sábado, 20 de setembro de 2008

Capitalismo e liberdade?


Enorme coincidência: nesta semana, de grandes turbulências no(s) mercado(s), já estava programada, em curso de pós-graduação da setuagenária Escola de Sociologia e Política de São Paulo, aula baseada no clássico "Capitalismo e liberdade", de Milton Friedman, uma bíblia do neoliberalismo.

Uma colega de sala fez uma pergunta inevitável: o que Friedman pensaria das operações de socorro governamental aos bancos quebrados nos Estados Unidos? Um outro, com boa dose de sarcasmo, sentenciou que, enquanto tinham lucros, os bancos queriam distância das intromissões do Estado; já sob a crise, o intervencionismo estatal é bem-vindo, com direito ao obsequioso silêncio de todos que sempre professaram a cartilha neoliberal. Para nós brasileiros não há muita novidade: é a versão gringa do velho clichê representado pela idéia “lucros privados, prejuízos socializados”.

É uma temeridade palpitar acerca de qual seria a opinião do grande economista americano, mas é muito provável que ele apontaria erros na condução da economia, problemas de parte do governo e falhas dos empreendedores como forma de dar uma explicação racional para o problema. Mas, do ponto de vista moral, é certo que, pelo menos do que se depreende da leitura do livro citado, Friedman condenaria o “paternalismo” estatal que ora se verifica nos Estados Unidos da América. Está no final da introdução de "Capitalismo e liberdade", a crítica à atuação dos liberais do século XX, que, “em nome do bem-estar e da igualdade, acabou por favorecer o renascimento das mesmas políticas de intervenção estatal e paternalismo contra as quais tinha lutado o liberalismo clássico”. Portanto, se é que a crise não faria do famoso membro da Escola de Chicago um revisionista, ele passaria um sermão no seu amigo Bush.

Um famoso professor da Filosofia da USP, também comentarista econômico, aconselhou-me a evitar falar sobre economia, pois tal disciplina não é para diletantes. Ele deve ter razão. Aguardemos os próximos desdobramentos e deixemos o assunto de lado, por enquanto. Mas o registro da oportuna discussão da obra de Friedman na semana que finda pareceu-me de grande interesse, uma curiosidade talvez.

2 comentários:

João Gilberto disse...

Sidney!
Quem vos escreve é o João. Fizemos Filosofia juntos!
Muito bom o seu blog. Será uma de minhas leituras constantes.
Abraço.

iendiS disse...

Obrigado, João! Um grande abraço e a gente se fala.