E os campeonatos estaduais de futebol chegam à reta final!
Campeonato estadual! Que eu saiba, somente no Brasil há tal excrescência. Sei que quem argumenta favoravelmente à competição dirá que este é um país de dimensões continentais e que o povo é apaixonado pelo esporte bretão, o que justificaria o interesse por tal tipo de disputa. Isso pode ter feito sentido alguns anos atrás; mas parece totalmente sem cabimento hoje em dia, quando há uma grande profissionalização do esporte, um campeonato nacional forte e relativamente bem organizado, uma série B do nacional que tem – graças ao Palmeiras, Botafogo, Grêmio, Atlético Mineiro – despertado cada vez mais interesse, além de uma disputa no sistema de copa que concede uma vaga (o caminho mais curto) para a Taça Libertadores.
É muito difícil entender o interesse de são-paulinos e de santistas, por exemplo, pelo campeonato paulista, quando o time do coração está disputando a competição sul-americana. E como fica se, num jogo do “paulistão”, um craque se contunde e fica de fora da Libertadores? Incompreensível de algum modo também a preocupação de corintianos anterior à desclassificação do clube na pendenga estadual, quando deveriam antes estar se preparando para enfrentar de forma altiva a segunda divisão nacional – a não ser que eles vissem no Paulista-2008 uma espécie de “prêmio de consolação”.
Não deixa de ser estranho também o modo de agir dos jogadores. Até mesmo craques que já atuaram no exterior parecem levar a sério a monumental babaquice que se chama campeonato estadual. Será que tais jogadores não se perguntam por que na Itália, por exemplo, não há campeonato calabrês de futebol, digamos? O duro é ver hoje jogadores se desdobrando no campeonato estadual, brigando com adversários, xingando juízes, dando entrevistas suados, para amanhã saírem por aí criticando o calendário, o excesso de jogos e a falta de organização de nosso futebol. Muitos, aliás, usarão esses argumentos para justificar a sua saída do país, quando for o caso.
Mas, antes de se criticar os torcedores e os jogadores, talvez conviesse lembrar do interesse da televisão nesse tipo de evento. Eles pagam um bom dinheiro para retransmitir os jogos de uma competição como o Campeonato Paulista. A idéia é a de, claramente, ter algo de esportes para sua grade de programação até o início do Campeonato Brasileiro. Os torcedores, incautamente, vão na onda, e de tanto falar no assunto, acabam transformando o campeonato em algo que se apresenta de interesse geral. Bom para toda a mídia que capitaliza em cima disso.
Alguns talvez invertam a premissa e digam que a televisão e toda a mídia só dão bola para os campeonatos estaduais porque o público gosta deles. Por trás de tal afirmação, há a crença de que as pessoas têm vontade própria e têm seu direito de escolha. E se elas optam por morrer de amores pelos tradicionais campeonatos estaduais, a mídia, ao propagá-los, apenas faz seu papel, que é o de atender ao interesse público.
Isso lembra o “teorema de Tostines”: “vende mais porque está sempre fresquinho, ou está sempre fresquinho porque vende mais?”. A questão é: o público gosta dos campeonatos estaduais porque a mídia (especialmente a televisão) faz um grande carnaval em cima, ou a mídia só faz a festa porque o público gosta de estaduais como o Paulistão, por exemplo?
É polêmico e é difícil dizer quem tem razão. Mas, de qualquer forma, segue um pequeno relato verdadeiro que talvez indique o que o autor destas maldigitadas pensa sobre a questão: dia desses, uma colega de trabalho contou que o longevo programa Globo Repórter fez uma matéria acerca das maravilhas da aveia para a saúde. No dia seguinte, o esposo dela dirigiu-se ao supermercado para comprar um pouco do “milagroso” produto. Ele voltou para casa decepcionado: não havia sequer uma lata para contar história!
Não é sobre liberdade (e eles sabem disso)
Há 5 semanas
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