Estar nas ruas é uma coisa; estar na mídia é outra. É o que se pode depreender da censura do ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa dirigida ao presidente daquela corte, Gilmar Mendes (o leitor deve ter acompanhado).
Não se tratava de uma mera constatação, mas de uma crítica – por que não dizer um ataque – dirigida ao ministro Gilmar Mendes. Por isso, não nos parece despropositado supor que Joaquim Barbosa quis também dar uma cutucada na mídia. Foi como se ele dissesse que sair às ruas é bom; por outro lado, estar na mídia...
Creio que a assim chamada grande mídia, aquela representada pelas grandes oligarquias do setor, sentiu o golpe, tanto que deixou transparecer alguma simpatia por Gilmar Mendes e não escondeu certa reprovação (quem são eles?) por Joaquim Barbosa.
Não é caso de se entrar no mérito da questão que se discutia naquela sessão – que isso fique para os juristas e para as partes envolvidas na pendenga. Mas é bom ver se realmente a pobre da mídia merecia mesmo ter sido chamada a protagonizar tão áspero diálogo na mais alta instância do Poder Judiciário brasileiro.
Apenas um fato já seria suficiente para dar razão a Barbosa na sua indireta crítica aos meios de comunicação. E ela vem justamente da falta de ressonância de uma ousadia do ministro contra o presidente do Supremo. Ele disse qualquer coisa a respeito de capangas do Mato Grosso. Por que a mídia não foi atrás de saber do que se tratava, perguntou um atônito Luciano Martins Costa no Observatório da Imprensa. Não se trata de prejulgar nem de levar a sério a insinuação de Joaquim Barbosa; mas seria aplicação do bom jornalismo correr atrás de fatos e desnudá-los para que o cidadão que acompanha o caso não ficasse, digamos, “boiando”. Reparemos que, em virtude disso, o sempre sarcástico Mino Carta sugeriu que a revista que edita deve figurar entre as leituras de Barbosa!
E a mídia e as ruas, como ficam? Ora, basta ver os resultados das eleições presidenciais de 2002 e 2006; se não for o bastante é só acompanhar o índice de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: de fato, o descompasso entre mídia e rua é algo colossal, não?
Mas é claro que não se quer que a mídia (os formadores de opinião) tenha sempre posições que sigam as ruas, afinal não nos esqueçamos do maciço apoio popular de que gozava o nazismo na Alemanha, por exemplo, ou, em nível doméstico, lembremo-nos de como tende a se posicionar a população em relação a questões de direitos humanos. A sugestão seria que, para a mídia, estar nas ruas é fazer jornalismo de verdade, relatar fatos, não editorializar matérias, pautar-se pelo máximo equilíbrio possível, tomar partido se for o caso, mas de forma clara e de maneira honesta com o leitor: em suma, é basicamente seguir os manuais de redação da maioria dos órgãos!
Mas, para finalizar, as ruas bem que poderiam fazer uma observação e emendá-la a uma pergunta: não há, em princípio, maiores problemas no fato de o presidente do STF aparecer muito na mídia, afinal ele é pessoa pública e suas opiniões bem podem ser de grande interesse; mas, pergunta-se, por que ele tem tanto espaço na mídia? O que o leva a aparecer mais do que os presidentes anteriores? Deve haver alguma resposta – e pode até não haver nada de mais nela. Mas “as ruas” mereceriam saber...
Não é sobre liberdade (e eles sabem disso)
Há 5 semanas
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