O Fórum Social Mundial, que ocorre em Belém neste ano de 2009, está tendo uma espécie de edição da desforra: depois de anos sendo considerado um evento de utópicos, retrógrados, românticos, bichos-grilo e outros adjetivos menos simpáticos, o FSM aparece agora como o espaço que durante muito tempo desferiu não apenas críticas ao pensamento hegemônico, mas também como um lugar que apresentou soluções aos diversos problemas mundiais.
Já dissemos noutros momentos que os discursos não mudam, mas dependendo de quem os profere, ou da situação na qual o fazem, eles podem ser recebidos das mais diversas formas. O leitor mais assíduo decerto que se lembra de nossa estranheza com o fato de as bolsas de valores terem subido com as palavras de um já eleito Barack Obama, que se declarava disposto até a quebrar o orçamento para fazer a roda da economia voltar a girar, o que seria uma heresia numa era em que se acostumou a tratar a responsabilidade fiscal quase como um dogma. O mesmo fiel leitor – se é que ele existe! – também se recordará de nosso espanto com o fato de altas autoridades mundo afora ganharem espaço na mídia, no auge da crise internacional de alimentos, acusando os biocombustíves pela escassez e conseqüente encarecimento de comestíveis, mais ou menos um ano depois de Fidel e Chávez terem sido ridicularizados por dizer o mesmo.
No caso do Fórum Social Mundial, as afirmações de que o estado deveria ter um papel mais relevante em todos os países, de que não se poderia deixar as coisas à mercê do mercado, de que alguma regulamentação era necessária e de que a questão ambiental não merecia ser deixada de lado eram vistas como mera retórica tipicamente esquerdista. Hoje, o papo dos “caipiras” e “neobobos” (como diria o ex-presidente FHC) está até no esvaziado Fórum Econômico Mundial, que ocorre em Davos, concomitantemente ao FSM.
A esperança de todos é que a crise econômico-financeira internacional seja solucionada. (Nem de todos: a oposição brasileira, tanto a política quanto a midiática, querem ver o circo pegar fogo no Brasil). Mas isso ocorrendo, não se deve permitir o retrocesso aos desvarios neoliberais. Para tanto, os recados de fóruns como este que está ocorrendo no Pará devem ser cada vez mais contundentes e não podem esmorecer nunca.
Não é sobre liberdade (e eles sabem disso)
Há 5 semanas
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