O presidente do Movimento dos Sem-Mídia, Eduardo Guimarães, no seu imperdível Cidadania.com, costuma mostrar-se decepcionado com o excesso de condescendência do presidente Lula e de seu governo com a desfaçatez da mídia tupiniquim. É bom que se diga, no entanto, que não é apenas a grande imprensa brasileira que comete desatinos e que tenta influenciar a vida política de forma muitas vezes nefasta: tal qualidade tem sido uma constante de toda a mídia latino-americana de que se tem notícia.
Mas sem dúvida o Eduardo e todos aqueles que com ele concordam ficariam contentes de ver a postura do presidente da Bolívia, Evo Morales. Na semana que antecedeu o polêmico referendo sobre a autonomia do Departamento de Santa Cruz, Morales concedeu uma entrevista à CNN en Español na qual disse com todas as letras, de forma destemida, que os meios de comunicação de seus país eram os seus principais opositores, fala praticamente impensável de sair da boca de seu colega brasileiro. Durante a entrevista, a própria apresentadora Patrícia Janiot ficou numa situação constrangedora, quando ao perguntar ao presidente boliviano se não seria uma provocação ter realizado nacionalizações de empresas justamente naquela semana, teve que ouvir do ex-cocaleiro que aquele tipo de indagação a aproximava de seus opositores, afinal, como se sabe, o 1º de maio foi a data escolhida para aquelas iniciativas meramente por conta de seu caráter simbólico (a ocupação das refinarias da Petrobras, por exemplo, deu-se na mesma data em 2006). No dia do referendo, em entrevista coletiva, o presidente Evo Morales voltou a falar da influência negativa da imprensa, mais notadamente a de Santa Cruz, para o desenvolvimento da Bolívia.
Uma reflexão possível é a de que se há uma integração na América do Sul é a dos principais meios de comunicação em defesa das políticas de direita, do combate aos governos populares da região e em prol das elites e oligarquias, que, não por acaso, são as mesmas que deram ao mundo justamente os controladores de tais meios. Por outro lado, a integração dos governos da região, ainda que próximos no campo ideológico, não parece ser tão forte do ponto de vista prático, presos que estão aos seus pragmatismos.
Não se trata, pois, de mera retórica ou de teorias superficiais as afirmações de que a direita se marca pela união de interesses e pelo discurso bem afinado, enquanto a esquerda é desunida, dotada de diagnósticos diversos e de propostas contraditórias entre si. Vê-se isso claramente ao analisar as práticas dos governos de esquerda na região, as quais muitas vezes ganham características de embate, e ao dar uma leitura nalguns dos principais jornais da região, sempre de postura editorial crítica a esses mesmos governos e de defesa da auto-regulação do mercado, de menos intervencionismo nos negócios, de aproximação com os Estados Unidos etc.
Um bom sinal, no entanto, é que o baronato da mídia - apesar de algumas importantes exceções, como o próprio caso do tal referendo de Santa Cruz - parece ter cada vez menos influência sobre os eleitores da região. É importante que continue assim.
Não é sobre liberdade (e eles sabem disso)
Há 5 semanas
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