Não adianta a perda de credibilidade e não adianta o avanço de mídias alternativas: os colunistas da velha imprensa tradicional sempre vão se considerar “formadores de opinião”. Por isso é sempre bom ficar atento às entrelinhas do que falam e escrevem.
Na coluna de 02-04-2008, publicada no Folha On Line, Cantanhêde insinua que o imbróglio do suposto dossiê das tapiocas de FHC poderia ter o objetivo de minar as possibilidades de a ministra Dilma Roussef ser candidata à sucessão de Lula. Isso eu também acho. Só que a colunista da Folha parece achar que tudo não passa de uma espécie de conspiração “oficial” que, no fundo, quer emplacar a idéia de um terceiro mandato para o atual presidente. Ou seja, o tapete da comandante da Casa Civil está sendo puxado por gente de dentro do próprio governo, que quer garantir mais uma reeleição para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Já tivemos oportunidade de falar sobre a tese do terceiro mandato de Lula (leia abaixo*). Em verdade, tal questão somente ganha espaço por conta do desempenho do atual presidente. Suponhamos que se conseguisse “facilitar a idéia do ponto de vista político”, e suponhamos que se conseguisse também “viabilizá-la do ponto de vista legal”: se o governo estivesse indo mal a tese certamente não incomodaria ninguém. Ao contrário, seria ainda mais divertido para a oposição derrotar nas urnas o presidente que, em um dado momento, mostrou-se imbatível.
Mas há outra questão que parece preocupar a Eliane (e que segundo ela ajudaria a fortalecer a tese do terceiro mandato): é a “desconstrução” do candidato mais forte da oposição para 2010, o governador de São Paulo, José Serra. A destruição da candidatura tucana, segundo a colunista, não é capitaneada por Lula, pelo governo ou pelo PT, mas pelo próprio PSDB.
Se a própria colunista admite a dificuldade e a inviabilidade de prosperar a tese do terceiro mandato, por que cargas d’água nos manda ficar espertos com esse “risco”? Creio que no fundo o recado dela era outro: “fiquem espertos, meus amigos do PSDB, não adianta querer apenas arrasar os candidatos da preferência de Lula; é preciso antes investir no próprio candidato, de preferência, naquele que apresenta mais chances”.
A jornalista poderia ter feito menos rodeios. Quem sabe não seria mais fácil formar opiniões assim?
Ah, só lembrando: ainda estamos em abril de 2008!
*Leia abaixo texto publicado originalmente no blog veritas:
24.11.07
Ouvi de TERCEIROS
A polêmica de um terceiro mandato para o presidente Lula pode-se dizer que já é antiga. Ouve-se falar disso desde a corrida eleitoral de 2006. Não nasceu da boca do presidente ou dos seus correligionários, mas sim daquele grupo coeso formado de um lado por alguns políticos de oposição, e de outro, por setores da mídia.
Ouvi de TERCEIROS
A polêmica de um terceiro mandato para o presidente Lula pode-se dizer que já é antiga. Ouve-se falar disso desde a corrida eleitoral de 2006. Não nasceu da boca do presidente ou dos seus correligionários, mas sim daquele grupo coeso formado de um lado por alguns políticos de oposição, e de outro, por setores da mídia.
Alguns vêem nisso uma espécie de conspiração: se os índices de popularidade do presidente persistirem, a tentação de querer mudar a Constituição para um eventual terceiro mandato consecutivo será muito grande, e se isso ocorrer, os opositores de Lula poderão dizer que estavam certos, que o presidente brasileiro é a versão local de Chávez, ou que ele é um protoditador, um oportunista etc.
É bom que ninguém se esqueça que esse assunto só tem vez no Brasil porque há um precedente importantíssimo: se Lula um dia vier a acenar com tal possibilidade, não estará fazendo nada de diferente do que FHC fez em 1997. No fundo, os que expressam tal possibilidade são os mesmos que acreditam que o governo Lula é uma mera continuação do de seu antecessor, além de um imitador de seus fundamentos. É claro que não podem admiti-lo, mas ao temerem o terceiro mandato de Lula, reconhecem o casuísmo de coloração golpista da reeleição do ex-presidente. E se o atual presidente, para consegui-lo, vier a “comprar” um ou outro deputado, maravilha: o ato se mostrará completo.
Mas, salvo engano, estamos em 2007. Faltam, portanto, três anos para a eleição do novo presidente da República. É preciso ter muita esperança nos rumos do governo para acreditar que Luiz Inácio Lula da Silva chegará tão forte em 2010. O mundo da política é muito dinâmico: Lula elegeu-se de forma esmagadora em 2006, mas um ano antes, no momento nevrálgico da crise do mensalão, dizia-se que ele iria “sangrar até morrer”, e mesmo um tempo depois, com o pior da crise já superado, houve senador do bloco de oposição que falou que, assim mesmo, “o presidente levaria uma surra”, nas urnas, claro! (A propósito, é muito interessante – e triste - que o discurso oposicionista seja tão povoado de imagens de violência: “surra”, “sangrar até morrer”...). Tal situação deixa este blog numa encruzilhada paradoxal: somos totalmente contrários à tese do terceiro mandato e consideramos que o assunto foi arte da imprensa sem pauta e da oposição sem projeto; mas, em contrapartida, torcemos para que as condições que permitem que esse tópico seja aventado continuem vigorando no Brasil. Afinal, alguém da oposição estaria se importando se Lula realmente quisesse um terceiro mandato, mas aparecesse envolto numa crise que o estivesse “sangrando”?
Parece, no entanto, que já houve deputado da base governista pondo lenha na fogueira do "Lula III". Pode ser uma mera estratégia de quem queira deixar o assunto em pauta, tendo em vista que ele, conforme exposto acima, pode fazer parte de um turbilhão que confirma a razoabilidade do governo. Por outro lado, pode ser alguém que se encantou com tal possibilidade e acabou “mordendo a isca”, deixando-se levar por tema tão despropositado. A segunda hipótese, se confirmada, apenas provará que o arsenal de “alopragem” do PT e da base aliada ainda não foi de todo utilizado.
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