sábado, 13 de setembro de 2008

Lula e Evo, Brasil e Bolívia

Segundo o Datafolha, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva quebra o próprio recorde de popularidade. A grande novidade da mais recente pesquisa é que a sua aprovação agora também é maioria entre os mais ricos e escolarizados e entre os moradores das regiões Sul e Sudeste, estratos nos quais o presidente ainda encontrava alguma dificuldade de aceitação.

A explicação, como qualquer assessor de Clinton se apressaria em dizer, é o bom momento da economia. Ah, não se esqueça de acrescentar o “estúpido”!

Sem dúvida que o presidente Lula está numa situação indescritivelmente mais confortável do que, por exemplo, a de seu colega Evo Morales, presidente da Bolívia, que vem enfrentando turbulências oposicionistas que não pretendem outra coisa senão o golpe de estado. Entretanto, o que ocorre no país vizinho não seria, infelizmente, algo impensável de acontecer também no Brasil.

Não há acreditar que a chamada elite brasileira seja melhor do que a boliviana: basta pensar que somente agora, após praticamente seis anos de governo, o presidente Lula consegue parte do reconhecimento que já tinha de há muito nos segmentos mais populares; antes disso, só se viam choradeiras sem sentido e torcida indisfarçada pelas crises ampliadas pela mídia. E não é descartado que, na eventualidade de maus bocados na economia brasileira, viessem à tona com maior severidade os preconceitos de classe, raça, origem ou condição social, ou seja, os mesmos que hoje pressionam o presidente boliviano.

Numa crise muito acentuada, sob o governo de um presidente nordestino, haveria no Brasil grande possibilidade de os políticos dos estados do Sul e do Sudeste questionar o pacto federativo. Não há dúvida que tal tipo de discurso ganharia corpo entre a população: “São Paulo, por exemplo, é responsável por ‘não-sei-lá-quanto’ da carga tributária, mas somente uma mísera parte retorna para o Estado...”. E aí a “bolivização” do Brasil estaria feita.

Mas felizmente a nossa economia vai relativamente bem, e ninguém esquentaria a cabeça, pelo menos por enquanto, com possíveis distorções advindas do fato de sermos uma República Federativa. Nossa integridade territorial, portanto, está assegurada, e arroubos separatistas continuam nos parecendo coisas distantes, exóticas dir-se-ia até – ainda que se ouça alguma menção aqui, outra acolá, do tipo "se São Paulo fosse um país, seria uma potência do nível de...".

A aprovação ao governo Lula, de mais de 90% se considerarmos os que o julgam regular, é um elemento a mais de estabilização democrática. Mas isso não é tudo. A segurança institucional ampara-se também – ou sobretudo - na economia que insiste em crescer, apesar do COPOM. Afinal, aprovação por aprovação, o presidente Morales também tem, haja vista sua importante vitória obtida no referendo revocatório de algumas semanas atrás. A questão econômica, portanto, talvez sirva de desculpa para a violência perpetrada pela oposição no país andino.

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