A corrida no partido democrata para as eleições americanas deste ano está trazendo momentos de emoção que talvez superem os da própria briga direta pela Casa Branca. Enquanto a candidatura republicana já parece consolidada no nome de John McCain, dentre os democratas a “mulher” e o “negro” disputam ferrenhamente cada voto.
O que será que está por trás do histórico embate?
A “mulher” é ninguém menos do que Hillary Clinton, a ex-primeira-dama. A face da campanha de seu marido quando candidato foi definida, conta-se, no momento em que um assessor, numa dessas infindáveis discussões acerca de estratégias de campanha, gritou: “é a economia, estúpido!”.
Karl Marx talvez dissesse: “é sempre a economia, estúpidos!”. Para o filósofo alemão, a forma como os homens produzem e reproduzem a sua vida material é que determina sua vida social e espiritual. Noutras palavras, a questão econômica é com efeito, em última análise, o fator mais importante da existência humana, é o que determina as nossas idéias, além de nossas relações sociais e políticas. Outro pensador germânico, Max Weber, contesta o teórico do socialismo científico, afirmando que Marx não distingue o que é “rigorosamente econômico” daquilo que é “economicamente determinado” ou do que é simplesmente “economicamente relevante”. Digamos que Weber reconheceria a importância de aspectos econômicos na invasão americana no Iraque, por exemplo. Porém, ele não admitiria o fato de que aquele conflito seja “essencialmente econômico” ou que todas as suas facetas se resumiriam, em última instância, a interesses de caráter material.
Tudo isso para dizer que, não obstante o momento crítico da economia dos Estados Unidos, o que se percebe da peleja dos senadores Obama e Hillary é a entrada em cena de outros valores, que trazem à baila, evidentemente, a questão feminina e racial. Nenhum dos dois parece abraçar causas, por motivos óbvios da política; mas todo mundo sabe que o grande interesse por essas prévias é o ineditismo da situação: pelo menos um dos candidatos será de características nunca antes – diretamente - representadas na corrida presidencial daquele país.
Como dizia o Barão de Itararé, “de onde menos se espera é que não vem nada mesmo”. A pendenga americana, já nessa fase de prévia, poderia estar debatendo profundamente a questão econômica, dados os riscos de recessão e os indicadores de crise que se observam naquele país. Mas não está.
Por enquanto a disputa está bem divertida do lado democrata. Confirmado o nome de um dos dois, certamente o tema da economia vai entrar em campo com toda força. De todo modo, ficará sempre a lembrança da importância da corrida presidencial de 2008, pelo componente cultural que as pré-candidaturas de Barack Obama e Hillary Clinton trouxeram para o cenário político americano, cujas nuances devem influenciar todo o mundo. Quem sabe aqui no Brasil não tenhamos um negro ou uma mulher com chances efetivas de “levar” o Planalto em 2010?
Não é sobre liberdade (e eles sabem disso)
Há 5 semanas
Nenhum comentário:
Postar um comentário