A derrota do Governo Federal na proposta de prorrogação da CPMF é sem dúvida um dos fatos mais notáveis deste final do ano, perdendo em importância somente para o excepcional crescimento do PIB anunciado nesta semana. Os espetaculares índices de aprovação da governança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, confirmados pela pesquisa CNI/IBOPE divulgada nos últimos dias, já viraram “carne de vaca”, não sendo, portanto, merecedores de maior destaque.
Foram particularmente interessantes as opiniões pescadas aqui e ali, sobretudo aquelas vindas de pessoas comuns, postadas geralmente em fóruns ou outros espaços destinados aos comentários de leitores na Internet, tanto nos dias em que antecederam quanto já nas primeiras horas após a – por que não dizer – sessão histórica do Senado Federal que rejeitou a Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras.
O pessoal contrário à cobrança do tributo empenhou-se em recordar que o PT foi outrora ferrenho opositor da CPMF, e que o próprio presidente Lula não o negava. Faltou, todavia, lembrar que a recíproca é verdadeira: os senadores que mais atacavam a Contribuição foram os mesmos que lhe eram favoráveis noutros tempos, numa época, aliás, em que o governo de plantão não tinha nem de longe o comprometimento social do atual.
Foi deveras engraçado ver, após a votação, alguns internautas parabenizarem os nobres senadores pela derrota que impingiam ao Governo. Só se pode atribuir isso à famigerada “cordialidade brasileira”. Uma semana antes, viam-se, nos mesmos espaços, os leitores esbravejarem contra o corporativismo e a covardia de nossa Câmara Alta por ter, pela segunda vez em pouquíssimo tempo, livrado a cara do senador Renan Calheiros. Agora, num passe de mágica, os ocupantes do Senado Federal são promovidos à categoria de heróis! Volubilidade...
Ao criticarem toda a carga tributária, alguns freqüentadores dos sítios noticiosos aproveitaram para repudiar os programas sociais, sempre sugerindo que a sacrificada classe média carrega o Brasil nas costas, sustentando uma horda de “vagabundos” com programas como o Bolsa-Família. Mas o egresso da classe média que realmente pensa assim deveria ser o primeiro a defender tributos como a CPMF. Em primeiro lugar porque é praticamente impossível sonegá-la, o que deveria ser um alento para aqueles que sabem que realmente são obrigados a pagar impostos altos por culpa daqueles que, não obstante a maior renda, conseguem driblar a Receita; em segundo, porque ao contrário de outros impostos, que de certo modo usam um pouco do princípio da progressividade, a CPMF também é cobrada - e na mesma proporção - dos muito pobres, haja vista a submissão do povo brasileiro ao sistema bancário quase em sua totalidade. Ou seja, nesse caso não dá para os chorões da classe média dizerem que "sustentam" os muitos pobres, que não pagam impostos .
Resta agora esperar que a FIESP faça valer aquilo que tanto apregoou nos últimos tempos: sem a CPMF, que a indústria de São Paulo comece a contratar desvairadamente, que de quebra melhore os salários de seus operosos funcionários e que também reduza um pouco de seus preços no atacado (os que têm contratos regidos pelo IGP-M agradecem).
Por fim, o autor destas mal digitadas também gostaria de congratular-se, não com os excelentíssimos senadores da República, como fizeram os freqüentadores dos sites dos jornais de São Paulo, mas, sim, com o jornalista Paulo Henrique Amorim, que asseverou haver duas linhas a se seguir no Brasil: ou bem se é a favor da distribuição de renda, ou se é favorável à redução ou extinção de impostos; não há meio-termo.
Este blog é, humildemente, a favor da distribuição de renda. E a CPMF, infelizmente extinta, era o tributo que melhor servia a esse objetivo.
Não é sobre liberdade (e eles sabem disso)
Há 5 semanas
Um comentário:
Olá, Iendis.
Estou passando por aqui, lendo tuas colocações, e aproveito para convidá-lo a fazer uma visita ao meu Blog ainda incipiente:
http://olugarqueimporta.blogspot.com/
Um abraço,
Marcelo Novaes.
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