sábado, 1 de novembro de 2008

Eleições municipais 2008 - São Paulo - considerações finais

Do resultado das eleições municipais de São Paulo foi falado tratar-se de uma vitória da racionalidade do eleitor, que teria votado pragmaticamente, de olho no seu interesse nas coisas que lhe diziam diretamente a respeito, o que quer dizer, sob essa leitura, que o sufrágio do paulistano foi essencialmente “municipalizado”. Por outro lado, diversos analistas, quando não os mesmos do diagnóstico anterior, viram na vitória de Kassab um trunfo do governador José Serra com vistas a 2010, o que seria ao mesmo tempo, e por conseqüência, uma derrota do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o que teria dado dimensão nacional ao escrutínio paulistano.

Ambas as análises parecem ser contraditórias entre si, além de não sobreviverem isoladamente se observadas pelo olhar crítico.

Primeiramente, os comentaristas e os cientistas políticos precisavam decidir se, afinal, o paulistano votou simplesmente preocupado com a cidade e, desse modo, premiou uma administração que considera aceitável, ou se quis ir além, mandando recados para possíveis presidenciáveis de 2010. Alguém pode até achar que as duas coisas não necessariamente se excluem mutuamente. Faltou, entretanto, explicar em suas análises como isso se dá na prática.

Em segundo lugar, merece ser questionada tanto a afirmação de ter sido racional a escolha do eleitor da capital de São Paulo quanto a de ter sido uma vitória do grupo de Serra o resultado do pleito no município.

Racionalidade?
Ao falar da racionalidade dos eleitores, os analistas quiseram se referir ao fato de que ele teria deixado de lado suas paixões e preferências lato sensu e simplesmente calculado o que seria melhor naquele momento: manter o atual prefeito e, assim, prestigiar suas políticas, ou mudar tudo de acordo com sua predileção partidária ou simpatia pessoal. Noutras palavras, de acordo com esse entendimento, o paulistano pensou acima de tudo na cidade. Muito bem. Mas é bom não deixar se perder de vista que a “moderna” cidade de São Paulo deu sobrevida ao ex-PFL, varrido do mapa até mesmo em muitos rincões que ainda lhe davam sustentação. Mas, dirão alguns, a tal escolha racional do eleitor passa justamente pelo fato de o morador da maior cidade do país não ter sequer pensado em partido na hora de votar, antes fazendo sua opção na comparação das habilidades dos candidatos. Pois bem. Se de fato racionalidade é isso, então se deve concluir que a mídia, intelectuais e até mesmo a classe política andam mentindo muito quando falam da importância do fortalecimento dos partidos, da fidelidade partidária, na necessidade de diminuir a “personalização” na política. Quer dizer, então, que os partidos políticos são de capital importância, exceto quando uma bandeira do atraso ganha na cosmopolita São Paulo?! O voto na pessoa pela pessoa é algo horrível, vejam só o Lula... Mas o voto no homem Kassab é superbacana, principalmente se for para derrotar o bem organizado partido político chamado PT!

Municipal ou nacional?
Se a eleição foi de fato por demais localizada, não se deveria atribuir os louros da vitória de Kassab ao governador José Serra, mesmo com a generosidade subserviente do prefeito reeleito, que não se importou de dividir as glórias com o peessedebista. Há que se dizer que não chega a surpreender resultado mais pró-Serra na cidade, haja vista que São Paulo sempre foi meio “do contra” quando o assunto é presidente popular. Ademais, parece que a imprensa de vez em quando se esquece, mas a eleição para presidente não ocorre apenas na maior cidade da América do Sul. Dessa forma, se é que o eleitor “brasileiro” mandou algum recado para 2010, ele foi mais favorável ao presidente Lula, que viu seu partido conquistar mais municípios espalhados por todo o país. Fora isso, será que alguém teria coragem de apostar as fichas no tucano numa eventual disputa direta entre ele e o atual presidente? Tudo bem, Lula não poderá disputar a reeleição em 2010, e como não restou provado que sua popularidade redunde na transferência de votos, o governador Serra, sob esse prisma, teria mais chances do que o candidato que vier a ser apresentado pelo Planalto. Ora, senhores analistas, não se esqueçam da tal “racionalidade” do eleitor, que bem pode querer a continuidade em 2010 e, portanto, preferir o low profile de, por exemplo, Dilma Roussef ao pop star José Serra. Se Kassab alcançou tão notável êxito, por que a ministra-chefe da Casa Civil não pode?

Mas as eleições municipais foram só... municipais, e 2010 ainda está longe. Há crise econômica internacional rolando, tem novo presidente americano chegando por aí. Guardemos, pois, nossas bolas de cristal!

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