O day after da queda da CPMF trouxe situações, notícias e histórias que são boa matéria-prima para quem gosta de perder algum tempo analisando as questões da atualidade.
Alguns jornais, ainda sob indisfarçável clima de celebração, recomendaram a seus leitores que adiassem compras de valores vultosos para janeiro, pois assim escapariam do 0,38 por cento sobre a operação de aquisição do produto.
Ótima dica, sem dúvida! Mas certamente de pouca ressonância entre a maioria dos consumidores brasileiros.
Imagine o leitor que vá comprar um carro no valor de, digamos, 20 mil reais. Se o autor das mal digitadas ainda sabe fazer contas, o feliz adquirente do automóvel pagará 76 reais de CPMF. Vamos e venhamos, ninguém adiará uma compra por causa disso! Seria ótimo que as pessoas soubessem esperar e tivessem esse tipo de preocupação mesmo com pequenas quantias; mas nós não apenas somos compulsivos e imediatistas na hora da compra, como também não costumamos nos preocupar com valores irrisórios quando comparados a montantes bem maiores. Por que alguém adiaria uma compra de 20 mil para economizar parcos 76 reais, quando se vêem cidadãos docilmente pagarem valores extorsivos no cheque especial ou nos juros dos cartões de crédito?
Noticiou-se também que os preços devem cair por conta da enxugada da CPMF que estaria embutida no preço final dos produtos. Será mesmo? Para se acreditar nisso não é necessário apenas ter fé, mas, principalmente, ter memória curta além daquela quantidade que já nos é habitual.
Todos devem lembrar-se de que no governo Collor houve o IPMF, que foi devidamente extinto a seu tempo. Posteriormente, como forma de obter verba para a saúde, o então ministro Adib Jatene empenhou-se na criação da CPMF. O pessoal da FIESP e outras instituições patronais ergueram-se para dizer que o tributo traria aumento de preços. O ministro Jatene, inteligentemente, perguntou por que, então, os preços não caíram quando o então IPMF fora extinto. Até hoje, que se saiba, nenhuma federação ofereceu resposta. Ademais, não se deve negligenciar o risco de que, com um pouco mais de dinheiro na mão das pessoas, os preços venham mesmo é subir, sobretudo porque a economia está razoavelmente aquecida e já se observam, segundo os economistas, algumas pressões inflacionárias aqui e ali.
Mas a pior de todas, sem dúvida, foi a notícia de que a oposição – repita-se, a oposição, segundo os noticiários - pretende abrir canais de negociação com o governo para ressuscitar a Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras, só que dessa vez dentro de um pacote de uma reforma tributária mais ampla.
Será que a ficha dos oposicionistas caiu?
Sem dúvida que a rejeição da prorrogação da CPMF foi um ato de oposição sistemática. Mas houve algo de racional nela também, pois se pretendia, em princípio, tirar um pouco dos recursos utilizáveis nos programas sociais, ponto forte do governo Lula, expondo-o a uma situação difícil na fatia do eleitorado que é seu principal pilar.
Mas 2008 é ano de eleições municipais. Como se sabe, a oposição administra muitas cidades Brasil afora. Os recursos advindos da CPMF respingavam nos serviços públicos municipais, que agora correm o risco de ver sua qualidade ainda mais definhada. Com a atenção voltada às eleições para prefeito, o cidadão vai se voltar contra o mandatário municipal, deixando de lado a eventual responsabilidade federal nos problemas locais. Se os hospitais municipais estiverem em situação ainda pior do que já estão, a culpa vai ser atribuída ao prefeito e não ao governo federal que não repassa verbas.
Imagine, amigo leitor, quantos telefonemas irados de correligionários o senador Arthur Virgílio deve ter recebido nos últimos dois dias!
Não é sobre liberdade (e eles sabem disso)
Há 5 semanas
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