O presidente do MSM, Eduardo Guimarães, leu o manifesto do ato, o qual pode ser conferido na íntegra em postagem daquela data no blog cidadania.com. Seguiram-se diversos pronunciamentos de sindicalistas, estudantes, ex-vítimas e familiares de mortos e desaparecidos. Por lá discursaram o jornalista Celso Lungaretti e o padre Júlio Lancelotti, ambos excelentes conhecedores, por motivos próprios, dos “democráticos” métodos utilizados não apenas pela Folha, mas por toda assim chamada grande imprensa brasileira.
No seu discurso, Eduardo relembrou observação anteriormente realizada no seu blog, qual seja, a de que “colocar gente na rua sem ser por meio de movimentos sociais ou de sindicatos hoje, no Brasil, não é fácil”. É a pura verdade. Por isso, o encontro de 7 de março merece uma análise bastante atenta.
Aspecto notável foi levantado por um integrante da CUT. O sindicalista oportunamente apontou que o grande problema não está apenas no fato da proposta de revisão histórica incutida no uso de uma expressão como “ditabranda” para se referir a um dos períodos mais sombrios de nossa história. Gravíssimo também, disse ele, é todo o comportamento recente da mídia, ou seja, a história atual que eles pretendem escrever nas suas páginas, percebida na diligente defesa do interesse de poderosos, na criminalização de movimentos sociais, no enxovalhamento de pessoas que não estão no rol de seus queridinhos. As duas coisas, portanto, estão ligadas: passado e presente encontram-se nas páginas dos grandes jornais, e não no bom sentido! Penso que vem daí o sucesso da manifestação de ontem, que provavelmente foi assistida por mais de quinhentas pessoas, gente de toda faixa etária, tanto os que viveram aqueles "brandos" anos, quanto uma moçada mais jovem e que deve estar percebendo as artimanhas falseadoras diariamente usadas pelos meios de comunicação.
Foi um ato acima de tudo político. As pessoas que lá estavam pretendiam fazer uma manifestação essencialmente política. E não se está aqui falando de política na sua dimensão antropológica ou na sua amplitude tão bem mostrada em famoso poema de Brecht. Não se quer dizer, pois, que o ato foi político porque no fundo tudo é político. Em verdade, foi-se protestar contra um poder - não instituído -, mas um poder usurpador. A imprensa mais do que nunca se acredita o quarto poder: tenta deflagrar crises, pensa que pode interferir na vida verdadeiramente institucional do país, quer ser a grande dona do país, sendo uma espécie de ventríloquo de alguns políticos conhecidos nossos.
Foi um ato, portanto, político do ponto de vista institucional mesmo, como seria, por exemplo, um panelaço contra o governo. Tal assunto merece estudo mais aprofundado de sociólogos, cientistas políticos e historiadores.
Não à toa vêem-se políticos da oposição – falo, é claro, do PSDB e do DEM – mostrando simpatia com a grande imprensa, ganhando espaço privilegiado nela, sendo tratado a pão-de-ló por colunistas que, como disse o presidente Lula, não querem de jeito nenhum passar pela mágoa de virem a ser chamados de chapa-branca. Vamos ver se tais jornalistas continuarão com esse temor se algum dia a dobradinha PSDB-DEM voltar ao governo Federal!
E não se trata de "achismos". Há estudos como o do IUPERJ que buscaram analisar cientificamente o partidarismo da grande mídia nas eleições presidenciais de 2006. Dentro da própria Folha, os dois últimos ombudsmans já apontaram a diferença de tratamento por parte do jornal para “escândalos federais” e escândalos estaduais e municipais em São Paulo e não deixaram também de observar a certa blindagem ao hoje mais bem cotado candidato oposicionista à sucessão de Lula.
A grande imprensa brasileira, portanto, como é de sua tradição histórica, continua querendo ser um ator político. No caso de São Paulo, conforme bem apontado num dos discursos da manifestação da Alameda Barão de Limeira, a Folha e o Estadão apoiaram o golpe militar de 1964. O jornal dos Mesquitas, porém, não deu salvaguarda ao período mais duro do regime, sendo até mesmo censurado à época; já o dos Frias deu até apoio logístico aos militares nos anos 1970. Algum tempo depois, a Folha quis passar a imagem de jornal mais arrojado, mais moderno e arejado do que seu concorrente. Mas, conforme dito por um dos manifestantes do sábado, agora a máscara da Folha definitivamente caiu.
Mas nada é muito de graça. Certamente que a proposta de revisão histórica deve ter algum objetivo mais latente. Pode ser que se queira levantar um debate que leve a questionamentos acerca de indenizações a vítimas e a parentes de vítimas do regime militar, assunto que atiça a “classe média pagadora de impostos”, sempre pronta a exalar seu moralismo seletivo. Outro intento talvez seja o de calar as idéias de abertura de arquivos do regime. A imprensa, com isso, é certo que atende aos interesses de muita gente com culpa no cartório. No caso da Folha em particular, a preocupação deve ser com a própria pele.
Congratulações a todos que estiveram presente na bonita, cívica e democrática manifestação de ontem, 07-03-2009, entre 10h00 e 12h35, na Alameda Barão de Limeira, 425, centro de São Paulo! Ah, eu também estive lá!
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