sábado, 7 de março de 2009

Dica para a oposição (política e midiática)

Já passou da hora de a imprensa parar de bater na tecla da crise. Talvez seja o caso de aqueles que relutam em enxergar bons resultados na condução da política econômica do atual governo apelarem para algum tipo de crítica que tire um pouco o foco dos resultados positivos de que o presidente em pessoa não cansa de se gabar. Como fazer isso? Buscando elementos ou fatores negativos em notícias que de acordo com o senso comum são boas no atacado.

Automóveis
No caso dos extraordinários números da indústria automobilística, é só apontar logo de cara os sérios problemas ecológicos provocados pelos carros. Pode-se apelar também para as preocupações com os aterrorizantes números da violência do trânsito. Há que se lembrar também que o ótimo desempenho que se vê no momento é resultado das medidas de incentivo ao setor, o que em última instância significa apenas um retardamento de uma retração que mais cedo ou mais tarde virá. Senão vejamos: há um problema logístico – cidades como São Paulo não suportam mais carros; o crescimento no patamar que ora se observa não é sustentável a longo prazo, ou seja, uma hora terá que acabar; a renúncia fiscal, como a do IPI, não é justa com os demais setores da economia e, ainda por cima, retrai a arrecadação, o que pode provocar algum risco de desequilíbrio fiscal. Tais ressalvas podem, com efeito, dissuadir até um cristão-novo paulistano. Acredite!

Seguros
Ouviu-se do presidente Lula, durante almoço oferecido pela Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde, Suplementar e Capitalização (CNSeg) em 03-03-2009, justamente na semana do anúncio da ajuda do governo dos Estados Unidos a AiG, que o setor de seguros do Brasil, diferentemente do que ocorre lá, está blindado. Deve ser verdade. Mas a turma que não dá o braço a torcer tem bons motivos para minimizar a importância disso: primeiramente, lance-se o infalível argumento de que os seguros de maneira geral são caríssimos no Brasil; em segundo lugar, deve-se exortar àqueles que já precisaram acionar a companhia de seguros a lembrar do inferno por que tiveram que passar para ser devidamente atendidos; por fim, os que já precisaram receber um seguro precisam ser convidados a se lembrar do calvário que enfrentaram, muitas vezes necessitando recorrer à justiça para conseguir, depois de muitas idas e vindas, perceber ao menos parte do seu prêmio. Num ambiente desses, como poderia um setor que mexe com seguros passar por dificuldades no Brasil?

Bancos
É claro que não poderiam faltar os bancos. Enquanto se vêem péssimos resultados em todo o mundo, a coisa por aqui vai de vento em popa para o setor. Instituições que apresentam prejuízos históricos nos principais centros financeiros mundiais divulgam lucros recordes no Brasil. Mas, ainda que se fale da importância de uma saúde sistêmica no setor, os ganhos absurdos dos bancos brasileiros refletem uma brutal transferência de renda advinda dos trabalhadores e do setor produtivo. E os banqueiros não têm sequer a boa vontade de liberar o crédito num momento difícil como o atual, o que teria feito definitivamente do Brasil um país absolutamente imune à crise internacional. Todos sabem que não é de hoje que os bancos faturam muito no Brasil; mas o governo do presidente Lula não mexeu uma palha para tentar equilibrar pelo menos um pouco as relações com os demais setores da sociedade, e a manutenção de Henrique Meirelles à frente do Banco Central é indicativo de que este segmento não verá, sob o atual governo, o seu inestimável poder se pulverizar.

São singelas dicas à oposição. Como se vê, há como criticar a situação econômica do país, mesmo sem precisar fazer malabarismos ridículos que tentem negar o óbvio ululante, qual seja, de que o Brasil não está no olho do furacão da crise. Que me lembre, apenas o cientista político José Augusto Guilhon de Albuquerque, em programa da Record News, arriscou dar um passo nessa vereda, dizendo naquela oportunidade que a razoável blindagem brasileira podia ser atribuída ao fato de não estarmos devidamente inseridos na globalização! Segundo Guilhon de Albuquerque, nossa caipirice é o que ainda nos segura. Quando o ouvi dizer isso pensei que a moda ia pegar e que outros intelectuais, políticos, colunistas e jornalistas antenados com os tucanos iriam sair dizendo aquela bobagem feitos papagaios. De qualquer forma, seria pelo menos uma mudança de disco!

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