Polêmica que vem agitando a campanha pela sucessão da prefeitura paulistana não mostra apenas a desfaçatez dos políticos, mas também diz muito sobre o caráter prático da conduta do eleitor.
Marta Suplicy, mulher que de longa data trabalha em prol do respeito à diversidade e em favor de uma melhor educação sexual, permitiu que sua equipe de campanha veiculasse propaganda que fazia insinuações sobre a vida íntima de seu adversário. Chamemos esse evento de “cara-de-pau nº1”.
Como o leitor deve ter presumido, existe uma “cara-de-pau n°2”, e ela vem justamente do prefeito e de seu partido e de seus aliados. Mostram-se ofendidos, mas sempre adoraram espezinhar sobre a vida pessoal de seus adversários e não são dados a ter papas na língua na hora de fazer críticas à dimensão meramente humana, por assim dizer, de seus antagonistas (o presidente Luiz Inácio Lula da Silva que o diga!).
Quem não se lembra de a campanha de José Serra, padrinho de Kassab, em 2002, tripudiar em cima da escolaridade do então candidato Lula? Já a própria Marta, em 2004, sofreu forte onda de preconceito em decorrência de decisões pessoais concernentes à sua vida conjugal. Mas tudo isso, em vez de habilitá-la a ela e a seu partido a usarem de expediente tão baixo, deveria antes servir-lhes de recomendação para serem mais zelosos com comentários sobre a vida pessoal alheia.
Mas falemos do eleitor. Em nome da elegância, evitaremos com muito custo de falar de uma “cara-de-pau nº3”, mas a grande verdade é que nós cidadãos não sabemos bem para que lado vamos e costumamos ter um moralismo para lá de seletivo, de acordo com nossas preferências: o mesmo sujeito que sempre odiou a Sra. Marta Suplicy em virtude de sua atuação simpática às causas dos homossexuais, agora se mostra chocado com uma possível exploração sobre a vida sexual de seu adversário. O mesmo eleitor que talvez a tenha abandonado em 2004 por causa de seu casamento desfeito, considera hoje sem sentido a pergunta sobre a vida conjugal (ou a ausência dela) do prefeito Kassab.
Tudo isso só prova que estamos todos no mesmo barco: a ex-prefeita com sua incompreensível baixaria, o atual prefeito e o seu partido com sua cínica indignação, e nós os eleitores com o nosso, digamos, “pragmatismo”!
Não é sobre liberdade (e eles sabem disso)
Há 5 semanas
2 comentários:
Só para ilustrar. Um comentário que ouvi, de gente "letrada", "centrada", "moderna", no dia da eleição, ao ver Eduardo Suplicy sempre ao lado de Marta nos telejornais. "Olha isso, o Suplicy, sempre do lado dela. Que nojo. E o marido dela ? Aceita isso ?". Civilidade perdeu o valor, meu caro.
Ops, em tempo. Ela, ou a equipe dela jogaram no lixo, muito dos conceitos dela nesse caso recente. Pena. abraços.
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