Pesquisa CNT/Sensus publicada na última semana mostra que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva atingiu o segundo mais alto índice de popularidade desde o início de sua gestão. Não é de se estranhar, pois a semana também trouxe bons dados referentes ao emprego, à venda de automóveis e de outros bens de consumo duráveis e até em relação à dívida externa (pela primeira vez na história, o Brasil, segundo o Banco Central, pode ter se tornado credor externo).
A pesquisa também fez sondagens em relação à sucessão presidencial de 2010. O presidente Lula, em informação pouco divulgada, lidera a pesquisa nas respostas espontâneas, bem à frente do segundo colocado. Na estimulada, a liderança em todos os cenários é do governador de São Paulo, José Serra. A Constituição não permite o terceiro mandato consecutivo para presidente, por isso Lula não consta das opções apresentadas aos pesquisados na consulta estimulada. Os nomes do partido do presidente não aparecem bem em nenhum dos resultados, o que já fez alguns cientistas políticos suspeitarem que o PT deva pressionar o atual presidente a propor mudanças na Carta Magna para tentar mais um mandato consecutivo.
O exercício de futurologia não é para qualquer um, ainda mais no campo da política. Mas é muito cedo para afirmar que o PT, partido que desde a redemocratização do Brasil protagoniza a maioria das disputas importantes em todos os níveis no país, não tenha nenhum nome capaz de representá-lo para a sucessão do presidente Lula, sobretudo se ele prosseguir com os bons índices de aprovação que ora ostenta.
Façamos uma viagem no tempo: muito antes das primeiras eleições diretas após a redemocratização do Brasil, todos sabiam que Lula, Brizola e Covas dariam o que falar na disputa, mas poucos imaginavam que um certo Fernando Collor teria alguma chance naquele quadro. O êxito de Fernando Henrique Cardoso em 1994 não foi exatamente surpreendente, mas a possibilidade de vitória no primeiro turno, como efetivamente se deu, não era tranqüilamente aventada por especialistas muito tempo antes do início da corrida. O furacão Roseana Sarney também foi uma surpresa em 2002, até ter sua candidatura implodida pela atuação firme da Polícia Federal sobre as atividades de seu marido, atuação esta, aliás, que foi uma raridade no órgão durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso. Em 2005, no auge da crise do mensalão, era impensável a hipótese da reeleição do presidente Lula um ano depois. Muitos especialistas não acreditavam nas possibilidades eleitorais do ex-governador Geraldo Alckmin, mas ele conseguiu levar a pendenga de 2006 para o segundo turno contra o presidente Lula, um mito verdadeiro, como reconheceu o próprio ex-governador, em recente entrevista ao canal Record News. Por essas e muitas outras é que se deveria pensar duas vezes antes de se fazer afirmações tão peremptórias em relação a uma eleição que somente ocorrerá daqui a dois anos.
Há a possibilidade de o PT fazer o sucessor de Lula, mas não como cabeça de chapa. Isso dependeria de Aécio Neves trocar o ninho tucano pelo PMDB. Há quem diga que isso é uma espécie de desejo secreto do presidente. Mas será que não há mesmo ninguém no Partido dos Trabalhadores sonhando em ocupar o Planalto depois de Lula?
Um nome do PT que é sempre lembrado é o da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef. Ela tem se destacado pela atuação firme e pela imagem de técnica inteligente. Ela poderia ser ajudada por um turbilhão de presença feminina ativa na política internacional: Michele Bachelet no Chile e Cristina Kirschner na Argentina; nos Estados Unidos, a pré-candidatura de Hillary Clinton. A ministra Dilma, se o governo Lula continuar numa maré de razoabilidade, ainda terá a seu favor um bom cabo eleitoral para 2010.
Conforme sugerimos acima, é precipitado fazer desde já projeções para 2010. É bom não esquecer que José Serra, grande favorito para a próxima corrida presidencial, não vive um momento tão esplendoroso assim na sua carreira. No seu governo, há grandes problemas semelhantes aos que vive o governo federal, envolvendo inclusive cartões de natureza parecida com os corporativos. Ademais, foram descobertas recentemente suspeitas de irregularidade na sua campanha presidencial de 2002. E o governador tem encontrado dificuldades até mesmo de emplacar suas idéias no partido, notadamente as referentes à sucessão da prefeitura paulistana, na qual ele gostaria de ver seu partido engajado na reeleição de Gilberto Kassab. Todo esse clima tende a se agravar – ou se ampliar – até o pleito de 2010.
Dilma Roussef, se se mantiver em posição desfavorável nas pesquisas, certamente será num primeiro momento poupada de ataques. Tendo, porém, seu nome mais divulgado, expor-se-á às críticas, mas ficará mais conhecida do eleitor. A postura séria, decidida e equilibrada que ela mostra nas suas aparições certamente tem o objetivo de, por antecipação, apagar – ou polir – a imagem de guerrilheira que, provavelmente, será rememorada pelos adversários se ela entrar na disputa. Mas, depois de Lula, é provável que o eleitor não acredite mais em histórias de bicho-papão!
E ainda estamos em fevereiro de 2008...
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