerto pensa ter chances de ser o escolhido numa consulta interna do partido. E este blogueiro tem sérias dúvidas se ele não conseguiria, principalmente se souber explorar bem o discurso contra o “paulicentrismo”, discurso este, aliás, já por ele encampado timidamente noutras oportunidades. Mas a mídia – a princípio a paulista, mas talvez não só ela - tentará convencer o partido da furada que isso pode representar e, além disso, já está buscando incutir na cabeça dos eleitores oposicionistas a certeza de que Dilma tem chances, mas apenas se o adversário for o governador das Minas Gerais.
A imprensa paulista tem passado a impressão de que não dará sossego ao pobre governador Aécio, pelo menos até a definitiva indicação de Serra à sucessão presidencial. Mas suponhamos que, assim como Alckmin, o mineiro surpreenda e seja ele o indicado, deixando o governador paulista chupando o dedo (tudo na política é possível); nesse caso, podemos apostar numa repentina mudança nas redações dos jornais e de seus portais: entre Dilma e Aécio, a preferência midiática deve recair sobre o segundo, e por isso o aventureiro namorador e otras cositas más dará lugar ao governador empreendedor e bem avaliado de um dos maiores estados do Brasil. Já vimos esse filme: em 2006, após o trunfo de Alckmin dentro do partido, a imprensa mais do que depressa jogou para debaixo do tapete os escândalos do ex-governador que vinham sendo relativamente bem abordados enquanto ele disputava a indicação com Serra. Mas isso tudo, sempre de forma muito, mas muito sutil!
Não é sobre liberdade (e eles sabem disso)
Há 5 semanas
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