quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Eleições Municipais 2008 - São Paulo - Hipocrisias

Polêmica que vem agitando a campanha pela sucessão da prefeitura paulistana não mostra apenas a desfaçatez dos políticos, mas também diz muito sobre o caráter prático da conduta do eleitor.

Marta Suplicy, mulher que de longa data trabalha em prol do respeito à diversidade e em favor de uma melhor educação sexual, permitiu que sua equipe de campanha veiculasse propaganda que fazia insinuações sobre a vida íntima de seu adversário. Chamemos esse evento de “cara-de-pau nº1”.

Como o leitor deve ter presumido, existe uma “cara-de-pau n°2”, e ela vem justamente do prefeito e de seu partido e de seus aliados. Mostram-se ofendidos, mas sempre adoraram espezinhar sobre a vida pessoal de seus adversários e não são dados a ter papas na língua na hora de fazer críticas à dimensão meramente humana, por assim dizer, de seus antagonistas (o presidente Luiz Inácio Lula da Silva que o diga!).

Quem não se lembra de a campanha de José Serra, padrinho de Kassab, em 2002, tripudiar em cima da escolaridade do então candidato Lula? Já a própria Marta, em 2004, sofreu forte onda de preconceito em decorrência de decisões pessoais concernentes à sua vida conjugal. Mas tudo isso, em vez de habilitá-la a ela e a seu partido a usarem de expediente tão baixo, deveria antes servir-lhes de recomendação para serem mais zelosos com comentários sobre a vida pessoal alheia.

Mas falemos do eleitor. Em nome da elegância, evitaremos com muito custo de falar de uma “cara-de-pau nº3”, mas a grande verdade é que nós cidadãos não sabemos bem para que lado vamos e costumamos ter um moralismo para lá de seletivo, de acordo com nossas preferências: o mesmo sujeito que sempre odiou a Sra. Marta Suplicy em virtude de sua atuação simpática às causas dos homossexuais, agora se mostra chocado com uma possível exploração sobre a vida sexual de seu adversário. O mesmo eleitor que talvez a tenha abandonado em 2004 por causa de seu casamento desfeito, considera hoje sem sentido a pergunta sobre a vida conjugal (ou a ausência dela) do prefeito Kassab.

Tudo isso só prova que estamos todos no mesmo barco: a ex-prefeita com sua incompreensível baixaria, o atual prefeito e o seu partido com sua cínica indignação, e nós os eleitores com o nosso, digamos, “pragmatismo”!

2 comentários:

Anônimo disse...

Só para ilustrar. Um comentário que ouvi, de gente "letrada", "centrada", "moderna", no dia da eleição, ao ver Eduardo Suplicy sempre ao lado de Marta nos telejornais. "Olha isso, o Suplicy, sempre do lado dela. Que nojo. E o marido dela ? Aceita isso ?". Civilidade perdeu o valor, meu caro.

Anônimo disse...

Ops, em tempo. Ela, ou a equipe dela jogaram no lixo, muito dos conceitos dela nesse caso recente. Pena. abraços.