Tem-se aqui um Sérgio Mendes que ainda não merece ser catalogado como easy listening, antes merecendo com toda a pompa a categorização de samba-jazz – e mais jazzy do que samba, diga-se.
Com perdão do trocadilho para lá de infame, mas quem dá o “tom” do disco é o maestro Jobim: ele assina alguns dos arranjos e tem cinco clássicos do seu repertório interpretados por Sérgio Mendes e uma turminha que contava com nomes como Raul de Souza, Edison Machado e Hector Costita.
Como já foi dito alhures acerca dos grupos de samba-jazz ou bossa instrumental, é um tanto maçante a mania que eles tinham de sempre gravar as mesmas músicas. É certo que só dizemos isso sob o olhar privilegiado do tempo – talvez na época fosse divertido ficar comparando e avaliando quem melhor interpretava “Garota de Ipanema”, por exemplo. Mas a verdade é que o melhor deste álbum de 1964 está justamente no que foge do lugar-comum: há duas composições de Moacir Santos (apesar de que uma delas é a famigerada Nanã, regravada ad nauseam, mas não por acaso aqui numa de suas mais perfeitas versões), há duas maravilhas da própria pena de Mendes (com destaque para a excepcional “Primitivo”), e encerra o disco uma composição de J.T. Meirelles, a emblemática “Neurótico”. Essa metade é boa demais para nos deixar abater com a possível irritação advinda dos primeiros acordes reconhecíveis de uma manjada “Corcovado”, por exemplo.
Mas não gostaria que o leitor pensasse que as canções de Antonio Carlos Jobim presentes no disco não sejam dignas de apreço. Longe disso! Estão ótimas sob belos arranjos (bem jazzísticos, reforcemos) e tocadas com garra. Mas é que os meus (poucos) neurônios se sentem mais agradavelmente atingidos pela estranheza de uma “Coisa nº 2”, de Moacir, ou pela modernidade sambista de “Nôa Nôa”, do próprio Sérgio. Só isso.
Não é sobre liberdade (e eles sabem disso)
Há 5 semanas
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