O senador democrata José Agripino Maia deve ser grande entusiasta das idéias do filósofo Immanuel Kant (1724-1804). Nesta semana, Agripino sugeriu que a ministra Dilma Roussef pode ter mentido em relação ao dossiê das tapiocas do ex-presidente FHC, baseado no fato de que ela mentira para os seus torturadores durante o período do regime militar.
Na sua Crítica da razão prática, Kant lança os "imperativos categóricos", os quais devem ter exercido grande influência sobre a vida e o modo de pensar do senador potiguar. O imperativo categórico desvincula-se de qualquer condição. Sua formulação é a seguinte: “age de tal maneira que o motivo que te levou a agir possa ser convertido em lei universal”. Ora, diria Agripino, se a ministra mentiu sob tortura para aqueles que tentavam lhe tirar a verdade à força, certamente que mente em quaisquer circunstâncias. E a decepção do senador talvez seja ainda maior pelo fato de a titular da Casa Civil não ter, ela mesma, buscado universalizar seu ato e conseqüentemente ter chegado à conclusão que o fato de ela mentir poderia deixar todo mundo sob suspeita, pois se alguém acha que mentir pode ser desculpável em certas situações, forçoso será concluir que não se pode confiar em ninguém.
O filósofo prussiano certamente não merece simplificação tão grosseira; e é certo também que o imperativo categórico é digno de críticas e é posto em xeque em qualquer sociedade complexa que se imagine.
Agripino Maia é, provavelmente, um “deontologista”, ou seja, considera a ética como um conjunto de normas definidas, e, desse modo, defende que, se uma família, na Alemanha sob o nazismo, escondesse judeus em casa, deveria entregá-los à Gestapo, caso a polícia fizesse uma busca na sua residência. O senador certamente não é adepto da concepção “conseqüencialista”, a qual não parte de regras morais, mas de objetivos. Para o conseqüencialismo, mentir, por exemplo, será mau em algumas circunstâncias e bom em outras, dependendo das conseqüências que o ato acarretar.
As idéias do parágrafo anterior são praticamente coladas do livro Ética prática, do filósofo australiano Peter Singer, o qual, por incrível que pareça, não deve ter sido lido pelo senador democrata nem por seus abnegados assessores e colaboradores. Aos que ficaram interessados, a editora é a Martins Fontes e o preço médio está na casa de 50 reais.
Não é sobre liberdade (e eles sabem disso)
Há 5 semanas
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