sábado, 17 de janeiro de 2009

Poder? Que poder?

O cientista político Wanderley Guilherme dos Santos afirmou algum tempo atrás que o único poder que restava à mídia era o de deflagrar crises – contra o Governo Federal, acrescentamos. E ela bem que vem tentando: é uma atrás da outra (caso TAM, caso Renan, caso dossiê etc.). Agora há uma um pouco mais palpável, a famigerada crise econômico-financeira internacional. Não obstante o Brasil venha apresentando desde o início robustas chances de ser um dos países menos tendentes a sofrer com a turbulência internacional, a mídia tem estado num alvoroço danado no aguardo de uma deterioração da saúde da economia brasileira. Mas por que tudo isso? Ora, é a chance da vida, afinal ‘é a economia, estúpido’! Só assim para o governo Lula levar uma rasteira de verdade, é o que devem pensar eles.

Nesta semana já se fez muito barulho, em praticamente todo os noticiosos, por conta da demissão de trabalhadores temporários da General Motors, embora todo mundo no fundo soubesse que a onda de crescimento da indústria automobilística um dia teria um fim. E o diário O Estado de São Paulo, de forma exclusiva, veio antecipando extra-oficialmente, na segunda-feira, informação que dá conta de que o fechamento de vagas em dezembro de 2008 foi próximo ao dobro da média histórica para o mês. O jornalão, na sua chamada de primeira página, chamou o resultado daquele mês de “desastre”, apesar de ele não estar confirmado até aquela data. Mas há, parece-nos, dois problemas: primeiramente, seria necessário esperar a divulgação oficial dos dados e verificar o seu real contexto; em segundo lugar, o juízo de valor, na forma de uma metáfora (desastre), não parece medida adequada para uma chamada de notícia de primeira página. Mas sejamos curtos e diretos: o centenário jornal paulistano simplesmente não conseguiu disfarçar o contentamento pelo eventual mau resultado do emprego no último mês do ano passado.

Na disputa política, a tese do “quanto pior melhor” é sempre muito cara a qualquer oposição. Quem está de fora vê aumentarem as suas chances de conquistar ou retomar o poder somente quando quem está na situação aparece enterrado em problemas. Não deverá causar estranheza, pois, se o ex-PFL e o PSDB estourarem fogos com um possível recrudescimento da crise em terras brasileiras. Sintomático, todavia, é o comportamento da imprensa, aparentemente mais atuante na torcida pela decadência do governo petista do que as agremiações políticas organizadas. Forçoso é concluir que a mídia age como partido político. Mas, se a democracia brasileira é do tipo representativa, ou seja, caracterizada pela escolha de representantes através de voto direto, que atuam em nome da sociedade cujos membros os sufragaram, fica difícil enquadrar o papel midiático nesse processo. A mídia não foi eleita para nada! De qualquer modo, ela julga-se representante talvez da classe média tradicional dos grandes centros urbanos, e mesmo assim de forma incompleta. Mas apesar da indigência dessa condição dos meios de comunicação, os partidos de oposição no Brasil, destituídos de projetos e impotentes diante da popularidade do presidente Lula, aceitam docilmente a posição de meros coadjuvantes do processo, não obstante sejam mais dotados de legitimidade política para liderá-lo.

Luiz Carlos Azenha, do imperdível Vi o Mundo, disse que a direita é capaz de quebrar o país para tentar retomar o poder. Eduardo Guimarães, do ótimo Cidadania.com, em memorável artigo afirmou ter ficado com medo quando percebeu que os donos de jornais são capazes de incentivar uma crise - que fatalmente os afetará também - só para ver José Serra levar a presidência da República. Com efeito, é muita insanidade da meia dúzia de famílias que querem de qualquer jeito impor suas vontades ao Brasil, não acham?

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