A anunciada (vergonhosa) posição internacional do Brasil no quesito educação básica certamente que não chega a causar grande espanto: essa nunca foi uma das nossas prioridades. Está certo que ela é tema de debates e de discursos de políticos, mas medidas práticas são raras e, em alguns casos, quando as há, elas conseguem ser catastróficas a ponto de parecer preferível que elas não existissem.
O fator mais relevante, porém, foram os resultados obtidos no estado de São Paulo, que puxaram para baixo a média nacional. É estarrecedor que o maior e mais rico estado da Federação tenha ficado atrás de estados menores e mais pobres.
É estarrecedor, porém não é surpreendente.
Desde fins dos anos 1990 vigora no estado a chamada “progressão continuada” ou “aprovação automática” ou outro pomposo e bonito nome do gênero. Tal medida, a rigor, não é errada, tendo em vista que o grande objetivo é que todos aprendam adequadamente e, em conseqüência, sejam promovidos para as outras etapas do processo educacional. O erro, provavelmente, está na condução do processo, pois simplesmente se aprovam os alunos sem que eles, muitas vezes, aprendam sequer o mínimo para o estágio em que se encontram. É inconcebível que um garoto seja alçado, por exemplo, da sexta para a sétima série do ensino fundamental apenas porque não se pode retê-lo mais um ano naquele mesmo grupo, mas que não haja um trabalho sério que o “obrigue” a aprender ou algum acompanhamento de reforço para vencer suas dificuldades. Repita-se, um “trabalho sério”, pois, se é que há algum, tudo indica que não prima pela seriedade.
É curioso que figuras importantes da sociedade civil, a imprensa e demais formadores de opinião encham tanto a boca para falar da importância da educação e que, ao mesmo tempo, sejam em sua maioria tão simpáticos aos governadores tucanos, em última análise responsáveis por essa situação em São Paulo: o finado Mário Covas é quase tratado como um semideus; Alckmin falava num tal choque de gestão sem provocar risos nos seus ouvintes; Serra, por fim, aparece até como uma alternativa – talvez a mais viável da oposição no momento – para a sucessão de 2010. E dizem que a educação é prioridade...
A importância da educação para o mundo do trabalho é de tal monta que, talvez, seja maior do que a devida. O sociólogo italiano Domenico de Masi, grande defensor da necessidade de redução radical da jornada de trabalho como forma de solução à crise estrutural do desemprego, quando contestado por aqueles que afirmam que as pessoas não saberiam o que fazer com o tempo que lhes restaria, responde que o problema passa pela educação: com efeito, ela é voltada à formação para o mundo do trabalho, mas nada nos ensina quanto ao uso de nosso tempo livre. Dada essa – até indesejável - vocação do processo educacional, é estranha a sua calamitosa situação justamente no estado que é grande exemplo nacional de pujança econômica: “locomotiva”, terra de oportunidades, terra do trabalho, responsável por uma fatia do PIB maior do que o de muitos países em desenvolvimento.
A educação básica, sobretudo a pública, vai realmente muito mal, evidentemente que não apenas no estado de São Paulo, mas em todo o Brasil. É necessária muita união para solucionar o problema. É pena que, numa situação dessas, alguns pais, os editores da revista Época e o Ali Kamel, diretor do jornalismo da Globo, ainda encontrem tempo para preocupar-se com supostos “desvios” ideológicos de livros didáticos.
Não é sobre liberdade (e eles sabem disso)
Há 5 semanas
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