domingo, 13 de abril de 2008

Megabazar

Foi um sucesso o bazar, realizado em São Paulo, com produtos que pertenceram ao megatraficante Juan Carlos Abadía. Houve tumultos, filas, intervenção da polícia.

Um colega de trabalho sugeriu que a “loucura” que se verificou no evento poderia trazer algo de fetichista: as pessoas compravam as mercadorias não somente pelo seu baixo preço ou por sua possível utilidade, mas porque seria bacana ter em casa algo que pertenceu a uma pessoa “importante”. O mesmo colega não descartou a hipótese de que pudesse também haver por lá alguns “exploradores do fetichismo alheio”, ou seja, pessoas que adquiririam os bens a preço baixo e que, posteriormente, o venderiam bem caro sob a alegação de que “pertenceram ao Abadía”.

Uma outra colega reprovou a procura e a grande divulgação do evento, lembrando que isso poderia trazer uma mensagem subliminar do tipo “o Abadía é legal”, ou “é bacana ter as coisas que pertenceram a ele”, sem questionar como ele as conseguiu e a custa de quê (e de quem).

Eu, particularmente, acho que as pessoas correram ao Jockey Club de São Paulo por um motivo bastante prosaico: o preço era ótimo, e elas tinham certeza de que os produtos eram bons. Parece estar arraigada na nossa cultura a idéia de que figuras como o Sr. Abadía é que sabem viver, que curtem a vida com o bom e o melhor. A idéia mais ou menos geral é que um sujeito desses é um bon vivant e certamente realizava os sonhos de consumo que a maioria dos brasileiros mortais não pode realizar.

Como prova (frágil) do que acabo de expor no parágrafo anterior, considero o fato de o evento ter atraído pessoas de outras cidades e, principalmente, a tristeza e frustração que se abateram sobre os que não conseguiram entrar. Ora, a cidade de São Paulo é certamente um dos melhores lugares do mundo para os que gostam de comprar artigos usados: sebos, brechós, antiquários há aos borbotões! Muitos deles, aliás, com preços muito bons; e para os fetichistas, há até a possibilidade de alguns itens terem pertencido a gente importante, embora sem saber quem. “Ora”, dirá o amigo leitor, “mas a graça do fetiche está exatamente em se saber a que ‘personalidade’ pertenceu a quinquilharia”! De todo modo, se a intenção fosse apenas a de adquirir coisas boas usadas a preços razoáveis, por que não aproveitar os diversos outros pontos que a cidade de São Paulo oferece?

E o que havia lá era tudo fruto de atividade ilegal. Ironicamente, o crime compensou para os que puderam comprar coisas bacanas a um preço bem baratinho!

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